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    Quatro mudanças no mundo após a invasão da Ucrânia pela Rússia

    Guerra altera a ordem mundial e tem influência global, como segurança alimentar e fornecimento de energia

    Joshua Berlingerda CNN*

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    A invasão da Ucrânia pela Rússia tirou centenas de vidas no campo de batalha e nas cidades ucranianas sob bombardeio. Mas a sua influência é global, afetando desde a segurança alimentar no Cairo até os preços do gás na Califórnia.

    Ela colocou em primeiro plano grandes mudanças geopolíticas e alterou a maneira como algumas das instituições mais proeminentes do mundo funcionam.

    Aqui estão quatro maneiras que ocorreram no mundo nos 10 dias desde que a guerra retornou à Europa.

    Mudança na ordem mundial

    A invasão da Ucrânia não inaugurou uma nova era de grandes potências políticas. Ela foi o violento ponto de exclamação que confirmou uma das mudanças mais significativas na ordem geopolítica mundial desde o 11 de setembro.

    Nos anos que sucederam o atentado, o terrorismo global consumiu grande parte da atenção dos líderes ocidentais. A Al Qaeda e o Estado Islâmico eram os inimigos que precisavam ser combatidos. O Kremlin não era mais visto como a mesma ameaça de antes – tanto que, em 2012, o presidente Barack Obama zombou do então candidato presidencial Mitt Romney por chamar a Rússia de inimigo geopolítico número um dos Estados Unidos.

    A essa altura, Vladimir Putin já havia mostrado que estava disposto a derrubar a ordem pós-Guerra Fria.

    O ex-oficial de inteligência da KGB assumiu o cargo em 2000 prometendo restaurar a antiga glória da Rússia, às vezes por meio da força militar. Como primeiro-ministro, em 1999, lançou uma ofensiva na república russa da Chechênia contra guerrilheiros separatistas. Em 2008, o Kremlin invadiu a Geórgia e reconheceu duas repúblicas separatistas no país, que na época se aproximava da Europa.

    Mais tarde, o apoio de Putin ao presidente sírio Bashar al-Assad – como um aliado ostensivo na guerra contra o terror – não lhe rendeu benefícios com as democracias ocidentais, principalmente por causa dos relatos verossímeis ​sobre a decisão do ditador sírio de atacar seu próprio povo com armas químicas. A decisão de Putin de anexar a Crimeia em 2014 e apoiar os separatistas no leste da Ucrânia levou a sanções e foi totalmente condenada. O mesmo aconteceu com as supostas tentativas da Rússia de assassinar seus inimigos em solo estrangeiro.

    Mas Putin continuou sendo um importante ator e parceiro, embora desagradável, para líderes de Washington a Varsóvia durante a década de 2010. A Rússia foi fator importante na luta contra o Estado Islâmico; a principal fornecedora de energia da Europa; e ajudou a negociar grandes pactos diplomáticos, como o acordo nuclear de 2015 com o Irã.

    A invasão da semana passada pode ter acabado com isso. Depois de um quarto de século do mundo ocidental lidando com Putin, ele pode finalmente ter ultrapassado os limites e se tornado um pária.

    Em resposta, o mundo ocidental atingiu a Rússia com sanções sem precedentes que paralisaram suas instituições financeiras, levando sua economia e o rublo a entrarem em parafuso, e atingiram até mesmo Putin e alguns de seu círculo íntimo.

    “Putin está agora mais isolado do mundo do que jamais esteve”, disse o presidente dos EUA, Joe Biden, na terça-feira, em seu discurso do Estado da União.

    Uma Europa mais unificada

    A invasão da Rússia também levou a União Europeia a tomar decisões de segurança que seriam impensáveis ​​há algumas semanas.

    Embora o bloco tenha sido por anos um dos atores econômicos mais poderosos do mundo, ele não conseguiu transformar essa força em poder geopolítico equivalente. A UE tem, historicamente, se dividido sobre exatamente quanto controle central Bruxelas deveria ter sobre a política externa. Isso impediu as grandes ambições globais da UE, já que as propostas políticas foram diluídas nas negociações ou simplesmente vetadas.

    O pensamento europeu sobre defesa, segurança e relações exteriores evoluiu anos-luz em poucos dias. Agora está despertando de um sonho de décadas de que a estabilidade proporcionada por um mundo interconectado impediria a guerra e que, se o pior acontecesse, os Estados Unidos resolveriam o problema.

    Fotos – Guerra da Rússia contra a Ucrânia chega ao 10º dia

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    O choque do retorno da guerra à Europa unificou os 27 estados-membros da UE. O bloco está agora exercendo seu poder econômico para fins geopolíticos, visando a Rússia com o pacote de sanções mais forte que já impôs.

    Pela primeira vez, o bloco forneceu financiamento para a compra de armas para a Ucrânia. A Alemanha, que há décadas é avessa a uma abordagem militarizada da política externa, agora está participando do armamento da Ucrânia e aumentando seus próprios gastos militares em resposta à invasão.

    “A crise na Ucrânia destruiu a ilusão de que a segurança e a estabilidade na Europa vêm de graça”, disse um diplomata europeu sênior à CNN nesta semana. “Quando não havia ameaça real, a geopolítica parecia remota. Agora há uma guerra em nossa fronteira. Agora sabemos que temos que pagar e agir juntos.”

    Um milhão de pessoas em movimento

    Um milhão de pessoas fugiram de suas casas nos primeiros sete dias desde que a Rússia invadiu a Ucrânia – uma das maiores e mais rápidas migrações da humanidade na memória recente. Para colocar em contexto, levou três meses para um milhão de refugiados deixarem a Síria em 2013, no auge da saída de cidadãos do país.

    Se os combates continuarem e, como disse uma fonte francesa próxima ao presidente Emmanuel Macron, o pior ainda está por vir, a Europa poderá enfrentar uma crise de refugiados sem precedentes.

    “Trabalho em emergências de refugiados há quase 40 anos e raramente vi um êxodo tão rápido quanto este”, disse Filippo Grandi, alto comissário da ONU para refugiados.

    Também houve vários relatos de racismo contra pessoas negras e não-ucranianos na fronteira.

    O futuro dos refugiados permanece incerto. Se a Rússia derrubar o governo ucraniano democraticamente eleito, essas pessoas vão querer voltar para casa? E se, depois da luta, eles não tiverem mais casas para onde voltar?

    Comida e combustível

    Os preços do gás nos Estados Unidos tiveram seus maiores aumentos desde o furacão Katrina, em 2005. Especialistas estão preocupados que os preços dos alimentos possam disparar depois de já terem subido “fortemente” no ano passado. E a Moody’s está alertando que as cadeias de suprimentos globais, já atingidas pela pandemia de Covid-19, podem ser lançadas ainda mais no caos. As ações em todo o mundo caíram na sexta-feira, com a Europa sofrendo uma derrota particularmente dura.

    Os combates na Ucrânia tiveram custos econômicos e humanos em todo o mundo, especialmente quando se trata de energia.

    Embora a Europa diga há anos que precisa se livrar da energia russa, Moscou é o maior fornecedor de petróleo e gás natural da UE. A Europa poderia sobreviver se a Rússia fechasse o fornecimento, mas não seria barato e nem fácil.

    O conflito também é uma questão de bolso que pode determinar se as famílias podem colocar comida na mesa. Só na Ucrânia, três a cinco milhões de pessoas vão precisar de apoio alimentar imediatamente, disse o diretor executivo do Programa Mundial de Alimentos (PAM), David Beasley.

    Mas a Rússia e a Ucrânia também são alguns dos principais produtores mundiais de trigo. Juntos, eles respondem por 23% de todas as exportações globais, segundo a S&P Global.

    “Medo de conflito pairando sobre dois dos maiores fornecedores do mundo claramente terá algum impacto nos preços, quando já há uma sensação de escassez”, disse Julien Barnes-Dacey, diretor do programa Oriente Médio e Norte da África no Conselho Europeu de Relações Exteriores.

    Embora a Ucrânia seja apelidada de celeiro da Europa, as preocupações são particularmente agudas no Oriente Médio – o terceiro maior comprador de trigo de Kiev em 2020/2021, de acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA. Mais de 40% das recentes exportações de trigo do país foram para Oriente Médio ou África.

    *Luke McGee da CNN, Matt Egan, Chris Isidore, Nadeen Ebrahim e Eoin McSweeney contribuíram para este relatório

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