Vaticano diz que Francisco não exaltou czares russos, em frase criticada por ucranianos
Papa mencionou líderes que expandiram território russo para um enorme império nos séculos 17 e 18
O papa Francisco não pretendia glorificar o imperialismo russo quando exaltou os czares que expandiram o império russo, disse o Vaticano nesta terça-feira (29), após comentários da semana passada serem criticados pela Ucrânia, mas saudados pelo Kremlin.
Francisco disse a jovens russos, em comentários improvisados na sexta-feira (25), que se lembrassem de que são herdeiros de czares do passado, como Pedro 1º e Catarina 2ª.
Os dois monarcas, ambos referidos como “grandes” pelos historiadores, expandiram o território Russo para um enorme império nos séculos 17 e 18, incluindo partes da Ucrânia. O discurso do papa ocorre em meio a tentativa do presidente Vladimir Putin de invadir e anexar o território ucraniano.
“O papa pretendia encorajar os jovens a preservar e promover tudo o que há de positivo na grande herança cultural e espiritual russa, e certamente não exaltar a lógica imperialista e as personalidades governamentais, (que ele) mencionou para indicar alguns períodos históricos de referência”, disse o porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni, em um comunicado.
Francisco tinha afirmado: “Vocês são herdeiros da grande Rússia – a grande Rússia dos santos, dos reis, a grande Rússia de Pedro o Grande, de Catarina 2ª, o grande império russo, culto, tanta cultura, tanta humanidade. Vocês são os herdeiros da grande mãe Rússia. Vão em frente.”
Kiev classificou os comentários como “profundamente lamentáveis”.
“É precisamente com esta propaganda imperialista, os ‘laços espirituais’ e a ‘necessidade’ de salvar a ‘grande Mãe Rússia’ que o Kremlin justifica o assassinato de milhares de ucranianos e a destruição de cidades e aldeias ucranianas”, disse Oleg Nikolenko, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia, no Facebook.
O ex-presidente da Estônia Toomas Hendrik Ilves, cujo país foi conquistado pela Rússia sob Pedro 1º, classificou as falas do papa como “verdadeiramente revoltantes”, numa publicação no X, anteriormente conhecido como Twitter.
FOTOS – Imagens mostram a destruição da guerra entre Rússia e Ucrânia
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Veja imagens que mostram a destruição da guerra na Ucrânia após cerca de um ano e meio de conflito • 30/06/2023 REUTERS/Valentyn Ogirenko
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Vista mostra ponte Chonhar danificada após ataque de míssil ucraniano, em Kherson, Ucrânia • 22/06/2023Líder da região de Kherson Vladimir Saldo via Telegram/Handout via REUTERS
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Casas inundadas em bairro de Kherson, Ucrânia, quarta-feira, 7 de junho de 2023. • Felipe Dana/AP
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Prédio destruído em Mariupol, na Ucrânia • 14/04/2022 REUTERS/Pavel Klimov
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Área residencial inundada após o colapso da barragem de Nova Kakhovka na cidade de Hola Prystan, na região de Kherson, Ucrânia, controlada pela Rússia, em 8 de junho. • Alexander Ermochenko/Reuters
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Imagens de drone obtidas pelo The Wall Street Journal mostram soldado russo se rendendo a um drone ucraniano no campo de batalha de Bakhmut em maio. • The Wall Street Journal
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Vista aérea da cidade ucraniana de Bakhmut • Vista área da cidade ucraniana de Bakhmut em imagem de vídeo15/06/202393rd Kholodnyi Yar Brigade/Divulgação via REUTERS
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Socorristas trabalham em casa atingida por míssil, em Kramatorsk, Ucrânia • 14/06/2023Serviço de Imprensa do Serviço Estatal de Emergência da Ucrânia/Handout via REUTERS
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A cidade de Velyka Novosilka, na linha de frente, carrega as cicatrizes de um ano e meio de bombardeios. • Vasco Cotovio/CNN
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Crateras e foguetes não detonados são uma visão comum na cidade de Velyka Novosilka, que foi atacada pelas forças russas. • Vasco Cotovio/CNN
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Policial ucraniano dentro de cratera perto do edifício danificado por drone russo. • Reprodução/Reuters
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Rescaldo de um ataque de míssil russo na região de Zhytomyr • Bombeiros trabalham em área residencial após ataque de míssil russo na cidade de Zviahel, Ucrânia09/06/2023. Press service of the State Emergency Service of Ukraine in Zhytomyr region/Handout via REUTERS
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Danos à barragem de Nova Kakhovka, no sul da Ucrânia, são vistos em uma captura de tela de um vídeo de mídia social. • Telegram/@DDGeopolitics
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Vista da ponte destruída sobre o rio Donets • Lev Radin/Pacific Press/LightRocket via Getty Images
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Ataque com míssil mata criança de 2 anos e deixa 22 pessoas feridas na Ucrânia, diz governo • Ministério da Defesa da Ucrânia/Divulgação/Twitter
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Foto tirada por ucraniana após ataques com drones russos contra Kiev. Drones foram abatidos, mas destroços provocaram estragos. • Andre Luis Alves/Anadolu Agency via Getty Images
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Morador local de pé em frente a prédio residencial fortemente danificado durante o conflito Rússia-Ucrânia, no assentamento de Toshkivka, região de Luhansk, Ucrânia controlada pela Rússia • 24/03/2023REUTERS/Alexander Ermochenko
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Soldados ucranianos disparam artilharia na linha de frente de Donetsk em 24 de abril de 2023. • Muhammed Enes Yildirim/Agência Anadolu/Getty Images
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Ataque de mísseis russos atingem prédio residencial em Uman, na região central da Ucrânia • Reuters
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Vista aérea da cidade ucraniana de Bakhmut capturada via drone • 15/04/2023 Adam Tactic Group/Divulgação via REUTERS
O arcebispo Sviatoslav Shevchuk, chefe da Igreja Católica de Rito Oriental na Ucrânia leal ao papa, disse em comunicado que as palavras do pontífice causaram “grande dor e preocupação”.
No entanto, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, elogiou as declarações: “O pontífice conhece a história russa e isso é muito bom”, disse ele.
“O que o Estado (russo), os grupos ativistas, os professores das escolas e das universidades estão fazendo agora é levar esta herança aos nossos jovens, lembrando-lhes dela”, afirmou Peskov. “E o fato de o pontífice falar em uníssono com esses esforços é muito, muito gratificante”.
A embaixada do Vaticano em Kiev disse em comunicado que o papa era um “firme oponente e crítico de qualquer forma de imperialismo ou colonialismo” e rejeitou o que descreveu como “interpretações” midiáticas dos comentários do papa.
O papa Francisco tem criticado abertamente a invasão da Ucrânia pela Rússia, mas ocasionalmente irritou Kiev por comentários improvisados considerados como apoio à narrativa de Moscou.