Tensões entre Belarus e Ucrânia aumentam frente a possível nova ofensiva russa
Fronteira entre os dois países se estende por 1.000 quilômetros; Rússia usou o território belarusso como uma de suas plataformas de lançamento para a invasão da Ucrânia em 2022
As tensões estão aumentando na fronteira entre a Ucrânia e Belarus, aliada de Moscou, enquanto autoridades em Kiev alertam sobre uma ofensiva russa na primavera em meio a ataques militares intensificados do Kremlin.
Em acesso raro desde a invasão da Ucrânia pela Rússia no ano passado, uma equipe da CNN visitou a fronteira sudoeste de Belarus, perto do noroeste da Ucrânia, acompanhada por oficiais de fronteira do estado.
A Ucrânia compartilha uma fronteira de 1.000 quilômetros com Belarus, um país que desempenhou um papel fundamental no auxílio ao ataque da Rússia.
Frederik Pleitgen, da CNN, e sua equipe estavam a 100 metros do lado ucraniano, onde viram a fortificação do governo bielorrusso da área de fronteira com arame farpado em uma turnê de imprensa cuidadosamente orquestrada e rigidamente controlada.
De acordo com a equipe da CNN no terreno, o lado ucraniano da fronteira está fortemente barricado com várias camadas de arame farpado e montes de terra para impedir que alguém atravesse.
Autoridades bielorrussas disseram à CNN que a passagem de fronteira de seu lado na pequena cidade de Dyvin ainda está funcionando, mas que o lado ucraniano fechou a passagem.
Kiev fechou todas as passagens de fronteira para Belarus, exceto para ocasionalmente permitir a entrada de refugiados ucranianos que desejam retornar ao seu país de origem, por medo de que Belarus possa ser usada para uma nova invasão pela Rússia.
A equipe da CNN pôde ver uma bandeira ucraniana no lado ucraniano da passagem de fronteira e uma bandeira vermelha e branca associada à oposição bielorrussa – um movimento que as autoridades bielorrussas chamaram de “provocação”.
A Rússia usou o território de Belarus como uma de suas plataformas de lançamento para a invasão da Ucrânia em 2022. Exercícios militares conjuntos no ano passado entre os dois países contribuíram para a preocupação de que as tropas bielorrussas poderiam se juntar às forças da Rússia na Ucrânia.
Anton Bychkovski, porta-voz do Comitê Estadual de Fronteiras de Belarus, disse que a situação na fronteira era “tensa”, com o que ele descreveu como inúmeras provocações de formações armadas ucranianas.
“Principalmente, há tentativas de reconhecer o território de Belarus com a ajuda de drones”, disse ele da cidade fronteiriça bielorrussa de Dyvin.
“Registramos mais de 400 ocorrências dessas tentativas no ano passado. As forças ucranianas enviam drones ao longo da fronteira com Belarus, às vezes violando o espaço aéreo. Os meios técnicos disponíveis para a defesa de Belarus permitem-nos anular tais meios de reconhecimento. Frequentemente, esses drones são forçados a pousarem em Belarus”, acrescentou.
Ele disse que as unidades de guarda de fronteira de Belarus foram expandidas e “o armamentos e o equipamentos foram atualizados”.
De acordo com sua inteligência, “no território das regiões fronteiriças ucranianas existem cerca de 17 mil militares das formações armadas da defesa territorial da Ucrânia, o que cria certos desafios para a segurança da fronteira de Belarus”, disse ele.
No início deste mês, o Ministério da Defesa bielorusso disse que um exercício conjunto da força aérea de duas semanas entre Belarus e a Rússia, que ocorreu de 16 de janeiro a 1º de fevereiro, foi concluído.
Separadamente, o ministério anunciou o início de uma semana de exercícios militares conjuntos com a Rússia para o comando combinado de seu agrupamento regional de forças. O ministério disse que está em preparação para os exercícios conjuntos do Union Shield 2023 que os dois países realizarão na Rússia em setembro.
O presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, rejeitou repetidamente as especulações de que suas tropas se juntariam diretamente aos combates na fronteira, mas em dezembro a Ucrânia alertou que “não descarta” uma “provocação deliberada” da Rússia depois que Minsk disse que os destroços de um míssil ucraniano caíram em seu território.
Na cidade bielorrussa de Kobryn, perto da fronteira com a Ucrânia, a guerra ao lado pesa sobre seus habitantes.
“Claro que estou preocupada. Este é um problema que me deixou muito preocupada quando aconteceu pela primeira vez, mas sou uma pessoa comum e não tenho influência sobre esta situação”, disse Diana Sychik, 28, à CNN. Ela começa a chorar, dizendo que não viu nada nem quer “entrar nesse conflito porque isso é ruim, a guerra é ruim”.
Ela disse que sua mãe, que mora perto da fronteira, disse a ela que tanques estavam sendo trazidos e viu helicópteros voando. “Mas tudo é compreensível porque nosso governo também está preocupado com seu povo e eles tiveram que proteger a fronteira de alguma forma”.
Um homem idoso, que se recusou a fornecer seu nome, disse acreditar que “a América está nos atacando”, citando o sistema de foguetes de lançamento múltiplo HIMARS fornecido pelos Estados Unidos às forças ucranianas.
“Somos uma nação com a Rússia. Devemos absolutamente ajudá-los”, disse ele.
*Com informações de Anna Chernova, da CNN.