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    Turquia se retira da convenção para combater a violência contra as mulheres

    Coalizão diz que decisão passa mensagem de que governo não protegerá mais as mulheres; conservadores alegam que texto prejudica valores familiares tradicionais

    Presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, tirou país da Convenção de Istambul
    Presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, tirou país da Convenção de Istambul Foto: Presidência da Turquia/Divulgação via REUTERS

    Gul Tuysuz, da CNN

    O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, por meio de um decreto publicado na madrugada deste sábado (20), retirou o país de um tratado internacional para proteger as mulheres .

    A mudança causou protestos no país, marcado por casos de violência doméstica e feminicídios de grande repercussão.

    A Turquia foi o primeiro país a assinar a Convenção do Conselho da Europa sobre a prevenção e combate à violência contra as mulheres e violência doméstica, em 2011. 

    A Convenção de Istambul, batizada em homenagem à maior cidade da Turquia, visa prevenir a violência contra as mulheres, incluindo a violência doméstica, e pôr fim à impunidade legal para os perpetradores.

    Não está claro por que Erdogan decidiu desistir da convenção. Defensores dos direitos das mulheres turcas protestaram contra a decisão, enquanto alguns conservadores argumentam que ela prejudica os valores familiares tradicionais.

    O debate público em torno da convenção atingiu o pico em agosto, quando grupos religiosos e conservadores começaram um intenso lobby contra a convenção, criticando-a por degradar os valores familiares e defender a comunidade LGBTQI+.

    O gabinete de Erdogan afirmou que a saída da convenção não significará retrocesso nas regulamentações sobre violência doméstica e direitos das mulheres. 

    “A garantia dos direitos das mulheres está presente em nossas leis atuais e especialmente em nossa Constituição. Nosso sistema judicial é dinâmico e forte o suficiente para implementar novas regulamentações conforme necessário”, disse a ministra da Família e Políticas Sociais, Zehra Zumrut Selcuk, no Twitter.

    A oposição turca chamou a medida de um esforço para relegar “as mulheres a cidadãos de segunda classe” e prometeu devolver o país à convenção, dizendo que o atual governo falhou em garantir os direitos das mulheres e crianças. 

    “Você está falhando em proteger o direito à vida”, disse Gokce Gokcen, um parlamentar da oposição no Twitter, em referência a Erdogan.

    Uma coalizão de grupos de mulheres disse que o decreto presidencial de retirada da convenção parecia um “pesadelo” e que, ao abandonar o acordo, o governo passava a mensagem de que não protegerá mais as mulheres da violência.

    “É óbvio que essa retirada dará poder aos assassinos, abusadores e estupradores de mulheres”, disse o comunicado da coalizão.

    A Turquia não tem números de feminicídio divulgados separadamente, mas um grupo não governamental de direitos das mulheres estima que em 2021 ao menos 77 mulheres já foram assassinadas no país.

    A violência contra as mulheres na Turquia é uma “enorme crise de direitos humanos que está aumentando”, disse o romancista turco e ativista pelos direitos das mulheres Elif Shafak a Christiane Amanpour, da CNN, na sexta-feira (19).

    (Texto traduzido; leia o original em inglês)