Progressista ou radical islâmico? Conheça o príncipe saudita que deu joias a Bolsonaro
Apontado como mandante do assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, é visto como uma esperança para reformas sociais e na economia; CNN exibe o documentário “Arábia Saudita: o Reino dos Segredos” neste sábado (11), às 22h45
Ele é diferente de qualquer comandante saudita que o mundo já viu. Também chamado pela sigla MBS, Mohammed bin Salman era um jovem desconhecido por muitos fora da Arábia Saudita, até ser nomeado príncipe herdeiro.
Embora não tenha assumido o trono, o príncipe fez acontecer uma série de mudanças no país. De repente, tudo pareceu mudar: mulheres receberam permissão para dirigir, música e filmes que, até então, eram considerados heresia, foram normalizados.
O país passou a receber grandes shows de estrelas ocidentais, como o de Mariah Carey, em 2019, e um cinema foi inaugurado.
“Assistindo a Pantera Negra (filme de estreia), estavam homens e mulheres sentados juntos. Isso é uma mudança dramática”, diz Fareed Zakaria, jornalista da CNN, especializado em relações políticas internacionais.
“Esse homem é extremamente popular. Ele disse: ‘Não deixarei esta vida até ver todo o Oriente Médio entre as primeiras nações’”, afirma Tarek Masoud, professor de políticas públicas da Universidade de Harvard.
As entrevistas completas sobre quem é o príncipe saudita que enviou as joias a Jair Bolsonaro estão no documentário “Arábia Saudita: o Reino dos Segredos”, que a CNN exibe neste sábado, 11, às 22h45, logo depois do CNN Viagem & Gastronomia.
Prisão e tortura no hotel Ritz
O príncipe tirou muito do poder da temida polícia religiosa e prendeu centenas de outros príncipes e empresários milionários em uma operação cinematográfica realizada no Riyadh Ritz Carlton, um dos hotéis mais luxuosos do mundo.
“O antigo sistema saudita parecia antiquado, com a realeza comandando ministérios, como condes e duques. MBS acabou com isso, substituiu príncipes por pessoas leais a ele, acumulando poder pessoal”, segundo Fareed.
Ao mesmo tempo que o novo líder da Casa de Saud reformava todo o sistema, dizendo que travava uma luta contra a corrupção, relatos de violência por parte do governo começaram a surgir.
Líderes do movimento pelo direito de dirigir diziam ter sido torturadas. Torturas também teriam acontecido na operação do Ritz Carlton, além de uma morte, o que o governo saudita nega.
Até que, em 2018, a morte do jornalista Jamal Khashoggi tirou das sombras a brutalidade do regime de MBS.
Khashoggi era crítico ao governo e foi assassinado e esquartejado dentro do consulado de seu país em Istambul, na Turquia. O episódio chocou o mundo.
“Ele (MBS) era jovem quando se tornou príncipe herdeiro. Era muito impulsivo, mas não muito experiente. Era um jovem que tinha impulsos muito sombrios, impulsos como os de Saddam, coisa que só entendemos agora”, disse Thomas Friedman, colunista do jornal americano The New York Times.
Para o ex-czar do contraterrorismo da Casa Branca, Richard Clarke, o príncipe ainda é a maior esperança para as reformas: do governo, da economia e da sociedade, mas, ao mesmo tempo, ele também é o maior impedimento para isso.
Joias para Michelle Bolsonaro
Em outubro de 2021, Bolsonaro foi convidado a participar de um evento do governo da Arábia Saudita. No entanto, ele não compareceu. O ex-ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque representou o Brasil na ocasião.
Ao término do evento, MBS, entregou ao ex-ministro dois estojos.
No primeiro, havia um colar, um anel, um relógio e um par de brincos de diamantes avaliados em 3 milhões de euros, o equivalente a R$ 16,5 milhões.
No segundo estojo havia uma caneta, um anel, um relógio, um par de abotoaduras e um terço, em valores oficialmente não foram divulgados.
Os objetos foram dados como presente para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
O ex-ministro de Minas e Energia e a equipe de assessores dele viajaram em voo comercial.
Ao chegar ao aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, em 26 de outubro de 2021, um dos assessores, que estava com o primeiro estojo, foi impedido de levar esses presentes já que os valores ultrapassam US$ 1.000.
A Receita Federal brasileira obriga que sejam declarados ao fisco qualquer bem que entre no País cujo valor seja superior a essa quantia.
Interlocutores do ex-presidente afirmam que o assessor do Ministério de Minas e Energia deveria ter informado que se tratava de um presente do reino da Arábia Saudita para a ex-primeira-dama e o então presidente.