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    Suspeitos de ataque a casa de shows de Moscou comparecem a tribunal

    Quatro homens estavam com sinais de espancamento

    Suspeitos de ataque ao Crocus City Hall são levados a tribunal em Moscou
    Suspeitos de ataque ao Crocus City Hall são levados a tribunal em Moscou 24/3/2024 REUTERS/Shamil Zhumatov

    Christian EdwardsMasha AngelovaJosh PenningtonAnna Chernovada CNN

    Os quatro homens suspeitos de realizar um ataque em um complexo de shows de Moscou, na Rússia, que matou ao menos 139 pessoas compareceram em tribunal sob acusações de terrorismo.

    Enquanto isso, o Kremlin defendia os seus serviços de segurança, criticados por não terem conseguido evitar o massacre.

    Três dos suspeitos estavam curvados ao entrar no tribunal de Moscou na noite de domingo (24), enquanto o quarto estava em uma cadeira de rodas e parecia inconsciente.

    Os suspeitos, que são da antiga república soviética do Tajiquistão, mas trabalharam na Rússia com vistos temporários ou expirados, foram nomeados pelo Tribunal Municipal de Moscou como Dalerdzhon Mirzoyev, Saidakrami Rachabalizoda, Shamsidin Fariduni e Mukhammadsobir Faizov.

    Eles podem ser condenados a pena máxima de prisão perpétua.

    Os suspeitos são acusados de invadir o Crocus City Hall, em um subúrbio de Moscou, na sexta-feira (22), atirando em civis à queima-roupa antes de incendiar o prédio, causando o desabamento de parte do telhado enquanto os espectadores ainda estavam lá dentro.

    O Estado Isâmico assumiu a responsabilidade pelo ataque  e divulgou imagens gráficas que mostram o caso, mas o Kremlin alegou anteriormente, sem provas, que os criminosos planejavam fugir para a Ucrânia. Kiev negou veementemente envolvimento e chamou as afirmações da Rússia de “absurdas”.

    Em uma reunião com outras autoridades governamentais nesta segunda-feira, o presidente russo, Vladimir Putin, pontuou  que o ataque foi realizado por “islamistas radicais”.

    “Sabemos que o crime foi cometido por islamistas radicais, cuja ideologia o próprio mundo islâmico combate há séculos”, disse Putin.

    Suposto espancamento

    O primeiro suspeito acusado, Mirzoyev, tinha um olho roxo, hematomas no rosto e um saco plástico enrolado no pescoço. Mirzoyev, de 32 anos, tinha uma autorização de residência temporária durante três meses na cidade siberiana de Novosibirsk, mas esta tinha expirado, informou a mídia estatal russa RIA Novosti.

    Rachabalizoda, nascido em 1994, disse ao tribunal por meio de um intérprete que possui documentos de registro russos, mas não consegue se lembrar onde eles estão.

    O terceiro acusado, Fariduni, nascido em 1998, trabalhava numa fábrica na cidade industrial de Podolsk e estava registado em Krasnogorsk, ambos perto de Moscou.

    Os três homens se declararam culpados das acusações de terrorismo, informou a mídia russa. Não ficou claro o que o quarto homem, Faizov, nascido em 2004, alegou. Ele foi fotografado deitado em uma cadeira de rodas dentro de uma gaiola de vidro.

    Os homens pareciam espancados e feridos quando foram levados ao tribunal. Vídeos deles sendo espancados enquanto eram detidos e interrogados circularam amplamente nas redes sociais russas.

    Um vídeo mostraria Rachabalizoda sendo mantido no chão enquanto tem parte de sua orelha cortada e enfiada na boca por um intérprete camuflado.

    Margarita Simonyan, editora-chefe da rede estatal russa de propaganda RT, postou um vídeo de Rachabalizoda aparecendo no tribunal com uma orelha enfaixada, que ela pontuou que a fez “sentir nada além de prazer”.

    A CNN perguntou ao Kremlin sobre os “sinais visíveis de violência” cometidos contra os suspeitos, mas o porta-voz Dmitry Peskov se recusou a comentar.

    Mais tarde nesta segunda-feira, o Comitê de Investigação da Rússia pediu ao tribunal que detivesse outros três homens – dois irmãos e o pai deles – em conexão com o ataque, informou a mídia estatal russa TASS.

    Três dias após o ataque, as equipes de resgate ainda faziam buscas entre as ruínas da sala de concertos desabada e tentavam remover os escombros. O Ministério de Situações de Emergência da Rússia disse que mais de 300 especialistas trabalhavam no local.

    Estado Islâmico e acusação contra Ucrânia

    O ataque, o mais mortal em solo russo em quase duas décadas, foi recebido com indignação e descrença na Rússia, o que levou a apelos para que fossem aplicadas as punições mais severas.

    Enquanto o telhado da sala de concertos ainda estava em chamas, o Estado Islâmico assumiu a responsabilidade pelo ataque e compartilhou um vídeo feito pelos homens enquanto invadiam o prédio, onde milhares de russos haviam chegado para assistir ao grupo de rock “Picnic”.

    A CNN localizou geograficamente o vídeo de 90 segundos para a sala de concertos, onde corpos e sangue podem ser vistos no chão enquanto o fogo aumenta acima.

    O vídeo também mostra um dos agressores cortando a garganta de um homem deitado de costas e termina com os quatro criminosos caminhando para dentro do prédio com fumaça subindo ao longe.

    Apesar do Estado Islâmico fornecer o que seriam provas de que os seus combatentes realizaram o ataque, Putin e outros integrantes de alta patente do governo têm feito questão de associar a Ucrânia ao ataque terrorista.

    Em discurso nacional após o ataque, mais de 19 horas após o seu início, Putin afirmou no sábado (23) que uma “janela” tinha sido preparada para os atacantes escaparem para a Ucrânia. Ele não forneceu provas.

    A porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Maria Zakharova, também ressaltou: “Agora sabemos em que país estes malditos bastardos planejaram esconder-se da perseguição: Ucrânia”.

    A Ucrânia negou veementemente qualquer envolvimento e classificou as alegações como uma “provocação planejada pelo Kremlin para alimentar ainda mais a histeria anti-ucraniana na sociedade russa” e mobilizar ainda mais os cidadãos russos para participarem na invasão da Ucrânia por Moscou.

    Apesar das relações entre EUA e Rússia estarem em crise profunda, os Estados Unidos alertaram o governo russo que combatentes do Estado Isâmico planejavam realizar um ataque no país.

    A embaixada dos EUA em Moscou disse no início deste mês que estava “monitorando relatos de que extremistas têm planos iminentes de atingir grandes reuniões [de pessoas] em Moscou”, incluindo concertos.

    A porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, Adrienna Watson, destacou que compartilharam essa informação com as autoridades russas ao abrigo da política de “dever de avisar”. Os EUA também alertaram os cidadãos americanos para evitarem locais como teatros e salas de concerto.

    Mas em um discurso na terça-feira (19), poucos dias antes do ataque, Putin rejeitou as advertências americanas como “provocativas”, dizendo que “estas ações assemelham-se à chantagem aberta e à intenção de intimidar e desestabilizar a nossa sociedade”.

    Respondendo a perguntas de repórteres nesta segunda-feira, Peskov se recusou a comentar se Moscou recebeu avisos de Washington e defendeu o “trabalho incansável” dos serviços de segurança da Rússia.

    Mark Galeotti, especialista em política russa e serviço de segurança do FSB, disse à CNN que pensa que Putin “acha difícil acreditar que os americanos forneceriam genuinamente informações verdadeiras sobre ameaças terroristas no ambiente atual”.

    “Como ele não teria escrúpulos em emitir um falso aviso de inteligência para interferir nas eleições de outro país, acredito que ele pode muito bem ter pensado que, na verdade, é isso que os americanos estão fazendo”, disse Galeotti.

    Uma equipe da CNN em Moscou conversou com cidadãos que compareceram para depositar flores para as vítimas do ataque de sexta-feira.

    Alexander Matveev, de 37 anos, relatou à CNN que os russos se sentem inseguros e preocupados com a possibilidade de outro ataque. Ele disse que considerava plausível a sugestão de Putin de que a Ucrânia estava envolvida.

    “Ele disse que eles estavam tentando fugir para a Ucrânia. Isso faz sentido. Acabaram de encontrar alguns idiotas ávidos por dinheiro”, afirmou Matveev.

    *Tim Lister, Darya Tarasova e Nathan Hodge, da CNN, contribuíram para esta reportagem