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    Sonha em morar na Itália? Vila vende casas por cerca de R$ 6,30

    Castropignano, uma vila com um castelo medieval em ruínas, é a mais recente comunidade a oferecer suas casas abandonadas aos recém-chegados

    Castropignano é a mais nova cidade italiana a vender casas por apenas 1 euro
    Castropignano é a mais nova cidade italiana a vender casas por apenas 1 euro Foto: Nicola Scapillati

    Silvia Marchetti, da CNN

    Você espera um pouco por uma casa que é praticamente doada para você e aparecem três de uma vez. Sim, os imóveis italianos a um euro (aproximadamente R$ 6,30) estão de volta e, desta vez, trata-se de um conjunto de casas na região sul de Molise.

    Castropignano, uma vila com um castelo medieval em ruínas, localizada a 225 quilômetros a sudeste de Roma, é a mais recente comunidade a oferecer suas casas abandonadas aos recém-chegados.

    A vila está seguindo os passos de Salemi, na Sicília, e Santo Stefano di Sessanio, em Abruzzo, que lançaram incentivos a recém-chegados no mês passado.

    No entanto, Castropignano está promovendo essa ação de maneira diferente da maioria dos casos parecidos, que leiloam imóveis dilapidados por um euro.

    Existem cerca de cem imóveis abandonados lá, mas, no lugar de vendê-los pelo lance mais alto, o prefeito Nicola Scapillati quer encontrar as pessoas certas para cada casa.

    “O esquema aqui é um pouco diferente”, afirma. “Estou seguindo dois caminhos paralelos, entrando em contato com possíveis compradores e antigos proprietários ao mesmo tempo, passo a passo, para fazer a demanda atender à oferta. Não quero que minha cidade seja invadida por gente que está só atrás de casa ou se transforme no mais novo centro de especulação imobiliária.”

    Uma operação sob medida

    Na verdade, em vez de passar pelas autoridades, Scapillati quer que os interessados enviem um e-mail diretamente a ele.

    “Peço a todos os que queiram comprar uma nova casa aqui enviem um email diretamente para mim com um plano detalhado de reforma e o que gostariam de fazer com a propriedade, ou seja, torná-la uma casa, uma pousada, um negócio ou uma loja de artesanato”, detalhou.

    “Os candidatos também devem listar quaisquer necessidades que possam ter, como acesso para cadeirantes. A vila é bem pequena e os carros não conseguem passar pelas ruelas estreitas e pelos degraus.”

    Quanto mais específico for o pedido, mais fácil será encontrar a habitação adequada e estabelecer contato com o atual proprietário.

    “É uma operação direcionada e sob medida”, acrescenta. “As pessoas precisam saber exatamente o que estão comprando.”

    Para tornar tudo mais oficial, Scapillati está avisando as embaixadas italianas no exterior sobre o projeto.

    E qual é a pegadinha? É claro que há condições. Os compradores devem reformar a propriedade no prazo de três anos a partir do momento da compra e pagar uma caução de entrada no valor de dois mil euros (aproximadamente R$ 12,5 mil), que será devolvida assim que as obras forem concluídas.

    Tornando a vila mais segura

    O projeto foi lançado em outubro, quando as autoridades disseram aos proprietários de casas abandonadas que, caso não as reformassem, a prefeitura se apropriaria delas por uma questão de segurança.

    Até o momento, muitas pessoas já concordaram em entregar suas propriedades, dispostas a abrir mão de imóveis cuja demolição custaria caro.

    Scapillati está confiante de que pelo menos 50 proprietários entregarão suas casas. Caso não haja resposta, a câmara municipal desapropriará os imóveis e os colocará à venda.

    Enquanto isso, dezenas de interessados da Europa já o contataram querendo comprar as casas. Ele espera que, com a ajuda deles, a vila não apenas recupere sua alegria de viver, mas também se torne mais segura.

    “Dói ver a beleza do nosso centro histórico marcado por casas em ruínas, caindo aos poucos”, lamenta o prefeito.

    “É triste e perigoso. Sem reforma, esses imóveis são uma ameaça. Eles podem desmoronar a qualquer momento. É também uma questão de segurança”.

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    Scapillati, cuja família emigrou para trabalhar no abastado norte da Itália, sentiu a influência de suas origens na fase adulta. Ele voltou com a missão de preservar a arquitetura da vila, na esperança de que ela possa manter suas tradições.

    “Quero evitar a decadência, manter a chama da vila acesa. Sou movido por paixão e amor pela minha cidade natal”, afirma.

    Embora Castropignano não seja exatamente um lugar animado – possui apenas um restaurante, um bar, uma farmácia e algumas pousadas – ele acha que há um encanto adormecido.

    “Aqui não temos nada de grandioso para oferecer, exceto tranquilidade, silêncio, natureza preservada, ar rico em oxigênio, lindas paisagens e ótima comida – um ambiente ideal para desintoxicar do estresse diário. Não é um lugar movimentado, devo dizer, mas é tranquilo e singelo”, acrescenta.

    Hoje, existem apenas 900 moradores, comparados com 2.500 na década de 1930. Após a Segunda Guerra Mundial, as famílias emigraram em busca de um futuro melhor. Depois, a partir da década de 1960, os jovens começaram a se mudar para cidades maiores para estudar e arrumar emprego. Hoje, 60% dos moradores têm mais de 70 anos de idade.

    Proprietários têm que renovar suas casas, ou correm o risco de perdê-las
    Proprietários têm que renovar suas casas, ou correm o risco de perdê-las
    Foto: Nicola Scapillati

    Um rico passado

    Scapillati gostaria de recuperar a glória do passado, quando Castropignano era um próspero centro feudal que fervilhava de artesãos, comerciantes e viajantes que cruzavam a Itália, sob a proteção de um duque poderoso. A vila, inclusive, já foi famosa por seus sapateiros artesãos.

    Localizada no topo de uma colina rochosa na região central dos Montes Apeninos, Castropignano foi construída sobre um assentamento de samnitas, um antigo povo itálico que a usava como um mirante defensivo contra os romanos, por quem eles acabaram sendo derrotados.

    Os samnitas construíram fortalezas e assentamentos na zona rural ao redor da aldeia. No vale abaixo, ao lado de antigas vilas romanas em ruínas, encontra-se um enorme monumento de pedra construído pelos samnitas. Meia hora ao sul, estão as magníficas ruínas de Sepino, uma cidade fundada pelos samnitas e depois conquistada pelos romanos, cujas muralhas, teatro e templos ainda existem.

    Esta é a parte mais profunda de Molise, uma região da Itália amplamente desconhecida pelos turistas, situada a leste do Lácio e entre Abruzzo e Puglia, na costa sul do Adriático.

    A ausência de visitantes ajudou a preservar sua autenticidade rural, tornando Molise um dos segredos mais bem guardados da Itália.

    As casas abandonadas de Castropignano ficam no centro histórico, acima de um castelo medieval sem telhado que foi bombardeado durante a guerra e cujas pedras serviram para construir as casas que hoje estão à venda.

    Um labirinto de becos sinuosos de paralelepípedos, arcos e passagens cobertas de gárgulas conecta o castelo às camadas residenciais superiores da vila.

    Outro grupo de casas à venda está no vilarejo de Roccaspromonte, no topo de um penhasco a três quilômetros de distância. Perto dele está o Santuario della Madonna del Peschio, uma igreja em ruínas no meio da floresta, com o céu como telhado e carvalhos como paredes.

    Aspectos práticos

    Afinal, o que está disponível para compra? Scapillati afirma que a maior parte dos imóveis à venda está em bom estado, embora as casas estejam com as portas destruídas, pintura descascada e parcialmente cobertos de vegetação.

    Ele calcula que uma reforma completa custará pelo menos em torno de 30 a 40 mil euros (aproximadamente de R$ 188 mil a R$ 250 mil) . Os contribuintes italianos obtêm créditos fiscais por obras ecológicas e antissísmicas.

    No entanto, há muito potencial. A arquitetura é um contraste de estilos – os portais na entrada de casas simples são ricamente ornamentados, por exemplo. Além disso, muitas casas têm vista panorâmica do translúcido rio Biferno, que atravessa o vale.

    Cecilia Vampa, uma aposentada de Roma que se apaixonou por Castropignano durante seus anos universitários, deu um novo estilo a algumas casas de lá. Ela diz que as pedras têm vida.

    “Há uma poesia tecida na forma como foram lavradas, através da arte e do trabalho árduo. Essas pedras contam uma história, me apaixonei por elas. Elas despertam emoções.”

    Vampa diz que gosta dessa comunidade simples e unida e dos moradores hospitaleiros. Em Castropignano, ela afirma que encontrou “a paz rural perdida de sua adolescência”.

    Alguns moradores da cidade dizem que as pedras estão 'vivas'
    Alguns moradores da cidade dizem que as pedras estão ‘vivas’
    Foto: Bruno Sardella

    Fantasmas e desfiles

    Ainda hoje, a vila parece remontar a outra era. Antigamente, as famílias dormiam nos andares superiores, e a cozinha e as áreas comuns ficavam no segundo andar. Animais domésticos, como galinhas e burros – o único meio de transporte – eram mantidos nos estábulos do andar térreo.

    Uma antiga trilha de pastores usada para transportar gados entre as pastagens de verão e de inverno atravessa a vila, e ainda é usada para transportar ovelhas e vacas, bem como para andar de bicicleta, fazer caminhadas e passear de cavalo.

    Todo verão, os moradores da vila celebram o “Dodda”, uma reconstituição do costume em que moças prestes a se casar oferecem um dote ao marido. Mulheres que se casarão em breve desfilam pelas ruas com os tradicionais mantos brancos carregando cestos de linho, cobertores e outros artigos de noiva confeccionados por suas avós. É um gesto simbólico que se acredita trazer sorte.

    Existem até contos assustadores de florestas encantadas repletas de anões e fadas que cantam lamentos à meia-noite.

    Vila fica nos Montes Apeninos
    Vila fica nos Montes Apeninos
    Foto: Bruno Sardella

    Guloseimas gastronômicas e retiros praianos

    Hoje, é a comida que convencerá os indecisos a se mudarem para Castropignano. As especialidades locais incluem suculentas salsichas soppressata recheadas com banha, frios e cotena (torresmo), que ganham um sabor especial ao ar puro.

    Cavatelli é uma massa em formato de parafuso servida com molho de ragu de porco, enquanto a ‘mbaniccia é uma sopa tradicional preparada com “pizza” de milho (pedaços de pão amanhecido). O queijo típico da região é o caciocavallo gosmento, que é amarrado com um nó e pendurado por um cordão, o que lhe dá um formato de lágrima.

    Trufas pretas e brancas tipo premium são encontradas na paisagem ao redor, enquanto os vinhedos locais produzem o vinho tinto mais conhecido de Molise, o Tintilia.

    Gosta de doces? Prepare-se para se deliciar com geleias saborosas, panetones recheados com frutas cristalizadas chamadas Pigna e biscoitos de amêndoa e mel para molhar no vinho.

    Passeios de um dia para Roma e Nápoles são possíveis, pois Castropignano está situada no meio dessas cidades. Também está ao alcance das famosas praias da costa do Adriático, bem como das montanhas cobertas de neve da estação de esqui Campitello Matese. As balsas para as ilhas virgens de Tremiti – um ponto de encontro dos turistas italianos – partem de Termoli, a uma hora de carro.

    (Texto traduzido, clique aqui para ler o original em inglês)

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