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    Tropas rivais voltam a violar cessar-fogo e se enfrentam na capital do Sudão 

    Antes do encerramento do prazo de 24 horas, tropas do governo e da força paramilitar RSF trocaram tiros e promoveram explosões nas ruas de Cartum e também das cidades de Omdurman e Bahri 

    Khalid AbdelazizNafisa Eltahirda Reuters

    Cartum

    Moradores da capital do Sudão relataram novos disparos pesados nesta quinta-feira (20), enquanto milhares tentavam fugir dos combates que mataram dezenas de civis, antes do feriado de Eid, que marca o fim do mês sagrado do Ramadã. Ao menos 270 pessoas morreram e 2.600 ficaram feridas nos combates que ocorrem desde o último sábado, disse a Organização Mundial da Saúde (OMS), citando o Ministério da Saúde do Sudão.

    Cartum e suas cidades irmãs Omdurman e Bahri, uma das áreas urbanas mais populosas da África, foram abaladas por batalhas nesta semana entre o Exército e as paramilitares Forças de Apoio Rápido (RSF). Moradores e milhares de estrangeiros estão presos e os suprimentos de comida estão acabando.

    A fumaça espessa e as explosões dos dias anteriores diminuíram na manhã desta quinta-feira, mostraram as transmissões de TV de Cartum, antes que os combates voltassem a acontecer.

    Um cessar-fogo já havia sido firmado na terça-feira (18), com participação dos Estados Unidos, mas na manhã do dia seguinte os combates continuaram, com bombardeios contínuos e fortes explosões no centro de Cartum, na área ao redor do complexo do Ministério da Defesa e do aeroporto, levando o Japão a se preparar para retirar seus cidadãos do país. O Exército e a RSF emitiram declarações acusando-se mutuamente de não respeitar a trégua. O impasse parecia ter chegado ao fim horas depois, quando o Exército sudanês concordou em aderir ao cessar-fogo. A interrupção das hostilidades estava previsto para durar até às 18h de hoje no horário local (13 horas em Brasília).

    Nesta quinta, tiros foram ouvidos em Bahri e moradores relataram confrontos a oeste de Omdurman, onde disseram que o Exército se moveu para bloquear a chegada de reforços da RSF, depois que ambos os lados violaram um cessar-fogo de 24 horas que disseram que respeitariam a partir de quarta-feira (19).

    A RSF emitiu um comunicado dizendo que foi atacada em Omdurman e infligiu perdas ao Exército em resposta, incluindo o abate de dois helicópteros. A Reuters não pôde verificar de forma independente as alegações da RSF.

    O Exército tem artilharia e aviões de combate e controla o acesso a Cartum. Parecia estar tentando cortar as rotas de abastecimento para os combatentes da RSF, disseram moradores e testemunhas.

    Milhares de pessoas estavam deixando a capital, com a maioria apta a passar, mas algumas pararam em postos de controle, segundo moradores e postagens nas redes sociais.

    “Não há comida, os supermercados estão vazios, a situação não é segura, honestamente, então as pessoas estão indo embora”, disse um morador de Cartum, que deu apenas seu primeiro nome, Abdelmalek.

    Hospitais relataram corpos insepultos e balas atravessando janelas. Moradores disseram que os preços dos alimentos frescos que sobraram subiram acentuadamente.

    Fumaça sobe de incêndio na região do aeroporto de Cartum, no Sudão / 17/04/2023 Abdullah Abdel Moneim/via REUTERS

    O Sudão fica estrategicamente entre Egito, Arábia Saudita, Etiópia e a volátil região africana do Sahel, e a luta pelo poder ali corre o risco de aumentar as tensões regionais.

    A RSF devolveu as tropas egípcias que capturou na base de Merowe no fim de semana, e o vizinho ocidental Chade disse que deteve e desarmou um contingente sudanês de 320 soldados na segunda-feira, entre milhares de refugiados que cruzavam a fronteira da região sudanesa de Darfur.

    Desde que as hostilidades começaram no sábado, alguns dos combates mais intensos ocorreram em torno do complexo que abriga a sede do Exército e a residência do governante militar do Sudão, general Abdel Fattah al-Burhan.

    Burhan acusou o líder da RSF, general Mohamed Hamdan Dagalo, até a semana passada seu vice no conselho militar que governa desde um golpe há dois anos, de “tomada de poder”. Uma aliança frágil entre os dois homens se manteve desde a derrubada, há quatro anos, do autocrata veterano Omar al-Bashir.