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    Talibã dá 3 dias para residentes de Kandahar deixarem suas casas, dizem manifestantes

    Os manifestantes, que também são moradores da área, contam que não foram informados dos motivos para a ordem de expulsão

    Sarah DeanIngrid Formanekda CNN

    Centenas de pessoas protestaram na cidade de Kandahar, no sul do Afeganistão, na terça-feira (14), contra o que eles chamam de ordens do Talibã para que os cidadãos deixem suas casas na véspera do inverno.

    Os manifestantes marcharam em frente ao gabinete do governador na cidade depois que 3.500 pessoas que viviam em uma área residencial do governo tiveram três dias para sair, disseram dois manifestantes a um jornalista local que trabalhava para a CNN por telefone.

    Os manifestantes, que também são moradores da área, contam que não foram informados dos motivos para a ordem de expulsão.

    “Não tenho para onde ir”, disse uma manifestante, que não quis revelar seu nome por medo de represália. Ela diz ter perdido muitos recursos, além de membros de sua família em conflitos recentes.

    Todas as famílias da região construíram suas casas com o pouco dinheiro que tinham e não podem pagar para se mudar, disse a mulher.

    Várias mulheres que protestavam carregando a bandeira nacional afegã vermelha, preta e verde foram assediadas pelo Talibã, de acordo com testemunhas oculares. Imagens da televisão local mostram manifestantes, incluindo mulheres e crianças, bloqueando uma estrada enquanto marchavam por ela.

    Mohammad Ibrahim, um ativista civil em Kandahar, disse que a área de Ferqa-e Kohna, na periferia da capital provincial, era uma área de propriedade do governo e terras foram distribuídas para funcionários do governo anterior.

    Ibrahim afirma que provavelmente existiam irregularidades e corrupção na transferência de propriedades, resultando na venda ilegal de propriedades a residentes. Algumas das famílias moravam em Ferqa-e Kohna há mais de 20 anos, disse ele.

    Os porta-vozes do Talibã não foram encontrados para comentar os despejos.

    Houve relatos de que o Talibã havia impedido um jornalista local de fazer seu trabalho e espancado outro enquanto ele cobria a manifestação, de acordo com a estação de notícias local, Rádio Millat Zagh. A CNN não pode verificar os incidentes de forma independente.

    Protestos contra o regime do Talibã estouraram em várias partes do Afeganistão desde que o grupo militante assumiu o controle do país no mês passado, após a retirada das tropas americanas.

    O Talibã reprimiu os protestos, muitas vezes de forma violenta, com relatos de jornalistas e ativistas detidos e violentados.

    Na semana passada, jornalistas do meio de notícias online afegão EtilaatRoz disseram à CNN que foram detidos enquanto cobriam um protesto de mulheres afegãs contra o envolvimento do Paquistão no Afeganistão e exigiam direitos iguais na capital Cabul.

    O protesto ocorreu em frente a uma delegacia de polícia e os dois homens disseram que foram levados para dentro e espancados severamente.

    Durante outro protesto na semana passada, os combatentes do Taleban usaram chicotes e paus contra um grupo de mulheres que protestava em Cabul, após o anúncio de um governo interino de linha dura exclusivamente masculino.

    Líderes do Talibã no Twitter rejeitaram vídeos compartilhados online de violência nos protestos liderados por mulheres. O chefe da Comissão Cultural, Muhammad Jalal, disse que essas manifestações foram “uma tentativa deliberada de causar problemas”, acrescentando que “essas pessoas nem mesmo representam 0,1% do Afeganistão”.

    O Talibã também buscou conter os protestos, e uma declaração emitida pelo ministério do interior do Talibã na semana passada estabeleceu condições estritas para quaisquer manifestações futuras, incluindo a aprovação prévia do Ministério da Justiça.

    As Nações Unidas apelaram na semana passada ao Talibã “para cessar imediatamente o uso da força e a detenção arbitrária daqueles que exercem o seu direito de reunião pacífica e dos jornalistas que cobrem os protestos”.

    A resposta do Talibã às marchas pacíficas no Afeganistão tem sido “cada vez mais violenta” e incluiu o uso de munição real, cassetetes e chicotes, causando a morte de pelo menos quatro pessoas, afirmou o porta-voz do Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos, Ravina Shamdasani, nesta sexta-feira durante um coletiva de imprensa em Genebra.

    Mesmo antes do retorno do Talibã ao poder, conflito prolongado, pobreza, secas consecutivas, declínio econômico e a pandemia de coronavírus pioraram uma situação já terrível em que 18 milhões de afegãos – quase metade da população – precisavam de ajuda, de acordo com agências da ONU.

    Com o inverno se aproximando, muitas pessoas podem ficar sem alimentos até o final do mês, disse o secretário-geral da ONU, António Guterres, no início desta semana, acrescentando que as taxas de pobreza dispararam desde o retorno do Talibã ao poder.

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