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    Bailarinas americanas renovam luta por sapatilhas de todas as cores

    No balé, as sapatilhas de ponta devem ser uma extensão das linhas do bailarino criando a ilusão de comprimento que vai da cabeça aos pés.

    Bailarina com uma sapatilha tingida com maquiagem e tinta para combinar com seu tom de pele.
    Bailarina com uma sapatilha tingida com maquiagem e tinta para combinar com seu tom de pele. PeopleImages/iStockphoto/Getty Images

    Kaitlyn Schwanemannda CNN

    Embora Robin Williams seja uma bailarina há mais de 60 anos, ela vivenciou algo inédito durante sua apresentação de “O Quebra-Nozes” em dezembro deste ano.

    Williams relatou que, ao dançar a “Dança da Fada Açucarada”, foi a primeira vez que não precisou passar tinta ou base nas sapatilhas de ponta cor-de-rosa para que combinassem com sua pele.

    A prática, conhecida na comunidade da dança como “pancaking”, tornou-se um ritual meticuloso para dançarinos negros, pois o traje tradicional de balé é projetado para combinar com tons de pele claros.

    Apesar da diversificação e mudanças no balé ao longo das décadas, muitas bailarinos negros ainda enfrentam dificuldades para encontrar sapatilhas de ponta e collants que combinem com sua tonalidade de pele.

    Williams afirmou que o mês passado marcou a primeira vez, em seis décadas de dança, que conseguiu comprar sapatilhas de ponta marrons completas, com fitas e elásticos tingidos.

    Ela disse que não conseguiria imaginar comprar sapatilhas de ponta marrons quando começou sua carreira nos anos 1960, pois era a única bailarina negra em sua companhia.

    “Não éramos aceitos em aulas de balé, e havia poucos coreógrafos”, disse ela, acrescentando que, enquanto sua presença se destacava, o mesmo acontecia com seu traje.

    “Minha professora mencionou que estávamos usando collants cor-de-rosa porque os collants e as sapatilhas deveriam combinar com o tom da nossa pele”, lembrou Williams. “Eu pensei sobre isso após sua fala, ‘Bem, nossa pele não é cor-de-rosa’. E nunca me esqueci disso.”

    No balé, as sapatilhas de ponta devem ser uma extensão das linhas do bailarino, ou a ilusão de comprimento que vai da cabeça aos pés.

    Na pele negra, as tradicionais sapatilhas de ponta cor-de-rosa europeias quebram essas linhas no tornozelo, criando uma desarmonia quando o efeito desejado é a elegância.

    O balé também é tradicionalmente uniforme, levando alguns diretores de companhias a fazerem dançarinas negras usarem collants cor-de-rosa para se misturar com a companhia predominantemente branca.

    Embora algumas marcas de roupas de dança tenham começado a vender variedades de tons de sapatilhas de ponta em 2020, muitas bailarinas negras ainda realizam o “pancaking” em suas sapatilhas.

    Em um recente TikTok que recebeu mais de 1 milhão de curtidas, Misty Copeland, a primeira dançarina principal negra do American Ballet Theatre, mostrou como ela tingia um par de sapatilhas de ponta cor-de-rosa com uma esponja e uma maquiagem de farmácia.

    Apesar de sua fama, Copeland explicou que a falta de sapatilhas de balé que combinem com seu tom de pele a faz sentir-se excluída.

    Em setembro, ela iniciou uma petição chamada “Let’s Make a Pointe!” para incentivar a Apple a oferecer diferentes tons para seu emoji de sapatilha de ponta, escrevendo que a falta de correspondência de tons no emoji – e na vida real – era um “lembrete constante das maneiras sutis como os dançarinos negros não foram incluídos.”

    Bailarinas negras tingem as tradicionais sapatilhas de ponta cor-de-rosa europeias.
    Bailarinas negras tingem as tradicionais sapatilhas de ponta cor-de-rosa europeias. / Acervo/Cortney Taylor Key

    Cortney Taylor Key, uma bailarina negra e professora na Fundação Misty Copeland, disse à CNN que estudou balé na Escola de Artes da Universidade da Carolina do Norte e dançou com collants cor-de-rosa.

    “Eu ainda não tinha acordado”, disse Taylor Key. “Foi só depois de me formar que ousei ir a Nova York e ao Dance Theatre of Harlem, onde vi [collants de diferentes tons] e entendi.”

    O Dance Theatre of Harlem, conhecido como a primeira companhia clássica de balé negra, estreou collants de diferentes tons em 1974 sob a direção do fundador da companhia, Arthur Mitchell.

    “Não há dinheiro que me faça desrespeitar Arthur Mitchell” usando collants cor-de-rosa, disse Taylor Key. “Se dependesse de mim, eu queimaria todos os pares de collants cor-de-rosa que conseguisse, porque o cor-de-rosa europeu é uma tradição, e pode mudar.”

    Taylor Key disse que aprecia as novas opções de tons para sapatilhas de ponta e roupas de dança que algumas empresas disponibilizaram, mas para conseguir um melhor ajuste ao tom de sua pele, ainda tingia suas sapatilhas.

    “Aprendi o ‘pancaking’ com minhas irmãs do DTH em Harlem, de onde sou, e realmente para mim foi um rito de passagem, mas entendo que também é igualmente frustrante… ter que fazer isso, é tedioso”, disse ela.

    O processo pode levar várias horas, e o custo dos materiais se acumula. Sapatilhas de ponta, que geralmente custam mais de R$500, duram apenas cerca de 10 horas de dança, disse Taylor Key. A maquiagem faz as sapatilhas perderem a cor ou se desgastarem mais rápido, acrescentou ela.

    Devido ao custo de modificar as sapatilhas, Taylor Key disse que passou grande parte de sua carreira inicial dançando com “sapatilhas mortas”, prejudicando seu desempenho.

    No entanto, ela reconheceu que o campo avançou, mesmo que as opções de tons disponíveis sejam limitadas.

    Taylor Key disse que a petição de Copeland é “incrivelmente e extremamente necessária”.

    “É uma pena que ninguém tenha vindo antes dela, mas ela definitivamente merece, e o que ela está fazendo pela comunidade agora… Eu não poderia estar mais orgulhosa de estar trabalhando para a organização dela”, disse ela.

    Este conteúdo foi criado originalmente em Internacional.

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