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    Seis meses de guerra na Ucrânia: veja pontos para entender o futuro do conflito

    Invasão russa completa 6 meses nesta quarta-feira (24) de agosto

    Ingrid OliveiraTiago Tortellada CNN

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    Já se passaram seis meses desde que a Rússia invadiu a Ucrânia com a autorização do presidente russo, Vladimir Putin, e algumas questões que envolvem a geopolítia internacional podem ser determinantes para o futuro do conflito.

    O que era “operação militar especial” na região de Donbass, no Leste da Ucrânia, virou um conflito em quase todo o território ucraniano, com explosões em várias cidades, incluindo a capital Kiev.

    Desde 24 de fevereiro, 5.587 civis foram registrados como mortos e 7.890 feridos, embora as baixas reais sejam muito maiores, disse o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) na segunda-feira (22).

    Já o chefe das forças armadas da Ucrânia, general Valeriy Zaluzhnyi, disse na segunda-feira (22) que cerca de 9.000 militares ucranianos foram mortos na guerra, o primeiro número de mortos fornecido pelo alto escalão militar desde a invasão.

    A tensão no leste da Ucrânia, no entanto, começou em 2014, depois que um presidente pró-Rússia foi derrubado na Revolução Maidan da Ucrânia e a Rússia anexou a Crimeia, com forças apoiadas pela Rússia lutando contra as forças armadas da Ucrânia.

    Após a invasão em 2022, os países do Ocidente e a União Europeia (UE) aplicaram uma série de sanções aos russos — que segundo Putin, está provocando uma crise global. E a Rússia respondeu ameaçando cortar o fornecimento de gás aos países europeus.

    À medida que o conflito se estende e o futuro fica incerto, a CNN conversou com quatro especialistas para avaliar quais são os pontos crucrias para entender os próximos cenários da tensão e se é possível prever o fim da guerra se aproximando.

    Christopher da Cunha Garman, diretor administrativo para a América Latina do Eurasia Group, disse em entrevista à CNN que as coisas ficaram “muito difíceis” com o decorrer do conflito e não acredita em uma conversa “diplomática”.

    “Algumas coisas estão ficando claras: acho muito difícil uma saída diplomática que possa levar a retirada de sanções à Rússia e uma resolução pacífica desse conflito duradouro”, disse.

    Para Vinicius Rodrigues Vieira, professor do curso de Relações Internacionais da FAAP, a “Ucrânia passou pelo pior momento e reagiu melhor que o esperado”, afirmou à CNN.

    “Após seis meses de guerra, percebemos que a Rússia não é tão forte para derrotar a Ucrânia e nem as forças ucranianas são tão fracas para sucumbir à Rússia”, avaliou.

    Barbara Motta, professora de Relações Internacionais na Universidade Federal de Sergipe, explicou que o conflito tende a se arrastar mais não apenas mais do que o esperado, mas mais que seis, sete, oito meses.

    E ela cita alguns motivos para isso: “um deles é não só que a Rússia está mais acostumada com batalhas mais longas, que exigem paciência, mas também que, em muitas circustâncias, o tempo é favorável à Rússia. Conforme as guerras se alongam, não só demais governos, como Estados Unidos e membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), mas a opinião pública vai perdendo o interesse e pressionando seus respectivos governos pra se engajar em relação a essas dinâmicas internacionais”, afirmou.

    Já Leandro Consentino, especialista em Relações Internacionais e professor de Ciência Política do Insper, acredita “a gente está num momento de bastante dificuldade de prever o final desse conflito”.

    Sanções à Rússia

    Desde o início da do conflito, países do Ocidente e da Europa sancionaram a Rússia em diversas áreas. A invasão e as sanções ocidentais levaram a aumentos acentuados nos preços de fertilizantes, trigo, metais e energia, alimentando uma crise alimentar e uma onda inflacionária que está atingindo a economia global.

    Assim, logo após a invasão da Ucrânia pela Rússia, os preços internacionais do petróleo atingiram seus níveis mais altos desde os registros de 2008.

    “Mas essas sanções do Ocidente fizeram cócegas. Essas sanções estão sendo ineficázes. O Putin foi muito inteligente, a Rússia passou a exigir o pagamento da energia em rublos (moeda local)”, disse Rodrigues Vieira.

    Segundo ele, a moeda que usa para fazer transações externas “acaba dando muito poder ao emissõr”, disse.

    O professor da Faap avalia que nos últimos 10 nos a Rússia e a China estreitaram os laços. Então, “o que os russos compravam da Alemanha, por exemplo, [após as sanções] passou a comprar a China, da Índia”, disse Rodrigues Vieira.

    Demanda de gás

    Os países da União Europeia (UE) fazem um movimento que tenta suavizar o plano do bloco de exigir uma diminuição da demanda de gás, à medida que a Europa se prepara para um fornecimento incerto de gás russo durante o inverno no Hemisfério Norte.

    No final de julho, a Comissão Europeia propôs que os 27 estados membros da UE reduzissem seu uso de gás em 15% entre os meses de agosto e março de 2023. A meta seria voluntária, mas a Comissão poderia torná-la obrigatória em caso de emergência de abastecimento de gás.

    Para parâmetro, a Rússia é o segundo maior exportador de petróleo do mundo depois da Arábia Saudita e o principal fornecedor de gás para a Europa.

    Depois que a Rússia cortou os fluxos através do gasoduto Nord Stream 1 para a Alemanha, os preços do gás no atacado dispararam na Europa.

    Um corte completo levaria a zona do euro a uma recessão, com fortes contrações tanto na Alemanha quanto na Itália.

    Os especialistas ouvidos pela CNN disseram que as tentativas de reduzir a dependência do petróleo, gás e produtos petrolíferos russos — ou mesmo limitar seus preços — exacerbaram o medo de uma crise energética.

    No entanto, Cunha Garman disse que o que se pode esperar para o futurro é uma “política de racionamento”.

    “Não interessa para a Rússia um bloqueio de fornecimento de gás completo. É uma preocupação assim, mas um racionamento mais forte, mas não a ponto de deixar de aquecer as casas. Gera um estresse, mas é mais uma política de racionamento”, disse o especialista.

    “Acreditamos que os russos vão deixar a Europa em uma corda bamba [com o fornecimento do gás], esticar no limite, mas o corte do gás não será ao ponto de gerar um inverno mais preocupante”, continua Garman.

    Questões de logística e custos social e econômico guerra

    Com a guerra “longe de acabar”, como dizem os especialistas, os países começam a sentir os preços dos conflitos.

    Na última atualização, feita no dia 23 de agosto, mais de 6,6 milhões de refugiados da Ucrânia registrados em toda a Europa, com os maiores números na Polônia, Rússia e Alemanha, segundo dados da agência da ONU.

    Para Rodrigues Vieira, se de um lado a Putin conta com o apoio de uma população nacionalista, do outro, soldados podem sofrer com uma questão logística na Ucrânia com a chegada do inverno.

    “Os ucranianos tem uma vantagem além do território. A Rússia tem um problema de logística, que foi muito mal estruturada. E isso pode piorar no inverno, como o envio de suplementos, armamentos, roupas, então pode haver, com base na história militar, uma vantagem dos locais sobre os invasores”, disse.

    A desvantagem da Ucrânia, segundo o professor da Faap, seria “a Europa enfrentar escassez de gás”, disse.

    Apesar do apoio recebido na Ucrânia, com os Estados Unidos fornecendo cerca de US$ 8,5 bilhões em assistência de segurança desde 24 de fevereiro, além de armamento incluindo sistemas antiaéreos, equipamentos de proteção química, biológica, radiológica e nuclear, os impactos econômicos e sociais são muitos.

    Segundo Cunha Garman, existe um desejo de não recuar de ambos lados. “Mas ao mesmo tempo, os custos econômicos e domésticos vão aumentando. Então, eu diria que, o desejo de o conflito chegar ao fim, não chega ao ponto de abdicar dos objetivos e chegar a um acordo com a Rússia”, disse o diretor administrativo para a América Latina do Eurasia Group.

    Rodrigues Vieira avalia que “a opinião pública da Europa será muito importante. A população pode pensar se não há um crescente custo no qual os europeus não estão dispostos a pagar. Então, podemos ter um inverno de modo mais dramático na Europa”.

    *Com informações da Reuters

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