Vídeos mostram soldados israelenses queimando comida e vandalizando lojas em Gaza
Questionadas pela CNN sobre os vídeos, as Forças de Defesa de Israel disseram que os militares serão punidos
O soldado israelense olha diretamente para a câmera, depois se vira e incendeia uma pilha de alimentos, que estava dentro de um caminhão, em Gaza.
“Acendemos a luz neste lugar escuro e queimamos até que não haja nenhum vestígio de todo esse lugar”, diz ele enquanto outro soldado contribui para o fogo.
Os soldados dizem que estão em Shejaiya, um bairro da cidade de Gaza. Outro vídeo mostra militares queimando alimentos em um lugar onde a situação humanitária é gravíssima e as organizações internacionais alertam para o risco da população morrer de fome.
Este vídeo é apenas um dos vários que circulam na internet – que foram revisados pela CNN – que mostra soldados israelenses em Gaza se comportando de maneira ofensiva e desrespeitosa em relação à população civil.
Outras imagens mostram soldados saqueando casas, destruindo propriedades de civis e proferindo discurso de ódio.
Questionadas pela CNN sobre os vídeos, as Forças de Defesa de Israel não contestaram a sua veracidade, localização ou o envolvimento de soldados. O exército condenou o comportamento dos militares e disse não estar de acordo com as ações, acrescentando que eles serão punidos.
“As forças de Israel tomaram medidas e continuarão a agir para identificar a má conduta e comportamento que não se alinham com a moral e os valores esperados dos soldados”, afirmou em comunicado enviado à CNN.
Os vídeos, muitos deles publicados nas redes sociais, aparentemente pelos próprios soldados, estão aumentando o clamor internacional sobre a conduta das Forças de Defesa de Israel, à medida que a ofensiva militar contra o Hamas continua em Gaza.
Israel começou uma guerra após o ataque do Hamas em solo israelense, no dia 7 de outubro, quando mais de 1.200 pessoas foram mortas e cerca de 240 foram feitas reféns.
Desde o início da guerra, de acordo com o Ministério da Saúde administrado pelo Hamas em Gaza, 18.412 pessoas foram mortas em ataques israelenses.
Embora a CNN não possa verificar esse número de forma independente, as forças de Israel afirmaram ter atingido mais de 22 mil alvos em Gaza nas primeiras seis semanas da guerra.
Mesmo que o exército israelense afirme que não têm como alvo civis em Gaza, os vídeos mostram alguns de seus soldados desrespeitando as vidas dessas pessoas.
Em um outro vídeo, um soldado é visto vasculhando o guarda-roupa de uma mulher, inclusive suas roupas íntimas, fazendo comentários depreciativos e sexistas sobre as mulheres árabes.
Outra imagem mostra um soldado vandalizando uma loja no que ele diz ser Jabalya, uma cidade no norte de Gaza.
Um por um, ele pega os itens da loja, quebrando-os no chão e no balcão. A certa altura, ele pega duas bonecas da prateleira e quebra suas cabeças.
Em outros vídeos, soldados sorridentes são vistos destruindo carros civis com um veículo militar, andando de bicicleta infantil pelos escombros de um prédio destruído e zombando da falta de abastecimento de água em uma casa.
Uma foto mostra um militar parado ao lado de uma mensagem em hebraico, que foi pintada com spray num muro em Gaza que diz: “Em vez de apagar o graffiti, vamos apagar Gaza”.
Dror Sadot, da organização israelense de direitos humanos B’Tselem, disse que os vídeos são apenas um sintoma de um problema muito maior.
“É mais do que apenas desrespeito e desconsideração, é desumano”, disse ela à CNN. “E acho que não é surpreendente quando você ouve o que os políticos dizem sobre os palestinos em Gaza, sem diferenciar entre o Hamas e os civis”, acrescentou ela.
Sadot disse acreditar que a política das forças de Israel em relação a Gaza é de “vingança” pelo ataque do Hamas em 7 de outubro.
O choque da brutalidade do ataque reverberou em Israel, um país relativamente pequeno, com uma população de menos de 10 milhões. Muitos israelenses conhecem alguém que foi morto, que perdeu um parente ou amigo ou foi afetado de alguma outra forma.
“Como tem sido tão latente que Israel está realizando um ato de vingança sobre Gaza, não é uma surpresa que os soldados também estejam vindo em busca de vingança. Humilhar pessoas e propriedades, gravar esses vídeos”, disse ela.
A sociedade israelense ainda apoia esmagadoramente o exército e sua operação em Gaza, apesar do número crescente de mortes.
O general aposentado das Forças de Defesa de Israel, Ziv, disse à CNN que viu os vídeos e ficou tão perturbado com eles que procurou os comandantes do exército encarregados pelos soldados envolvidos.
“Me disseram que o comandante da brigada punirá aqueles que fizeram isso assim que pararem de lutar”, disse ele à CNN.
Em sua declaração à CNN, o exército disse que “serão tomadas medidas disciplinares em relação aos soldados envolvidos”.
Na quinta-feira (14), imagens mostraram soldados israelenses cantando orações judaicas nos alto-falantes de uma mesquita na cidade de Jenin, na Cisjordânia. O exército disse que havia removido os envolvidos da atividade operacional e que seriam punidos.
*Gianluca Mezzofiore, Abeer Salman, Alex Marquardt e Michael Conte contribuíram com reportagens