Votação na ONU será termômetro do isolamento da Rússia, diz especialista
Recomendação que será votada no órgão tem mais um valor de recomendação do que uma vinculação jurídica
A votação na reunião emergencial da Assembleia-Geral da ONU sobre a guerra na Ucrânia nesta semana deverá servir como um “termômetro” sobre a posição da Rússia no cenário internacional, na avaliação do professor da UERJ, Mauricio Santoro.
Em entrevista à CNN nesta segunda-feira (28), ele afirmou que a recomendação que será votada no órgão tem mais um valor de recomendação do que uma vinculação jurídica, mas será importante do ponto de visto político e simbólico.
“Vai ser um termômetro de nível de isolamento internacional da Rússia. Só a Russia votou contra uma medida que a prejudicava no Conselho de Segurança, na Assembleia pode ter apoio de países como Belarus, Venezuela, Nicarágua, mas está em um nível muito acentuado de isolamento”, diz Santoro.
Além desse isolamento, o professor cita o impacto de novas sanções contra a Rússia, como a restrição de acesso do banco central russo a suas reservas no exterior. Segundo ele, “o efeito disso no curto prazo é algo muito próximo do colapso financeiro na Rússia”.
“Hoje tivemos uma corrida bancária no país, cidadãos russos indo até os bancos tentando sacar dinheiro para se precaver contra uma eventual falência bancária, queda brutal do valor do rublo, em uma baixa histórica”, diz.
A expectativa dele é que o país passe por uma inflação elevada, em um cenário já complicado pela pandemia de Covid-19 e pela própria guerra com a Ucrânia. Esse ambiente “pode se traduzir com muita facilidade em aumento de protestos contra o Putin, e já no fim de semana vimos manifestações expressivas contra a guerra”.
A guerra, afirma Santoro, mostra uma falha na ordem global dos últimos 30 anos, em que o Ocidente tentou incorporar países como China e Rússia a instituições internacionais.
“Essa aposta já vinha em crise há alguns anos diante de uma China e Rússia mais crítica ao Ocidente, contestando com mais forças as decisões dos EUA e União Europeia, e depois que a Rússia invadiu a Ucrânia, esse projeto geopolítico acabou”, diz.
Com a guerra, ele espera que surja um “novo arranjo” geopolítico, simbolizado pela guinada nas políticas de defesa na Europa, com a Alemanha aumentando gastos no setor, a Suécia e a Finlândia sinalizando uma possível adesão à Otan e a Suíça abrindo mão da sua neutralidade para aderir às sanções contra a Rússia.
“Talvez o fato mais importante dos últimos dias, olhando no longo prazo, seja a mudança de política de defesa da Alemanha. Uma Alemanha militarmente forte é até hoje um tema delicado, dentro da própria Alemanha e com vizinhos”, diz.