Relatório dos EUA detalha importância da tecnologia chinesa na guerra da Ucrânia
Documento não confidencial cita dados de código aberto, fontes da imprensa e avaliação da inteligência americana mostrando como a China burla sanções impostas contra a Rússia após início do conflito no Leste Europeu
A China está fornecendo tecnologia e equipamentos para a Rússia que são cada vez mais importantes para a guerra de Moscou na Ucrânia, de acordo com um relatório recém-divulgado compilado pelo Gabinete do Diretor de Inteligência Nacional dos Estados Unidos.
O relatório, intitulado “Apoio fornecido pela República Popular da China à Rússia” e datado de 2023, não é confidencial e cita amplamente dados de código aberto e relatórios da imprensa ocidental para apoiar essas alegações. Ele inclui a avaliação da comunidade de inteligência dos EUA de que a China “se tornou um apoio cada vez mais importante para a Rússia em seu esforço de guerra”.
O relatório diz que, em março, a China “enviou mais de US$ 12 milhões (cerca de R$ 57 milhões) em drones e peças de drones” para a Rússia, citando uma “análise de terceiros” dos dados alfandegários russos.
As empresas de defesa estatais chinesas também têm fornecido às empresas de defesa do governo russo sancionadas outras tecnologias de uso duplo “que os militares de Moscou usam para continuar a guerra na Ucrânia”, diz o relatório, incluindo “equipamento de navegação, tecnologia de interferência e caça – peças de jato”.
As exportações de semicondutores da China para a Rússia também aumentaram consideravelmente desde 2021, acrescenta, com “centenas de milhões de dólares em semicondutores fabricados ou de marca americana fluindo para a Rússia”, apesar das pesadas sanções ocidentais e controles de exportação.
O relatório diz que as empresas chinesas estão, “provavelmente”, ajudando Moscou a fugir dessas sanções – embora seja “difícil determinar a extensão” dessa ajuda.
O texto diz ainda que a comunidade de inteligência não pode ter certeza se Pequim está interferindo deliberadamente na capacidade dos EUA de realizar verificações de controle de exportação, por meio de entrevistas e investigações, dentro da China.
O relatório aponta, no entanto, que a China “se tornou um parceiro econômico ainda mais crítico para a Rússia desde a invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022”.
Um porta-voz da Embaixada da China em Washington disse que a China “mantém uma posição objetiva e justa” sobre o conflito.
“Na questão da Ucrânia, a China defende uma posição objetiva e justa, promove ativamente negociações de paz e desempenhou um papel construtivo na facilitação de uma solução política para a crise”, disse Liu Pengyu.
“A China não vende armas para as partes envolvidas na crise da Ucrânia e lida com prudência com a exportação de itens de uso duplo de acordo com as leis e regulamentos”, disse Liu em nota à CNN.
“A cooperação econômica e comercial China-Rússia é completamente honesta, não tem como alvo terceiros e deve estar livre de interrupção ou coerção por terceiros”, disse ele.
Os países estão usando sistemas de pagamento domésticos com mais frequência para transações, a fim de contornar os sistemas bancários ocidentais dos quais a Rússia foi isolada, diz o relatório, e a China tem aumentado suas importações de suprimentos russos de petróleo e gás.
Esses suprimentos foram amplamente proibidos pelos EUA e pela Europa em uma tentativa de cortar o baú de guerra da Rússia.
O relatório foi determinado pela Lei de Autorização de Inteligência FY2023 aprovada pelo Congresso e foi divulgado pelos democratas do Comitê de Inteligência da Câmara na quinta-feira (27).
“Esta avaliação não confidencial, exigida pela Lei de Autorização de Inteligência do ano passado, detalha a extensão do apoio da China à invasão em andamento de Putin”, disse o deputado democrata Jim Himes, membro do Comitê de Inteligência da Câmara, em nota.
“A guerra da Rússia contra a Ucrânia foi possibilitada em grande parte pela disposição da China em apoiá-los, de maneira direta e indireta. Espero que este relatório deixe claro para Pequim que os Estados Unidos e o mundo saberão se tomarem outras medidas para permitir a invasão brutal de Putin”, conclui ele.
O governo Biden levantou repetidamente preocupações com a China sobre evidências sugerindo que empresas chinesas venderam equipamentos não letais à Rússia para uso na Ucrânia, mas autoridades americanas dizem que não viram até agora sinais de que a China forneceu armas ou ajuda militar letal para a Rússia.
Os EUA acreditam que, no início da guerra, a China pretendia vender armas letais à Rússia para uso na Ucrânia, disse um funcionário dos EUA à CNN. Mas a China reduziu significativamente esses planos à medida que a guerra avançava, disse essa pessoa – algo que o governo Biden considerou uma vitória.
A China reivindicou neutralidade sobre a guerra na Ucrânia e pediu paz no conflito. Mas Pequim também evitou criticar publicamente os esforços de guerra da Rússia e os dois países enfatizaram repetidamente sua cooperação, com o presidente russo, Vladimir Putin, e o ministro da Defesa chinês, Li Shangfu, declarando uma parceria militar “sem limites” após uma reunião em abril.
VÍDEO – Ditador da Coreia do Norte apresenta armas a ministro da Rússia
*Com informações de Jennifer Hansler, da CNN