Rússia terá “um caso a responder” por Bucha, diz procurador-chefe do TPI
"Quaisquer que sejam as narrativas e contranarrativas, as evidências devem ser devidamente testadas", afirmou Karim Khan à CNN
Haverá “um caso a ser respondido no devido tempo” sobre os supostos crimes de guerra da Rússia na cidade ucraniana de Bucha, disse à CNN o promotor-chefe do Tribunal Penal Internacional (TPI), Karim Khan, na terça-feira (26).
“Vamos chegar à verdade porque não há lugar para se esconder no tribunal. Quaisquer que sejam as narrativas e contranarrativas, as evidências devem ser devidamente testadas, e haverá – eu acho – um caso para ser respondido no devido tempo”, disse Khan a Anderson Cooper, da CNN, quando perguntado como o TPI pode trabalhar em um caso na Ucrânia.
Khan fez os comentários enquanto revisava imagens compartilhadas com a CNN por promotores ucranianos enquanto investigavam supostos crimes de guerra russos.
Localizada nos arredores de Kiev, Bucha foi ocupada por forças russas por cerca de três semanas em março. As fotos, que foram tiradas de 5 a 7 de março, mostram os corpos de civis espalhados pelas ruas de vários locais da cidade.
O Kremlin negou qualquer envolvimento nos assassinatos em massa de civis na Ucrânia, enquanto reitera alegações de que imagens de corpos nas ruas de Bucha são “falsas”.
Khan abordou diretamente a desinformação da Rússia. “Aqueles corpos que estão nesses sacos na tela não são falsos. Eu os vi. Fiquei ao lado deles. A questão é como eles morreram, quem é o responsável e em que circunstâncias” Khan disse, acrescentando que o mundo estava assistindo para ver quão “efetivo o estado de direito” seria em relação à invasão da Ucrânia pela Rússia.
“Precisamos avançar de uma maneira que talvez seja muito mais eficaz do que no passado”, explicou Khan, sugerindo questões jurisdicionais enfrentadas pelo TPI.
Na segunda-feira (25), o TPI se juntou a uma investigação da União Europeia sobre possíveis crimes de guerra cometidos na Ucrânia durante a invasão da Rússia, marcando a primeira investigação conjunta do tribunal em seus vinte anos de história.
“O Gabinete do Procurador do TPI em Haia se tornará um participante da equipe de investigação conjunta (JIT) sobre supostos crimes internacionais cometidos na Ucrânia”, disse a agência de cooperação judiciária da UE em comunicado.
Durante uma visita às cidades de Bucha e Borodianka em meados de abril, Khan disse que havia “motivos razoáveis para acreditar que crimes dentro da jurisdição do TPI” estavam sendo cometidos lá.
Mas Khan também alertou que seria “desafiador” garantir que a justiça seja feita na Ucrânia, dada a decisão da Rússia de retirar sua assinatura do estatuto do TPI, que dá ao tribunal jurisdição para processar indivíduos por genocídio, crimes contra a humanidade, crimes de guerra, e o crime de agressão.
A Rússia também não extradita seus cidadãos para outros países.
Evidências de valas comuns nas cidades de Bucha e Borodianka continuaram a surgir desde o início de abril, após a retirada das forças russas da região de Kiev.