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    Protestos na França têm depredações, lojas saqueadas e prisão de jovens

    Jovem morto em batida policial foi enterrado neste sábado (1)

    Priscila Yazbekda CNN , Paris

    As ruas de Nanterre, na região metropolitana de Paris, estavam silenciosas neste sábado (1), com carros queimados e paredes pichadas, lembranças da agitação dos dias anteriores.

    Atos de vandalismo e cenas de violência se multiplicaram e se espalharam para além de Nanterre em protesto à morte do jovem Nahel, de 17 anos. O adolescente foi morto a tiros numa parada de trânsito na terça-feira (27). Desde o primeiro dia de tumultos, mais de duas mil pessoas foram detidas, quase 500 estabelecimentos foram depredados e mais de 200 policiais ficaram feridos, segundo as autoridades francesas.

    Na quarta noite de confrontos, de sexta (30) para sábado, 12 ônibus foram destruídos em uma garagem em Aubervilliers, no norte de Paris. Em Marseille, a segunda maior cidade do país, uma loja de armas foi saqueada e os invasores levaram rifles de caça, segundo a polícia.

    No leste do país, em Lyon, um bonde foi incendiado, fogos de artificio foram lançados e dois policiais sofreram ferimentos de bala, segundo o Ministério do Interior. A polícia mobilizou blindados e um helicóptero para controlar a situação na terceira maior cidade francesa.

    Por causa dos tumultos, shows no Stade de France, nos arredores de Paris, foram cancelados. E os organizadores do Tour de France disseram que estão prontos para se adaptar se preciso quando a corrida de ciclismo chegar ao país na segunda-feira (3), vindo da Espanha.

    O funeral de Nahel aconteceu neste sábado em Nanterre. A família do adolescente pediu que a mídia mantivesse distância da cerimônia e que houvesse calma nas ruas.

    A morte do jovem francês, filho de uma argelina e pai marroquino, reacendeu o debate sobre violência policial e abriu feridas sobre o racismo e a xenofobia na França.

    Só em 2022, 13 pessoas foram mortas por policiais em batidas de trânsito, a maioria negros e árabes, que têm 20 vezes mais chance de ser abordados por oficiais de segurança do que a população em geral.

    Na noite de sexta-feira, a BFM TV, afiliada da CNN, divulgou um vídeo gravado por um dos dois amigos que estava com Nahel no carro e que havia fugido após o tiro. Ele diz que um dos policiais deu três coronhadas na cabeça de Nahel.

    O terceiro golpe teria feito Nahel soltar o pedal do freio. Como o câmbio era automático, o carro avançou, o que levou o policial a disparar. O video contradiz a versão da polícia, de que Nahel teria se recusado a obedecer as ordens dos policiais.

    O jogador Kylian Mbappé, capitão da seleção francesa de futebol, publicou um texto nas redes sociais, em nome de toda a equipe, pedindo calma. A publicação, assinada pela seleção.

    “Desde o trágico evento, assistimos à expressão de uma raiva popular da qual entendemos a substância, mas cuja forma não podemos endossar”, diz o comunicado.

    Em uma mensagem anterior, no dia seguinte à morte de Nahel, Mbappe havia dito que se sentia mal pela sua França e que a situação era inaceitável.

    Manifestantes que marcharam de forma pacífica em homenagem a Nahel e até donos de lojas depredadas, que tiveram prejuízos, também afirmam que compreendem de onde vem revolta dos manifestantes, mas condenam os atos violentos.

    O ministro do Interior francês, Gerald Darmanin, disse que a idade média das pessoas presos é de 17 anos.

    Na sexta-feira, após a segunda reunião emergencial convocada para tratar da crise, que já é vista como a pior desde os protestos dos coletes amarelos em 2018, o presidente frances Emmanuel Macron pediu que as redes sociais retirem vídeos sensíveis, que convocam jovens a fazer atos de vandalismo.

    Macron também pediu e que os pais se responsabilizem por manter filhos em casa.

    O presidente francês anunciou neste sábado o adiamento de uma viagem que faria à Alemanha neste domingo (2). Ele e outros integrantes do governo têm repetido que estão monitorando a situação e que nenhuma hipótese está descartada para restabelecer a ordem.

    As falas abriram uma discussão sobre a possível instauração de um estado de emergência, que seria o primeiro desde 2015.