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    Sem citar Rússia, Lula critica sanções e diz que guerra na Ucrânia escancara incapacidade da ONU

    "Estabilidade e segurança não serão alcançadas onde há exclusão social e desigualdade. A ONU nasceu para ser a casa do entendimento e do diálogo", disse o presidente

    Léo Lopesda CNN , São Paulo

    Em seu discurso na Assembleia-Geral da ONU, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou tentativas de países de “reeditar a Guerra Fria”, disse que a guerra na Ucrânia demonstra incapacidade dos países-membros das Nações Unidas e denunciou o embargo econômico à Cuba.

    Ao longo de sua fala, Lula alertou que as metas de sustentabilidade definidas pela ONU – como a Agenda 2030 – dependem da paz para prosperar.

    “Os conflitos armados são uma afronta à racionalidade humana. Conhecemos os horrores e os sofrimentos produzidos por todas as guerras. A promoção de uma cultura de paz é um dever de todos nós. Construí-la requer persistência e vigilância”, disse.

    O presidente brasileiro chamou a atenção para a situação dos palestinos “e a dificuldade de garantir a criação de um Estado” para seu povo, além das crises no Haiti, Iêmen, Líbia, Burkina Faso, Gabão, Guiné-Conacri, Mali, Níger, Sudão e Guatemala.

    Sem citar Rússia, Lula critica sanções e diz que guerra escancara incapacidade

    Diante de uma Assembleia com a presença do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, com quem irá se reunir na quarta-feira (20), Lula disse que a guerra na Ucrânia “escancara nossa incapacidade coletiva de fazer prevalecer os propósitos e princípios da Carta da ONU”.

    “Não subestimamos as dificuldades para alcançar a paz. Mas nenhuma solução será duradoura se não for baseada no diálogo. Tenho reiterado que é preciso trabalhar para criar espaço para negociações”, completou.

    Sem citar a Rússia, o presidente brasileiro disse que “sanções unilaterais causam grande prejuízos à população dos países afetados”. “Além de não alcançarem seus alegados objetivos, dificultam os processos de mediação, prevenção e resolução pacífica de conflitos”, completou.

    Veja também: Lula e Zelensky vão se encontrar quarta (20) à tarde, em NY

     

    Lula volta a criticar embargo a Cuba e “tentativa de reeditar Guerra Fria”

    Reafirmando as declarações que fez quando esteve em Havana, no último final de semana, Lula criticou o embargo econômico imposto a Cuba.

    “O Brasil seguirá denunciando medidas tomadas sem amparo na Carta da ONU, como o embargo econômico e financeiro imposto a Cuba e a tentativa de classificar esse país como Estado patrocinador de terrorismo”, disse.

    “Continuaremos críticos a toda tentativa de dividir o mundo em zonas de influência e de reeditar a Guerra Fria”, acrescentou.

    Conselho de Segurança perdeu credibilidade, diz Lula

    O presidente ainda cobrou uma maior representatividade na composição do Conselho de Segurança da ONU, que, segundo Lula, “vem perdendo progressivamente sua credibilidade”.

    “Essa fragilidade decorre em particular da ação de seus membros permanentes, que travam guerras não autorizadas em busca de expansão territorial ou de mudança de regime. Sua paralisia é a prova mais eloquente da necessidade e urgência de reformá-lo, conferindo-lhe maior representatividade e eficácia”, afirmou.

    Em outro momento, Lula disse que a comunidade precisa escolher entre dois caminhos. “De um lado, está a ampliação dos conflitos, o aprofundamento das desigualdades e a erosão do Estado de Direito. De outro, a renovação das instituições multilaterais dedicadas à promoção da paz”, completou.

    O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) faz o discurso de abertura da 78ª Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, nos Estados Unidos
    O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) faz o discurso de abertura da 78ª Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, nos Estados Unidos / NIYI FOTE/THENEWS2/ESTADÃO CONTEÚDO

    Lula critica neoliberalismo e “aventureiros de extrema-direita”

    Em seu discurso, o presidente também defendeu que os governos rompam “com a dissonância cada vez maior entre a ‘voz dos mercados’ e a ‘voz das ruas'”.

    Lula disse que o “neoliberalismo agravou a desigualdade econômica e política que hoje assola as democracias. Seu legado é uma massa de deserdados e excluídos”.

    “Em meio aos seus escombros surgem aventureiros de extrema-direita que negam a política e vendem soluções tão fáceis quanto equivocadas. Muitos sucumbiram à tentação de substituir um neoliberalismo falido por um nacionalismo primitivo, conservador e autoritário”, acrescentou.

    “Repudiamos uma agenda que utiliza os imigrantes como bodes expiatórios, que corrói o Estado de bem-estar e que investe contra os direitos dos trabalhadores”, completou.

    Defesa da liberdade de imprensa e Julian Assange

    Ao defender a promoção da democracia e do Estado de Direito, Lula disse que são necessárias políticas culturais, educacionais e digitais de inclusão, além da preservação da liberdade de imprensa.

    “Um jornalista, como Julian Assange, não pode ser punido por informar a sociedade de maneira transparente e legítima. Nossa luta é contra a desinformação e os crimes cibernéticos”, completou o presidente.

    Assembleia-Geral da ONU

    A Assembleia-Geral da ONU começou nesta terça-feira (19) com mais de 140 chefes de Estado e de governo participando presencialmente ou representados por diplomatas.

    Os eventos do “Debate Geral” da Assembleia, com a presença de autoridades dos países membros da ONU, que acontece na sede da Organização, em Nova York, nos EUA, vão se estender até o próximo dia 26.

    Lula chegou à cidade na noite de sábado (16) após participar da reunião de líderes do G77+China, em Cuba. O petista deverá permanecer nos Estados Unidos até quinta-feira (21).

    Por que Lula é o primeiro a falar?

    O Brasil foi um dos membros fundadores da ONU, em 1945, e é o país que abre os discursos da organização desde 1947. Não há um motivo formal para isso, mas, no meio diplomático, a deferência é ao importante trabalho do diplomata brasileiro Oswaldo Aranha, que presidiu a Assembleia-Geral em 1947.

    Há também a tese de que o Brasil foi escolhido para abrir os trabalhos para evitar tensões entre os Estados Unidos e a então União Soviética, que começavam a ter uma relação conturbada durante a Guerra Fria. O Brasil era um país neutro.

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