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    Reconhecimento da Palestina indica fim da perspectiva por acordo, diz professor

    Países europeus anunciaram nesta quarta-feira que vão reconhecer Estado palestino oficialmente no próximo dia 28

    Ataque israelense em Nuseirat, região central da Faixa de Gaza
    Ataque israelense em Nuseirat, região central da Faixa de Gaza 14/5/2024 REUTERS/Ramadan Abed

    Salvador Stranoda CNN

    O reconhecimento do Estado palestino por países europeus — decisão anunciada nesta quarta-feira (22) por Irlanda, Espanha e Noruega — indica o fim da perspectiva de que Israel e as lideranças palestinas conseguirão chegar a um acordo para a garantia da paz duradoura na região, avalia Michel Ghetman Professor de Sociologia e do Programa de Pós Graduação em História Social da UFRJ.

    O processo será oficializado no dia 28 deste mês, quando os três países se juntarão ao grupo de mais de 130 nações que reconhecem o Estado palestino. A decisão, classificada por Ghetman como acertada, aponta para uma mudança de paradigma na forma como a comunidade internacional encara as tensões no Oriente Médio.

    “Até então, o debate era sobre a criação de um Estado palestino fruto de negociações. É isso que acontece desde 1991. Agora, efetivamente, o horizonte de expectativas é de que a ideia de negociação está saindo do trilho”, afirma Ghetman. O que, segundo o professor, indica a “sinalização de um esforço internacional para formular esse acordo”.

    No início de maio, a Assembleia-Geral das Nações Unidas aprovou, por larga maioria, a elegibilidade da Palestina para se qualificar a Estado-membro da entidade. A decisão, entretanto, exige o aval do Conselho de Segurança, onde os EUA detêm poder de veto.

    Fim do diálogo

    A guerra na Faixa de Gaza entre as Forças de Defesa Israelenses e o Hamas, que controla o enclave, representa o ápice do distanciamento de qualquer solução diplomática entre palestinos e israelenses. Mas a corrosão das bases que sustentavam esse diálogo já havia começado há anos.

    Segundo Ghetman, dois movimentos distintos, mas que tem relação entre si, explicam a perda de confiança nas negociações por uma solução de dois Estados.

    Primeiro, o fortalecimento do Hamas como principal representante dos palestinos em razão do esvaziamento dos poderes da Autoridade Palestina, que governa a Cisjordânia e partes de Jerusalém. E segundo, a falta de interesse da coalizão de partidos liderada por Benjamin Netanyahu em, de fato, implementar um Estado palestino.

    “O Hamas se tornou a alternativa concreta de poder muito pela relação que construiu com os governos de Benjamin Netanyahu até aqui. E a coalizão que Netanyahu lidera não é apenas contrária à solução de dois Estados, mas está impossibilitando também qualquer avanço no reconhecimento da existência da possibilidade de um povo palestino ter um Estado-nação”, avalia Ghetman.

    EUA lideram pedidos por negociação

    Apesar da maioria dos países-membro da ONU aprovar o reconhecimento do Estado palestino, um grupo relevante para a comunidade internacional segue distante dessa postura: os países do G7, bloco formado por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido.

    Nesta quarta-feira (23), a Casa Branca classificou como um erro o anúncio da decisão dos países europeus de reconhecer a Palestina como um Estado. E voltou a reafirmar a confiança dos EUA no diálogo entre Israel e os palestinos para a criação da solução de dois Estados.

    “No G7, estamos pensando nas economias vinculadas ao bloco estadunidense, onde ainda há a percepção de que é possível chegar a um acordo. E há, também, um outro movimento. Algumas das economias do G7 estão sob influência de políticos radicais, o que faz esses países recuarem de uma posição mais avançada de reconhecimento do Estado palestino por conta das configurações específicas desses países comandados por partidos de extrema-direita”.

    Enquanto não há qualquer perspectiva pela criação do Estado palestino ou, sequer, por um acordo que leve a um cessar-fogo permanente na Faixa de Gaza, israelenses e palestinos que vivem no território compartilhado seguem como as principais vítimas da disputa.

    No ataque de 7 de outubro, que deu início à guerra, o Hamas matou cerca de 1,2 mil israelenses e sequestrou mais de 240 pessoas. Até aqui, operação coordenada pelo gabinete de guerra de Netanyahu, por sua vez, levou à morte de mais de 35 mil palestinos.

    “A única possibilidade de segurança na região, tanto para palestinos quanto para israelenses é a criação de um Estado palestino o mais rápido possível. A não-criação do Estado palestino fortalece grupos como a extrema-direita israelense e o Hamas, que dialogam numa espécie de dança mórbida pelo menos desde 2009”, finaliza Ghetman.