Urânio em nível potencial para bomba nuclear é encontrado em usina no Irã, diz agência da ONU
Estoque de urânio enriquecido em até 60% do Irã também cresceu de 25,2 kg para 87,5 kg desde o último relatório trimestral, de acordo com o relatório confidencial da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA)
Partículas de urânio enriquecidas a níveis próximos de bombas foram encontradas em uma instalação nuclear iraniana, de acordo com o órgão de vigilância nuclear das Nações Unidas (ONU), enquanto os Estados Unidos alertavam que a capacidade de Teerã de construir uma bomba nuclear se acelera.
Em um relatório restrito visto pela CNN, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), com sede em Viena, confirmou que partículas de urânio enriquecidas com 83,7% de pureza — que é próximo aos níveis de enriquecimento de 90% necessários para fazer uma bomba nuclear – foram encontradas na Usina de Enriquecimento de Combustível Fordow do Irã, uma instalação nuclear subterrânea localizada a cerca de 32 quilômetros a Nordeste da cidade de Qom.
O relatório diz que, em janeiro, a AIEA coletou amostras ambientais na usina de Fordow, que mostraram a presença de partículas de urânio altamente enriquecido com até 83,7% de pureza.
A AIEA posteriormente informou ao Irã que essas descobertas eram “inconsistentes com o nível de enriquecimento na usina de Fordow conforme declarado pelo Irã e solicitou ao Irã que esclarecesse as origens dessas partículas”, acrescentou o relatório.
O estoque de urânio enriquecido em até 60% do Irã também cresceu de 25,2 kg para 87,5 kg desde o último relatório trimestral, de acordo com o relatório confidencial da AIEA.
O relatório da AIEA apontou que as discussões com o Irã para esclarecer o assunto estão em andamento, observando que “esses eventos indicam claramente a capacidade da AIEA de detectar e relatar mudanças na operação de instalações nucleares no Irã”.
Em uma entrevista exclusiva com Christiane Amanpour, da CNN, na terça-feira (28), o ministro das Relações Exteriores do Irã, Hossein Amir-Abdollahian, não respondeu diretamente a uma pergunta sobre os relatos do enriquecimento.
Amir-Abdollahian disse que o vice-diretor-geral da AIEA, Massimo Aparo, visitou o Irã em duas ocasiões nas últimas semanas e que o diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, foi convidado a visitar o país.
“Temos um roteiro com a AIEA. E em duas ocasiões, o Sr. [Massimo] Aparo, vice do Sr. [Rafael] Grossi, veio ao Irã nas últimas semanas, e tivemos negociações construtivas e produtivas. E também temos convite ao Sr. Grossi para visitar o Irã em breve”, disse Amir-Abdollahian à CNN. “Portanto, nosso relacionamento com a AIEA está em seu caminho correto e natural”.
No ano passado, o Irã removeu todos os equipamentos da AIEA instalados anteriormente para atividades de vigilância e monitoramento relacionadas ao acordo nuclear, formalmente conhecido como Plano de Ação Conjunto Abrangente (JCPOA, em inglês).
A medida teve “implicações prejudiciais para a capacidade da AIEA de garantir a natureza pacífica do programa nuclear do Irã”, afirmou o relatório da AIEA.
Um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA disse na terça-feira que o relatório da AIEA representa potencialmente um “desenvolvimento muito sério”.
“Estamos em contato próximo com nossos aliados e parceiros na Europa e na região enquanto aguardamos mais detalhes da AIEA sobre esse desenvolvimento potencialmente muito sério”, acrescentou o porta-voz.
O subsecretário de Defesa para Políticas, Colin Kahl, disse na terça-feira que “o progresso nuclear do Irã desde” que o governo Trump retirou os EUA do acordo nuclear de 2015 “foi notável”, acrescentando que em 2018, quando os EUA se retiraram, “teria levado ao Irã cerca de 12 meses para produzir um físsil, o equivalente a uma bomba de material físsil”.
“Agora levaria cerca de 12 dias”, disse ele.
Mais de um ano de negociações indiretas entre os EUA e o Irã para tentar restaurar o acordo nuclear de 2015 foram interrompidas em setembro de 2022. As tensões entre os dois países só pioraram após a repressão do Irã aos protestos nacionais e quando Teerã forneceu drones à Rússia para a guerra da Ucrânia.
Kahl disse na terça-feira que o acordo está “no gelo”.