Sri Lanka deve ficar sem combustíveis nos próximos dias
Ilha localizada no Oceano Índico enfrenta a pior crise econômica das últimas sete décadas
O Sri Lanka deve ficar sem combustível nos próximos dias, levando o governo a fechar escolas na capital Colombo e ordenar que funcionários do governo trabalhem em casa, enquanto militares entregam fichas às pessoas que fazem fila para encher os tanques de seus veículos.
O país sofre sua pior crise econômica em sete décadas, com reservas cambiais em baixa recorde e a ilha de 22 milhões de habitantes lutando para pagar importações essenciais de alimentos, remédios e, mais criticamente, combustível.
Indústrias como as de vestuário, grande fonte de renda para o país do Oceano Índico, têm combustível para até 10 dias.
Transporte público, geração de energia e serviços médicos terão prioridade na distribuição de combustíveis, com alguns racionamentos para portos e aeroportos.
“Estou na fila há quatro dias, não dormi nem comi direito durante esse tempo”, disse o motorista de riquixá W.D. Shelton, 67, um dos que recebeu um token destinado a manter seu lugar na fila para quando o combustível estiver disponível.
“Não podemos ganhar, não podemos alimentar nossas famílias”, acrescentou Shelton, que era o 24º na fila de um posto de combustível no centro de Colombo, mas ficou por lá porque não tinha gasolina para o caminho até sua casa, que fica a 5 km de distância.
O governo está conversando com o Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre um possível resgate, mas muitas pessoas não podem esperar tanto. A marinha prendeu 54 pessoas ao longo da costa leste enquanto tentavam sair de barco, disse um porta-voz, além de 35 “barqueiros” detidos na semana passada.
O irmão mais velho do presidente Gotabaya Rajapaksa renunciou ao cargo de primeiro-ministro no mês passado, depois que confrontos entre manifestantes pró e antigoverno se transformaram em violência em todo o país, deixando nove mortos e cerca de 300 feridos. Uma escalada da escassez de combustível pode levar a uma nova onda de manifestações.
O líder da oposição, Sajith Premadasa, pediu que o governo renuncie.
“O país entrou em colapso completamente devido à escassez de combustível”, disse ele em um comunicado em vídeo. “O governo mentiu para as pessoas repetidamente e não tem planos de como seguir em frente”, concluiu.
Quedas de energia
O estoque de combustível do governo é de cerca de 9.000 toneladas de diesel e 6.000 toneladas de gasolina, disse o ministro da Energia no domingo (26), mas não há previsão de novos embarques.
A unidade local da Indian Oil Corporation disse à Reuters que tinha 22.000 toneladas de diesel e 7.500 toneladas de gasolina, e esperava outro embarque de 30.000 toneladas de gasolina e diesel combinados por volta de 13 de julho.
O Sri Lanka consome cerca de 5.000 toneladas de diesel e 3.000 toneladas de gasolina por dia apenas para atender às suas necessidades de transporte, disse o chefe do COI Lanka, Manoj Gupta, à Reuters.
Outros grandes consumidores são indústrias como empresas de vestuário e têxteis, cujas exportações aumentaram 30%, para US$ 482,7 milhões em maio, segundo dados divulgados nesta segunda-feira (27).
“Temos combustível suficiente para os próximos sete a dez dias, então estamos administrando”, disse Yohan Lawrence, secretário-geral do Fórum Conjunto de Associações de Vestuário do Sri Lanka.
“Estamos observando e esperando para ver se chegam novos estoques de combustível e o que acontecerá nos próximos dias.”
O regulador de energia do Sri Lanka disse que o país estava usando seus últimos estoques de óleo de fornalha para operar várias usinas termelétricas e reduzir ao mínimo os cortes de energia, que aumentarão para três horas a partir de hoje.
“Esperamos manter os cortes de energia em três a quatro horas pelos próximos dois meses”, disse Janaka Ratnayake, presidente da Comissão de Serviços Públicos do Sri Lanka. “Mas, dada a situação do país, isso pode mudar.”
Ajuda financeira
O governo disse aos funcionários para trabalharem de casa até novo aviso, enquanto as escolas foram fechadas por uma semana na capital comercial de Colombo e arredores.
As filas de postos de combustível cresceram rapidamente desde a semana passada.
Uma equipe do FMI está visitando o Sri Lanka para conversar sobre um pacote de resgate de US$ 3 bilhões. O país espera chegar a um acordo em nível de equipe antes que a visita termine na quinta-feira, o que provavelmente não liberará fundos imediatos.
(Publicado por Lucas Schroeder)