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    Sanções vão colocar à prova a “fortaleza” econômica da Rússia

    Presidente russo tem nas mãos 11ª maior economia do mundo e tenta construir economia capaz de suportar penalidades fazendo grandes reservas de moeda estrangeira

    Análise por Charles Rileydo CNN Business

    Vladimir Putin está esperando o Ocidente. Desde 2014, quando os Estados Unidos e seus aliados ocidentais impuseram sanções a Moscou após a anexação da Crimeia e a queda do voo MH17 da Malaysia Airlines, o presidente da Rússia vem tentando construir uma economia capaz de suportar penalidades muito mais duras.

    O Ocidente esta semana manteve parte de seu poder de fogo de sanções em reserva depois que as tropas russas invadiram a Ucrânia – acompanhe a cobertura especial da CNN. Ainda assim, as medidas anunciadas pelos Estados Unidos, União Europeia e Reino Unido vão pôr à prova essa “fortaleza econômica” da Rússia.

    O medo do que as sanções poderiam fazer derrubou as ações russas em 33% na quinta-feira (24). Desde então, eles recuperaram algumas dessas perdas, mas o rublo continua sendo negociado perto de baixas recordes em relação ao dólar e ao euro.

    A economia de US$ 1,5 trilhão da Rússia é a 11ª maior do mundo, atrás apenas da Coreia do Sul. Desde 2014, seu produto interno bruto mal cresceu e a população ficou mais pobre. O valor do rublo também caiu, reduzindo o valor da economia russa em US$ 800 bilhões.

    Durante o mesmo período, Moscou tentou afastar do dólar a sua economia dependente do petróleo, os gastos limitados do governo e estoques de moedas estrangeiras.

    Os economistas de Putin têm procurado aumentar a produção doméstica de certos bens bloqueando produtos equivalentes do exterior. Enquanto isso, Moscou acumulou um baú de guerra de US$ 630 bilhões em reservas internacionais – uma quantia enorme em comparação com a maioria dos outros países.

    David Lubin, economista do Citi e membro associado da Chatham House, disse que essa “fortaleza da economia” exige a criação de grandes reservas em moeda estrangeira que podem ser gastas se as sanções afetarem.

    “A Rússia seguiu esse padrão assiduamente”, escreveu ele recentemente.

    Algumas dessas reservas já estão sendo implantadas. O banco central russo disse na quinta-feira que estava intervindo nos mercados de câmbio para sustentar o rublo. E na sexta-feira, disse que estava aumentando a oferta de notas para caixas eletrônicos para atender à crescente demanda por dinheiro. A agência de notícias estatal russa TASS informou que vários bancos tiveram aumento de saques de dinheiro desde a invasão da Ucrânia, principalmente de retirada de moeda estrangeira.

    Ao mesmo tempo em que constrói um baú de guerra, a estratégia austera de Putin também limitou o crescimento econômico, o investimento e a produtividade, e priorizou as empresas estatais sobre as empresas privadas.

    Os rendimentos dos russos comuns regrediram à níveis vistos pela última vez no início de 2010, e os novos investimentos estrangeiros diretos são mínimos. A Rússia também não conseguiu se diversificar para além do petróleo e do gás, deixando-a fortemente exposta a oscilações nos preços globais das commodities.

    Enfrentando a ‘fortaleza’

    Menos de 24 horas depois que as tropas russas atacaram a Ucrânia pelo Norte, Sul e Leste, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, divulgou sanções abrangentes destinadas a prejudicar a economia da Rússia e transformar Putin em um “pária” internacional.

    As penalidades dos EUA visam as duas maiores instituições financeiras da Rússia, Sberbank e VTB, e as impedem de processar pagamentos através do sistema financeiro dos EUA. As empresas estatais russas não poderão levantar capital através dos mercados americanos. As sanções cobrem quase 80% dos ativos bancários na Rússia.

    Os Estados Unidos também estão tentando atrapalhar as empresas militares e industriais russas, impedindo-as de comprar tecnologia crítica, como chips avançados de computador.

    A União Europeia, Reino Unido, Japão, Austrália e outros países anunciaram sanções próprias contra empresas e indivíduos russos, uma ação coordenada sem precedentes em termos de alcance e de potencial impacto econômico. Autoridades dos EUA, Reino Unido e UE foram mais longe na sexta-feira e sancionaram o próprio Putin.

    “Acho que não vimos nada assim, e é muito, muito mais severo do que as sanções de 2014”, disse Iikka Korhonen, chefe do Instituto de Economias Emergentes do Banco da Finlândia e especialista em sistemas bancários e financeiros da Rússia.

    Ainda assim, a Rússia vem preparando sua economia para esse momento. E com os preços globais do petróleo de US$ 100 por barril produzindo enormes quantidades de receita para o Estado, Moscou pode garantir que os salários e as pensões sejam pagos.

    “Eles podem administrar por um tempo”, disse Korhonen. “Mas quanto mais isso durar, significa que o crescimento será mais lento”.

    Mais sanções?

    Os Estados Unidos e a União Europeia evitaram até agora atacar as enormes exportações russas de petróleo e gás natural, e a coalizão não conseguiu chegar a um consenso sobre cortar Moscou da SWIFT, uma rede de mensagens de alta segurança que conecta milhares de instituições financeiras de todo o mundo.

    Alguns especialistas argumentam que essas medidas devem ser consideradas agora para impedir Putin de novos ataques. A Ucrânia apelou para que a Rússia seja removida da SWIFT, um pedido que foi apoiado pela Lituânia, Estônia, Letônia e Reino Unido, mas resistida por outros países europeus – principalmente a Alemanha.

    Ambas as medidas podem vir com um impacto econômico significativo para o Ocidente. Os preços do gás natural estão extremamente altos na Europa, e cortar o fornecimento da Rússia pode aumentar ainda mais. As exportações reduzidas de petróleo russo também aumentariam os preços do petróleo e da gasolina.

    Mas com as tropas russas avançando sobre a capital Kiev, é um preço que alguns dizem que o Ocidente deveria estar disposto a pagar.

    “Não temos cinco anos para degradar lentamente a economia russa. Precisamos fazer isso agora”, disse Tyler Kustra, professor assistente de política e relações internacionais da Universidade de Nottingham, na Inglaterra.

    Nathan Hodge e Vasco Cotovio contribuíram com esta reportagem.

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