Suécia registra maior número de mortes em 150 anos no primeiro semestre de 2020
País não implantou medidas de isolamento social e vê aumento dos casos de Covid-19
A Suécia registrou o maior número de mortes em 150 anos na primeira metade de 2020, de acordo com o órgão de estatísticas oficial do país.
Entre janeiro e junho deste ano, 51.405 mortes foram registradas — cerca de 6.500 (ou 15%) mortes a mais que no mesmo período em 2019.
Esse é o maior número de mortes na Suécia na primeira metade de um ano desde 1869, quando o país passou por um período de fome e 55.431 pessoas morreram.
O país também passa pelo menor aumento populacional desde 2005, com um incremento de 6.860 em 2020, que é menos da metade do anunciado no ano passado.
Os dados de imigração caíram em 34,7% em relação ao mesmo período em 2019, no qual a queda foi registrada principalmente no segundo trimestre, entre abril e junho.
Ao contrário de muitos países vizinhos, a Suécia não entrou em lockdown quando a pandemia estremeceu a Europa, no começo da primavera do hemisfério norte. De maneira oposta, houve uma ênfase na responsabilidade individual dos cidadãos, e a maioria dos bares, escolas, restaurantes e salões de beleza se mantiveram abertos.
Apesar do enfrentamento mais relaxado da questão, apenas 7,3% da população de Estocolmo havia desenvolvido os anticorpos necessários para combater a doença no fim de abril — muito abaixo dos 70-90% necessários para a imunidade coletiva.
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No início de junho, os números de mortes pela Covid-19 atingiram mais de 4.500. De acordo com a Universidade Johns Hopkins, atualmente devem estar por volta de 5.802.
Muitas críticas ao redor da resposta sueca estão focadas nas altas taxas de mortalidade em casas de repouso para idosos. O chefe de epidemiologia na Suécia, Anders Tegnell admitiu em junho que a Agência de Saúde Pública do país “não sabia que havia um potencial tão grande para o espalhamento da doença em casas de repouso, causando tantas mortes”.
Entretanto, ele disse ao jornal sueco Dagens Nyheter: “Há coisas que poderíamos ter feito de melhor forma, mas em geral, penso que a Suécia escolheu o caminho certo.”
Em entrevista à Christiane Amanpour, da CNN, em julho, Tegnell defendeu novamente a estratégia do país. “Eu acho que ainda acreditamos na nossa estratégia, ela nos foi útil em diferentes aspectos”, ele disse.
“Eu sei que o número de mortes é muito alto. Mas não é extremamente alto se comparado aos de países como a Bélgica, os Países Baixos ou o Reino Unido, que são países que em muitas formas tiveram uma epidemia muito similar à nossa, mais do que os vizinhos nórdicos”, afirmou em referência às poucas mortes em países como Noruega e Dinamarca.
“Não existem provas que vidas seriam salvas a longo prazo nas casas de repouso na Suécia.”
Ele disse que quando as autoridades viram os problemas com os idosos, foram dadas recomendação e a quantidade de casos caiu rapidamente, e estariam agora próximos a zero.
Na quinta-feira (20), Tegnell explicou que a Suécia não recomendava o uso de máscaras faciais, item considerado como uma das chaves para reduzir a propagação do vírus por muitos países, pois elas poderiam ‘encorajar as pessoas a correr mais riscos’.
“É muito perigoso acreditar que máscaras podem virar o jogo quando se trata da Covid-19”, Tegnell disse ao Financial Times.
“Máscaras podem ser um complemento para outras coisas quando essas estão seguras. Mas começar a usar máscaras e então pensar que por isso podem lotar ônibus e shoppings — isso definitivamente é um erro”, ele acrescentou.
A Suécia também pagou um preço econômico muito alto, apesar de não implantar o isolamento social. Negócios de hotelaria e turismo disseram à CNN que foram muito impactados pela pandemia, e produtores suecos foram cortados da cadeira internacional de comércio.
Quase 50% da economia do país é construído com base em exportação de bens para outros continentes, e a crise global destruiu a demanda internacional. A economia sueca deve contrair em mais de 5% com centenas perdendo seus empregos.
Texto traduzido. Clique aqui para ler o original em inglês.