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    Último parlamentar muçulmano deixa partido no poder na Índia

    Tensões religiosas têm aumentado nas últimas semanas, após comentários sobre o profeta Maomé feitos pelo, agora suspenso, porta-voz do BJP, Nupur Sharma

    Ministro de Estado para assuntos de minorias, Mukhtar Abbas Naqvi em sede do BJP, em 24 de maio de 2015 em Bhopal, Índia
    Ministro de Estado para assuntos de minorias, Mukhtar Abbas Naqvi em sede do BJP, em 24 de maio de 2015 em Bhopal, Índia Mujeeb Faruqui/Hindustan Times via Getty Images

    Rhea MogulSwati Guptada CNN

    O último legislador muçulmano remanescente no partido governante da Índia, Bharatiya Janata (BJP), renunciou, deixando o grupo sem um único representante da comunidade minoritária entre seus 395 membros do parlamento.

    O ministro das Relações com Minorias, Mukhtar Abbas Naqvi, deixou o cargo na quarta-feira (6), um dia antes do término de seu mandato. O Parlamento indiano tem quase 800 legisladores no total.

    “Meu trabalho no Rajya Sabha (Câmara Alta do Parlamento) acabou, mas meu trabalho político e social nunca terminará”, disse Naqvi ao canal de notícias local NDTV nesta quinta-feira (7), sem fornecer detalhes sobre por que ele não buscará a reeleição.

    A renúncia ocorre em um momento conturbado para as comunidades hindu e muçulmana da Índia. As tensões religiosas têm aumentado nas últimas semanas, após comentários sobre o profeta Maomé que foram amplamente condenados como islamofóbicos feitos pelo, agora suspenso, porta-voz do BJP, Nupur Sharma.

    Desde então, confrontos violentos e mortais eclodiram em partes do país entre hindus e muçulmanos – que representam, respectivamente, cerca de 80% e 14% da população de 1,3 bilhão de pessoas do país.

    As tensões atingiram um ponto crítico na semana passada após o assassinato de um alfaiate hindu, supostamente por dois homens muçulmanos.

    Com cerca de 200 milhões de muçulmanos na Índia, o país abriga a terceira maior população muçulmana do mundo, depois da Indonésia e do Paquistão.

    O primeiro-ministro Narendra Modi e o BJP chegaram ao poder em 2014 prometendo reformas e desenvolvimento econômico, mas os críticos temiam que sua ascensão pudesse sinalizar uma mudança ideológica dos fundamentos políticos seculares do país para os de um Estado nacionalista hindu.

    O BJP tem suas raízes no Rashtriya Swayamsevak Sangh, um grupo hindu de direita que tem Modi entre seus membros e adere à ideologia Hindutva, que busca definir a cultura indiana de acordo com os valores hindus.

    Desde então, o partido no poder tem sido repetidamente acusado por grupos de direitos humanos, ativistas e oposição de estimular o sentimento antimuçulmano.

    Nos últimos oito anos, vários estados administrados pelo BJP impuseram leis que os críticos dizem estar enraizadas na ideologia Hindutva. Ao mesmo tempo, relatos de violência e discursos de ódio contra muçulmanos chegaram às manchetes em todo o país.

    Algumas das novas leis mais controversas estão no estado de Uttar Pradesh, no norte, governado pelo monge hindu que se tornou político Yogi Adityanath. O estado introduziu regras para proteger as vacas, um animal considerado sagrado para os hindus, do abate, e tornou cada vez mais difícil o transporte de gado. Também introduziu um projeto de lei “anticonversão”, que dificulta o casamento de casais inter-religiosos ou a conversão de pessoas ao islamismo ou ao cristianismo.

    No início deste ano, o estado de Karnataka, no sul, também governado pelo BJP, proibiu as meninas muçulmanas de usarem véus religiosos nas salas de aula, levando várias delas a contestar a decisão no tribunal superior do estado – uma batalha que acabaram perdendo.

    No mês passado, a Índia se esforçou para conter as consequências diplomáticas, já que pelo menos 15 países de maioria muçulmana condenaram os comentários de Sharma sobre o profeta Maomé. O incidente provocou estresse com os principais parceiros comerciais árabes da Índia e apelos de todo o Golfo para boicotar os produtos indianos.

    Em resposta, o BJP disse em seu site que o partido respeita todas as religiões.

    “O BJP denuncia veementemente o insulto a qualquer personalidade religiosa de qualquer religião”, escreveu.

    Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.

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