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    Reeleito, premiê do Camboja ocupa poder há 38 anos reprimindo opositores e prepara filho para sucessão

    Hun Sen está no poder desde 1985; neste domingo (23), seu partido conquistou mais uma vitória esmagadora nas eleições – após anos de repressão a qualquer figura de oposição

    Da CNN

    Após 38 anos no poder, o primeiro-ministro do Camboja, Hun Sen, garante mais uma vitória esmagadora de seu partido nas eleições – após anos de repressão a qualquer figura de oposição –, enquanto prepara uma possível sucessão de poder para seu filho.

    Hun Sen tem 70 anos e está no poder desde 1985. Apenas os líderes de Camarões e Guiné Equatorial, ambos países também autoritários, estão no poder há mais tempo.

    Os eleitores do Camboja foram as urnas neste domingo (23). O partido de Hun Sen, o Partido do Povo do Camboja (CPP), não enfrentou nenhum oponente viável após uma repressão implacável de anos contra seus rivais. O CPP governa o país desde 1979.

    As urnas fecharam com uma participação de 84%, de acordo com o comitê eleitoral. Cerca de 8,1 milhões de pessoas votaram, em uma disputa entre o CPP e outros 17 partidos pouco conhecidos, nenhum deles ganhou assentos na última eleição em 2018. O único oponente com alguma influência real foi desclassificado da corrida.

    “Ganhamos de forma esmagadora… mas ainda não podemos calcular o número de assentos”, disse o porta-voz do CPP, Sok Eysan, neste domingo.

    Nenhum prazo havia sido dado para a entrega do cargo até esta quinta-feira (20), quando Hun Sen sinalizou que seu filho mais velho, Hun Manet, “poderia ser” primeiro-ministro no próximo mês, dependendo se ele “será capaz ou não”.

    Hun Sen e seu regime autoritário

    O Camboja, um país de 16,5 milhões de pessoas, tem uma história recente muito tumultuada. O regime do partido comunista do Camboja, o Khmer Vermelho, desencadeou um genocídio de seu próprio povo enquanto esteve no poder de 1975 a 1979.

    A população do país lida com o trauma intergeracional, enquanto a pobreza e a corrupção permanecem profundamente enraizadas no governo. O CPP assumiu o poder depois da invasão vietnamita, que derrubou o Khmer Vermelho.

    Hun Sen – um ex-comandante do Khmer Vermelho que mudou de lado – governa o Camboja há quase quatro décadas.

    As eleições no país foram inicialmente competitivas e com uma oposição tolerada. Mas nos anos mais recentes, Hun Sen se tornou cada vez mais autoritário – reprimindo a dissidência e prendendo os críticos de seu regime, forçando muitos a fugir para o exterior.

    Apoiadores participam de um comício pré-eleitoral para o Partido do Povo Cambojano (CPP), em 26 de julho de 2013, em Phnom Penh, Camboja. / Nicolas Axelrod/Getty Images

    “Como todos os ditadores, Hun Sen nunca desistirá de seu poder”, disse a política cambojana Mu Sochua, que já foi ministra de Assuntos de Mulheres e Veteranos do país, e desde então fugiu para o exterior. “A eleição de 23 de julho é apenas um dia para Hun Sen impor [suas escolhas] ao povo cambojano.”

    Hun Sen também cultiva laços cada vez mais estreitos com a China e protesta contra as críticas dos governos ocidentais, que ele frequentemente acusa de ajudar a oposição política do Camboja.

    O CPP aponta a participação dos outros 17 pequenos partidos políticos, na tentativa de argumentar que o país é uma democracia multipartidária.

    Mas o argumento é fortemente rejeitado por grupos de direitos humanos e observadores políticos, que apontam que todos os partidos e figuras importantes da oposição foram silenciados, presos ou banidos do Camboja.

    “O desafio que ele enfrenta é que a eleição não seja vista como democrática, por ser carente de legitimidade. Sem eleições competitivas, mídia livre e espaço para a sociedade civil, o Camboja não é [considerado] uma democracia”, disse a analista política Bridget Welsh.

    A repressão política aumentou após as eleições de 2013, quando uma aliança de partidos de oposição, o Cambodian National Rescue Party (CNRP), conseguiu mais de 40% dos votos nas eleições.

    O tribunal superior do país proibiu o CNRP em 2017, e dezenas de líderes do partido foram presos ou exilados.

    O Candlelight Party, que surgiu do pouco que restou do CNRP, foi banido no início deste ano pelo comitê eleitoral nacional do Camboja devido a um problema com sua papelada.

    O futuro primeiro-ministro

    Analistas políticos avaliam que esta eleição cambojana preparará o terreno para a transição de poder de Hun Sen para seu filho Hun Manet.

    O mais velho de três, Hun Manet, de 45 anos, serve no exército cambojano e é visto como um sucessor a espera de sua vez.

    Hun Manet, filho do primeiro-ministro do Camboja, Hun Sen, e líder do Partido do Povo Cambojano (CPP), participa de uma manifestação em massa no último dia de campanha para as eleições gerais de 2018. / Satoshi Takahashi/LightRocket via Getty Images

    Ele cresceu e foi educado em Phnom Penh, capital do Camboja, antes de ingressar no exército cambojano em 1995. No mesmo ano, ele ingressou na Academia Militar dos EUA em West Point, obtendo um diploma quatro anos depois e se tornando o primeiro cambojano a se formar na prestigiada escola.

    Ele também se formou em economia pela Universidade de Nova York em 2002 e pela Universidade de Bristol em 2008.

    Hun Sen já deixou claro em seus discursos que seu filho seria o “futuro primeiro-ministro”. Este ano, Hun Manet fez sua estreia política – concorrendo a uma cadeira parlamentar nas eleições deste domingo. Segundo um porta-voz do partido disse neste domingo, “está bem claro que ele foi eleito”.

    A analista política Bridget Welsh ressaltou que Hun Manet “precisará conquistar sua própria legitimidade”. “Ele terá que sair da sombra de seu pai e estabelecer seu próprio padrão de liderança”, disse ela à CNN.

    “Isso será um desafio, pois Hun Sen continuará sendo a figura dominante na política cambojana e não está claro o quanto ele abrirá mão do controle”, avaliou.

    “Hun Manet tem alguma popularidade entre os cambojanos mais jovens, mas enfrentará grandes desafios ao assumir o lugar de seu pai”, disse o analista político alemão Markus Karbaum à CNN.

    “Enquanto ele estiver com boa saúde, será muito difícil para Hun Manet sair de sua sombra, especialmente quando se trata de política externa”, acrescentou. “Ele perderá enorme respeito no cenário global se der a impressão de estar apenas transmitindo as mensagens de seu pai – um político sem poder e sem mandato não será levado a sério.”

    *Publicado por Fernanda Pinotti, com informações de Heather Chen, da CNN, e da Reuters

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