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    Ucrânia resiste na guerra com ajuda externa “fundamental”, avaliam especialistas

    De lança-foguetes a bilhões de dólares, auxílio de outros países prolonga conflito no Leste Europeu

    Tiago Tortellada CNN , em São Paulo

    O que diversos especialistas avaliaram que poderia ser uma incursão de dias ou, no máximo, semanas, se arrasta por um ano. No dia 24 de fevereiro de 2022, a Rússia invadiu a Ucrânia, e esse conflito armado não tem fim em um horizonte próximo.

    O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou em diversas oportunidades, porém, que não irá ceder território aos russos e que reconquistará o que foi capturado. Sob a liderança do ex-comediante, o exército resiste, como pode, à ofensiva.

    Leandro Consentino, especialista em Relações Internacionais e professor de Ciências Políticas do Insper, avalia que a articulação e comando de Zelensky é um dos motivos para que as forças armadas continuem unidas e lutando.

    Mas, com menos efetivo, máquinas e armas, os especialistas ouvidos pela CNN destacam que a ajuda de países do Ocidente é fundamental para a defesa e manutenção do conflito.

    Além de bilhões de dólares dos Estados Unidos e da União Europeia, o governo ucraniano recebeu lançadores de foguetes HIMARS, armas antitanque Javelin, rifles, munições, drones e auxílio com informações de inteligência.

    Ainda de acordo com Consentino, o fornecimento de armamento, tecnologia e material bélico pode ter sido inesperado “na proporção que tomou”, mas essa ação é importante e possibilita, por exemplo, repelir o avanço da Rússia.

    “Provavelmente a gente teria visto a Rússia tornar a soberania da Ucrânia algo bastante fragilizado e, provavelmente, talvez ela não existisse como a gente conhece, como um país soberano”, pondera.

    “Talvez a gente tivesse visto vitórias muito mais expressivas da Rússia e uma ocupação do território de uma maneira muito mais tranquila, o que não foi o que se verificou”, adiciona.

    Militares ucranianos preparam ataque na região de Donetsk, na Ucrânia / 31/12/2022 REUTERS/Clodagh Kilcoyne

    Christopher Mendonça, professor de Relações Internacionais do IBMEC-BH e doutor em Ciência Política, destaca, por sua vez, que essa diferença material proporcionava a avaliação de um conflito “breve”, mas que a ajuda internacional, incluindo a cessão de tanques às forças ucranianas, “faz com que o contexto de batalha seja equilibrado”.

    Ainda assim, ele ressalta que esse é um caminho de duas vias, porque, ao mesmo tempo que iguala, em parte, o poderio militar, propicia uma guerra mais longa.

    Mendonça observa também que Zelensky solicitou apoio para proteção do espaço aéreo, sendo essa uma das debilidades de suas forças armadas.

    “Na realidade, em muitos momentos a Ucrânia sofreu ataques severos contra pontos estratégicos do país através do ar. Há, entretanto, falhas graves na aeronáutica russa, o que faz com que a sua capacidade de destruição seja diminuída, favorecendo a defesa ucraniana”, diz.

    Posição defensiva

    O professor do IBMEC também salienta que, por estar em posição de defesa, o exército ucraniano tem vantagem, teoria que foi comprovada em estudos estratégicos.

    Ao mesmo tempo, ambos os especialistas concordam que as condições geográficas não foram determinantes para a dinâmica da batalha, neste caso.

    “Há, entretanto, um amplo conhecimento das forças russas das condições geográficas da Ucrânia. O território ucraniano foi palco de treinamentos e de estudos importantes desenvolvidos no período em que os dois países hoje em disputa encontravam-se sob a tutela da União Soviética”, avalia Mendonça.

    Consentino, por sua vez, analisa que o fato de ser um território extenso dificulta a conquista de muitos pontos, tanto pelo ataque quanto pela defesa.

    Retomada de territórios e tanques Leopard

    Um dos pontos-chave mais recentes no jogo geopolítico ao redor do conflito foi o anúncio do envio de tanques Leopard 2, produzidos na Alemanha, para o governo ucraniano.

    Esses veículos são uma poderosa arma ofensiva e podem ser usados para retomar o território perdido para os russos — um dos principais objetivos mantidos por Zelensky.

    Porém, os especialistas ponderam que isso é algo “incerto”, também ultrapassando o campo de batalha.

    “Dificilmente, se o ocidente não se envolver diretamente nessa guerra, só mande armamentos, é possível imaginar que a Ucrânia imponha uma derrota sozinha à Rússia e reconquiste todos os seus territórios”, avalia Leandro Consentino.

    O professor explica que essa retomada passa por negociações entre os atores globais, carecendo, por exemplo, de esforços da ONU e do Conselho de Segurança.

    Ucrânia conseguirá continuar se defendendo?

    Por mais que o exército ucraniano tenha conseguido manter sua soberania, a questão que é levantada agora é por quanto tempo isso continuará sendo possível.

    “Um conflito tem custos muito altos que muitas vezes não encontram lastro na realidade econômica dos países envolvidos. A cada dia a defesa ucraniana depende mais da ajuda exterior diante de uma economia que já apresenta resultados muito catastróficos”, pondera Christopher Mendonça.

    O especialista adiciona que a Rússia tem maior capacidade econômica, mesmo com sanções, e acúmulo de aparato bélico, tendo estrutura para continuar em guerra. A ajuda exterior à Ucrânia, por outro lado, pode resultar, ainda segundo Mendonça, em custos políticos futuros para o país.

    Leandro Consentino também entende que, ainda assim, a defesa ainda será possível, mas a “grande questão” é de “como a Rússia vai jogar nos próximos meses”.

    Ele adverte, por exemplo, para armamentos nucleares localizados, de menor impacto, que já tiveram utilização ameaçada anteriormente.

    “Mas, se a guerra continuar nesse patamar, o que vai acontecer é essa guerra um pouco paralisada e, sobretudo, a Ucrânia jogando na defesa, tentando recuperar o seu território, e a Rússia, de alguma forma, tentando manter os pontos que já conquistou”, diz.

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