Reforma judicial de Israel gera protestos até de ex-espiões do Mossad
Manifestação de antigos agentes, que continuavam prestando assessoria ao governo, representa ameaça às ações de segurança do país, sempre envolvo em conflitos com os palestinos e vizinhos árabes
Todas as manhãs, Amir monta um estande de protesto para alertar os transeuntes de que a democracia israelense está em perigo devido a uma legislação fortemente contestada para restringir a força dos tribunais.
Mas ele é um manifestante muito incomum: um ex-espião do Mossad que nunca antes questionou o Estado pelo qual arriscou sua vida em missões estrangeiras.
Amir, que não quis fornecer o sobrenome devido às delicadas funções secretas anteriores, está entre os ex-veteranos do Mossad, o serviço de inteligência estrangeiro de Israel, que estão saindo às ruas em protesto contra a reforma judicial promovida pelo governo.
Na semana passada, a coalizão nacionalista-religiosa do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu aprovou a primeira fase da reforma, limitando os poderes da Suprema Corte para anular decisões do governo consideradas “irracionais”, apesar de meses de protestos de centenas de milhares de israelenses.
À CNN, Netanyahu diz que reforma visa trazer “equilíbrio” aos poderes
Os manifestantes conseguiram o apoio de reservistas em unidades de elite das forças especiais e pilotos de caça que ameaçaram não comparecer ao serviço, e a dissensão se espalhou entre ex-membros do Mossad.
Alguns oficiais atuais do Mossad também se juntaram aos protestos, o que eles têm permissão para fazer, disseram dois ex-oficiais à Reuters.
No caso de Amir, ele disse que suspendeu por enquanto a assessoria que prestava ao Mossad após se aposentar.
“Servi fielmente a diferentes administrações por 20 anos, mesmo aquelas que não refletiam minhas visões políticas. Aceitei o resultado da eleição no ano passado, mas quando eles (o atual governo) mudaram as regras do jogo, foi o limite”, disse Amir na cidade costeira mediterrânea de Herzliya.
Preocupações com a moral estão surgindo dentro do Mossad, com alguns dentro da agência altamente secreta considerando a aposentadoria precoce, de acordo com mensagens vistas pela reportagem.
Análise: Israel aprova lei que limita poderes da Suprema Corte
Um porta-voz do gabinete do primeiro-ministro se recusou a comentar. O governo nega que a reforma judicial comprometa a democracia, dizendo que o tribunal superior tem sido “excessivamente intervencionista”.
Um ex-chefe do Mossad, Efraim Halevy, disse que não há sinais de que tal descontentamento esteja afetando as habilidades vitais da agência.
A decisão de ex-espiões de participar de protestos aumenta os riscos, afetando uma instituição lendária que ajudou Israel a derrotar Estados árabes em muitos conflitos e a travar uma guerra paralela contra o arqui-inimigo Irã.