Sem voos para a Europa, rota Moscou-Caracas, aviões parados: o “efeito sanção” nos aeroportos da Rússia
Sanções impostas por países ocidentais depois da guerra reconfiguram transporte aéreo
Um imponente Airbus A340 da companhia venezuelana Conviasa, estacionado no pátio do aeroporto de Vnukovo, chama a atenção na chegada a Moscou.
Não há nem sinal de empresas aéreas tradicionais dos Estados Unidos ou da Europa, que deixaram de voar para a Rússia depois das sanções impostas com a guerra na Ucrânia, iniciada em 2022.
Em Vnukovo, um dos três aeroportos internacionais da capital russa, predominam companhias praticamente desconhecidas dos brasileiros.
São, essencialmente, empresas de ex-repúblicas soviéticas (Georgian Airways, FlyOne Armenia, Uzbekistan) e do Oriente Médio (Syrian Air, Iraqi Airways, a turca Pegasus).
E há a Conviasa, a companhia aérea estatal do regime chavista, que foi criada por Hugo Chávez. Apesar da duvidosa rentabilidade, o presidente Nicolás Maduro decidiu inaugurar em 2023 a rota Caracas-Moscou, com voos uma vez por semana e escala em Havana.
As grandes companhias da China e do Oriente Médio continuam voando para a Rússia, o que alterou significativamente a malha aérea do país. É o caso de Emirates, Catar Airways, Turkish Airlines.
Hoje a principal rota internacional da Rússia é o voo Moscou-Istambul, com cerca de 120 frequências semanais. Logo depois vêm as rotas Moscou-Dubai (116 voos por semana) e Moscou-Minsk (99).
É difícil medir se há aumento ou redução da demanda total. As companhias aéreas russas transportaram 105 milhões de passageiros em voos domésticos e internacionais em 2023 — um crescimento de 10% sobre o ano anterior.
Agora, em 2024, a previsão do governo é de queda e um mercado inferior a 100 milhões de passageiros. Esses números, entretanto, não contabilizam a demanda absorvida por empresas estrangeiras. As estatísticas que captam a movimentação geral são mais opacas.
Para quem se vê em um mercado dominado por três empresas, como o Brasil, a quantidade de companhias russas impressiona: Aeroflot, S7, Ural, Utair, Azimuth, Azur.
A complexidade das operações, no entanto, parece ter aumentado. Em julho, o presidente da Rosaviatsia (Agência Federal de Transporte Aéreo da Rússia), Dmitry Yadrov, disse que seria necessário deixar em solo os Airbus A320neo e A321neo da S7.
O motivo, segundo ele, era a dificuldade crescente nas atividades de manutenção dos aviões. Diante das sanções, pode haver escassez de peças de reposição. Por isso, um número de aeronaves maior do que o habitual já tem ficado no chão para servir ao fornecimento de partes para outras unidades.