Rei Charles e premiê do Reino Unido devem discutir reparação sobre escravidão
Encontro dos líderes da organização acontece em Samoa; os dois se preparam para conversa sobre envolvimento britânico em comércio transatlântico de escravos
O governo britânico e o rei Charles III estão se preparando para uma conversa sobre reparações pelo comércio transatlântico de escravos, à medida que a Cúpula dos líderes da Commonwealth, em Samoa, se aproxima.
“Acho que deveríamos olhar para o futuro”, disse Keir Starmer, primeiro-ministro do Reino Unido, a repórteres durante viagem ao Pacífico.
“Conversei com muitos de nossos colegas da Commonwealth e eles estão enfrentando desafios reais sobre questões climáticas”, adicionou.
Mas a BBC informou nesta quinta-feira (24) que os diplomatas estão preparando o texto para um comunicado oficial da Cúpula, comprometendo-se a uma “conversa significativa, verdadeira e respeitosa” sobre o assunto.
O Reino Unido escravizou 3,1 milhões de africanos entre 1640 e 1807, transportando-os para colônias em todo o mundo, segundo a Historic England, uma organização financiada pelo governo.
Muitas dessas pessoas foram levadas para o Caribe para trabalhar em plantações de açúcar, o que enriqueceu os proprietários com a exportação de açúcar, melaço e rum, de acordo com o Arquivo Nacional.
Governos britânicos, seguindo um padrão, demonstram certa resistência em pedir desculpas formalmente pelo comércio de escravos ou cogitar perspectivas de reparações.
Um relatório de 2023 do Brattle Group, conduzido pela Universidade das Índias Ocidentais e convocado pelo então juiz do Tribunal Internacional de Justiça Patrick Robinson, concluiu que se poderia esperar que o Reino Unido pagasse US$ 24 trilhões para 14 países, o que equivale a cerca de sete vezes o PIB do Reino Unido (que é de US$ 3,5 trilhões).
Nos últimos anos, a monarquia britânica adotou um tom mais político ao abordar o período de escravidão transatlântico.
A Reunião de Chefes de Governo da Commonwealth, conhecida como Commonwealth Heads of Government Meeting (CHOGM), é realizada a cada dois anos e reúne delegações dos 56 Estados-membros.
O rei Charles III também está presente em Samoa. Ele chegou na quarta-feira (23) à capital Apia, vindo da Austrália, e abrirá formalmente a Cúpula como chefe da organização.
“Erros do passado são causa de tristeza”
No Quênia, em novembro de 2023, na sua primeira viagem a um país da Commonwealth como chefe do órgão, o rei Charles disse que “os erros do passado são causa da maior tristeza e do mais profundo arrependimento”.
No último encontro dos líderes da Commonwealth, há dois anos, em Ruanda, Charles, que na época substituiu a Rainha Elizabeth II, disse que a Commonwealth precisava “encontrar novas formas de reconhecer o passado”.
“Simplesmente, chegou a hora desta conversa. Excelências, as conversas começam escutando”, acrescentou.
Desde sua ascensão, após a morte da Rainha Elizabeth II, Charles III também demonstrou o seu apoio à investigação sobre o envolvimento histórico da monarquia com o período.
O príncipe William também falou de uma “profunda tristeza” ao visitar a Jamaica em 2022.
Embora os integrantes da Família Real britânica tenham demonstrado arrependimento, não chegaram a pedir desculpas.
Um pedido formal de desculpas e a aceitação da responsabilidade são vistos por muitos como a porta de entrada para a restituição financeira que o governo já deixou claro que não aceitará.
Mas a questão certamente dominará os eventos da Commonwealth nos próximos anos. O bloco elegerá o seu novo secretário-geral esta semana, e os três candidatos disseram que apoiam as reparações, segundo informações da Reuters.
Hanna Ziady, da CNN, contribuiu com esta matéria.