“Tom de cautela sobre Venezuela mostra ambiguidade do Brasil”, avalia professor à CNN
Cientista político Leandro Consentino analisa postura brasileira diante da controvérsia eleitoral venezuelana, destacando a ambiguidade do governo Lula
O cientista político e professor do Insper, Leandro Consentino, em entrevista ao Bastidores CNN, analisou a postura do governo brasileiro em relação às recentes eleições na Venezuela, caracterizando-a como cautelosa, porém ambígua.
Consentino observou que o Brasil está em um “compasso de espera” pela publicação das atas eleitorais por parte do governo de Nicolás Maduro, antes de se pronunciar oficialmente sobre o resultado. Esta postura, segundo o especialista, revela uma continuidade na ambiguidade brasileira em relação ao regime venezuelano.
O professor destacou: “Por um lado, o Brasil de alguma forma condena, diz que não compactua com determinadas práticas ali do regime, mas por outro endossa”. Ele lembrou que as complicações com o regime venezuelano não são recentes, citando a existência de mais de 300 presos políticos no país antes mesmo destas eleições.
Consentino também apontou contradições na postura brasileira: “Quando o partido do presidente da República endossa e diz que houve uma vitória já eleitoral de Nicolás Maduro, quando o próprio presidente Lula diz que não vê nada de anormal, que tudo está transcorrendo na mais perfeita normalidade, a gente já começa a achar que essa postura ambígua às vezes pode compartilhar um pouco de apoio ou defesa ao governo de situação ali”.
Contexto geopolítico mais amplo
O cientista político contextualizou a situação venezuelana em um cenário geopolítico mais amplo, comparando-a com outros conflitos globais.
Ele observou uma divisão entre autocracias e democracias, com países como Estados Unidos, União Europeia e outros representando democracias liberais, enquanto nações mais autocráticas se alinham do outro lado.
“É curioso que a noção de direita e esquerda já não vale tanto quanto essa questão do nacionalismo e do cosmopolitismo de outro lado”, afirmou Consentino, alertando para a possibilidade de uma “segunda Guerra Fria” em formação.