Quem é Francia Márquez, vice-presidente eleita da Colômbia
Francia Márquez é a primeira mulher negra a ocupar cargo de vice-presidente; ela fará gestão de 2023 a 2026 ao lado de Gustavo Petro, que venceu com 50,44% dos votos
Francia Márquez se tornou a vice-presidente eleita da Colômbia neste domingo (19), quando triunfou nas urnas ao lado de Gustavo Petro no segundo turno das eleições presidenciais do país. A ascensão de Francia Márquez na política começou com os resultados eleitorais históricos na consulta da coalizão de esquerda na Colômbia.
Francia Márquez é vice de Gustavo Petro na gestão de 2023 a 2026. Petro venceu com 50,44% dos votos, ou 11.281.013 milhões de votos em uma eleição histórica para o país. O ex-prefeito de Bogotá e ex-guerrilheiro teve uma disputa acirrada com o empresário Rodolfo Hernández, candidato populista de direita com um discurso antissistema. Hernández teve 47,31% dos votos, com 10.580.412 votantes.
Francia Márquez (que cresceu em Yolombó, Cauca, em 1981) é, segundo sua própria biografia, a primeira “negra, afrodescendente, nativa das regiões mais pobres” da Colômbia que, com uma votação histórica em 13 de março, obteve mais de 783 mil votos na consulta do Pacto Histórico (14%). Ela participou em nome do partido Polo Democrático Alternativo.
Ela ficou em segundo lugar, depois de Gustavo Petro, que mais tarde a chamou para ser sua vice-presidente.
O fenômeno eleitoral de Francia Márquez
Embora a vitória de Petro tenha sido contundente, os votos de Francia Márquez superaram as expectativas dos especialistas, e teve mais apoio de alguém de maior visibilidade como Camilo Romero, que foi senador e governador do departamento de Nariño.
A votação de Francia Márquez foi superior à, por exemplo, do vencedor da consulta do centro, Sergio Fajardo, que obteve pouco mais de 723 mil votos.
Francia Márquez percorreu grande parte do país com uma campanha para, segundo ela, dignificar a política e tornar visível “o ninguém”, as mulheres que foram violentadas e as vítimas de violência neste país.
“Venho do território dos ninguém, venho de territórios esquecidos em termos de investimento social, mas violados por uma política de morte”, disse Márquez a repórteres em março. “Então não faria sentido fazer parte do Pacto Histórico se não for para transformar essas realidades que as pessoas ainda vivem”.
Francia Márquez, uma ativista orgulhosa de sua negritude
Francia Márquez nasceu em uma montanha no meio de dois rios no município de Suárez, Cauca, no sudoeste da Colômbia. Conforme ela contou, lá aprendeu sobre mineração, agricultura e pesca. Desde muito jovem começou a liderar espaços em sua comunidade, e a empoderar os seus, mesmo a partir do reconhecimento de sua negritude, em um país altamente racista.
“Me tornei uma ativista no processo de comunidades negras onde aprendi a me reconhecer como mulher negra, a reconhecer meu cabelo, minha negritude com orgulho, porque esse país nos fez sentir vergonha, nos fez sentir que somos responsáveis pelos infortúnios que tivemos que viver”, disse Márquez, que desde jovem é uma defensora das lutas das comunidades negras.
Márquez é mãe de dois filhos, que, por medo, teve que tirar do país enquanto avançava na campanha atual, disse ela em março. Ela é advogada formada pela Universidade de Santiago de Cali e recebeu o Prêmio Goldman em 2018, algo como um ‘Prêmio Nobel do Meio Ambiente’ por sua luta na comunidade de La Toma “para impedir a mineração ilegal de ouro em suas terras ancestrais”, que estava contaminando com mercúrio o rio em que toda a sua comunidade pescava.
E embora diga que não faz promessas, frisa que é “uma prioridade” resolver o problema da fome em todo o país. Mas para isso, explica, é preciso que seu projeto chegue à presidência nos próximos três meses. Márquez disse que não se importa com a posição em que está, mas que pode trabalhar para as comunidades mais vulneráveis.
Segundo disse à CNN o analista político, Jorge Andrés Hernández, antes das eleições de 13 de março, Márquez era vista como uma mulher com pouca experiência política em cargos de eleição popular, ao que ela responde que sua luta não começou nem com o Pacto Histórico, nem com a representação política.
“Tenho lutado para dignificar a vida desde a minha infância”, disse Márquez a um grupo de jornalistas em março.
Sua luta contra o racismo e a favor do feminismo
Márquez diz que sua vitória nas consultas internas se deve em grande parte às mulheres e aos jovens, e garante que sua vitória “já é uma evidência de que estamos rompendo com o patriarcado e o machismo na política”.
Com o lema da campanha “Sou porque somos” pretende buscar a justiça racial, defender os direitos humanos e o cuidado da vida e do território, bem como os direitos das mulheres. Aliás, ela conta que, graças a muitas mulheres do país, alcançou a marca de ter o segundo voto no Pacto Histórico.
“A desvantagem que tivemos nesse processo é que a maioria dos colombianos e colombianas não nos conhece”, diz ele.
No entanto, a luta feminista marca transcendentalmente seu projeto político. Ela diz que não está interessada em chegar ao poder apenas por um cargo, nem em fazer acordos com mulheres que estão prestes a quebrar o “teto de vidro”.
Na Colômbia, nenhuma mulher ocupou a presidência, mas Marta Lucía Ramírez foi escolhida como a chapa vice-presidente por Iván Duque, e eles venceram as eleições presidenciais em 2018. Ramírez é a primeira mulher a ocupar o cargo de vice-presidente.
“Estou aqui para dar as mãos às mulheres que não tiveram voz, com quem nunca tiveram oportunidades ou privilégios, cujas vozes foram silenciadas e aquelas que não tiveram permissão por suas condições de mulheres empobrecidas e racializadas de viver em paz e com dignidade”.