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    Último parlamentar muçulmano deixa partido no poder na Índia

    Tensões religiosas têm aumentado nas últimas semanas, após comentários sobre o profeta Maomé feitos pelo, agora suspenso, porta-voz do BJP, Nupur Sharma

    Rhea MogulSwati Guptada CNN

    O último legislador muçulmano remanescente no partido governante da Índia, Bharatiya Janata (BJP), renunciou, deixando o grupo sem um único representante da comunidade minoritária entre seus 395 membros do parlamento.

    O ministro das Relações com Minorias, Mukhtar Abbas Naqvi, deixou o cargo na quarta-feira (6), um dia antes do término de seu mandato. O Parlamento indiano tem quase 800 legisladores no total.

    “Meu trabalho no Rajya Sabha (Câmara Alta do Parlamento) acabou, mas meu trabalho político e social nunca terminará”, disse Naqvi ao canal de notícias local NDTV nesta quinta-feira (7), sem fornecer detalhes sobre por que ele não buscará a reeleição.

    A renúncia ocorre em um momento conturbado para as comunidades hindu e muçulmana da Índia. As tensões religiosas têm aumentado nas últimas semanas, após comentários sobre o profeta Maomé que foram amplamente condenados como islamofóbicos feitos pelo, agora suspenso, porta-voz do BJP, Nupur Sharma.

    Desde então, confrontos violentos e mortais eclodiram em partes do país entre hindus e muçulmanos – que representam, respectivamente, cerca de 80% e 14% da população de 1,3 bilhão de pessoas do país.

    As tensões atingiram um ponto crítico na semana passada após o assassinato de um alfaiate hindu, supostamente por dois homens muçulmanos.

    Com cerca de 200 milhões de muçulmanos na Índia, o país abriga a terceira maior população muçulmana do mundo, depois da Indonésia e do Paquistão.

    O primeiro-ministro Narendra Modi e o BJP chegaram ao poder em 2014 prometendo reformas e desenvolvimento econômico, mas os críticos temiam que sua ascensão pudesse sinalizar uma mudança ideológica dos fundamentos políticos seculares do país para os de um Estado nacionalista hindu.

    O BJP tem suas raízes no Rashtriya Swayamsevak Sangh, um grupo hindu de direita que tem Modi entre seus membros e adere à ideologia Hindutva, que busca definir a cultura indiana de acordo com os valores hindus.

    Desde então, o partido no poder tem sido repetidamente acusado por grupos de direitos humanos, ativistas e oposição de estimular o sentimento antimuçulmano.

    Nos últimos oito anos, vários estados administrados pelo BJP impuseram leis que os críticos dizem estar enraizadas na ideologia Hindutva. Ao mesmo tempo, relatos de violência e discursos de ódio contra muçulmanos chegaram às manchetes em todo o país.

    Algumas das novas leis mais controversas estão no estado de Uttar Pradesh, no norte, governado pelo monge hindu que se tornou político Yogi Adityanath. O estado introduziu regras para proteger as vacas, um animal considerado sagrado para os hindus, do abate, e tornou cada vez mais difícil o transporte de gado. Também introduziu um projeto de lei “anticonversão”, que dificulta o casamento de casais inter-religiosos ou a conversão de pessoas ao islamismo ou ao cristianismo.

    No início deste ano, o estado de Karnataka, no sul, também governado pelo BJP, proibiu as meninas muçulmanas de usarem véus religiosos nas salas de aula, levando várias delas a contestar a decisão no tribunal superior do estado – uma batalha que acabaram perdendo.

    No mês passado, a Índia se esforçou para conter as consequências diplomáticas, já que pelo menos 15 países de maioria muçulmana condenaram os comentários de Sharma sobre o profeta Maomé. O incidente provocou estresse com os principais parceiros comerciais árabes da Índia e apelos de todo o Golfo para boicotar os produtos indianos.

    Em resposta, o BJP disse em seu site que o partido respeita todas as religiões.

    “O BJP denuncia veementemente o insulto a qualquer personalidade religiosa de qualquer religião”, escreveu.

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