Professora manda alunos darem tapas em colega de classe muçulmano na Índia
Polícia investiga o caso; professora afirmou estar cumprindo pedido do pai do aluno
A polícia da Índia está investigando uma professora que incentivou alunos a estapearem um colega de classe muçulmano de 7 anos. A cena foi registrada em um vídeo que gerou indignação generalizada no país.
O vídeo do incidente, que ocorreu no distrito de Muzaffarnagar, no norte do estado de Uttar Pradesh, mostra o menino parado diante de seus colegas, com medo, enquanto a professora pede aos alunos que batam nele.
O menino chora enquanto seus colegas se revezam para esbofeteá-lo. Ao mesmo tempo, a professora é ouvida dizendo aos alunos para fazerem isso “corretamente”. Um homem também pode ser ouvido rindo durante a cena.
O superintendente da polícia de Muzaffarnagar, Satyanarayan Prajapat, disse na sexta-feira (25) que a professora disse aos alunos para baterem no menino “por não se lembrar da tabuada”.
A professora também fez referência à religião do menino, segundo Prajapat.
“A professora declarou: ‘Quando as mães dos alunos muçulmanos (aqueles que seguem o Islão) não prestam atenção aos estudos dos seus filhos, o seu desempenho é arruinado’”, disse ele.
A polícia do distrito registrou o caso contra a professora e uma investigação está em andamento. Ela não foi formalmente acusada. As autoridades distritais também ordenaram o fechamento da escola, segundo a CNN News-18, afiliada da CNN.
A CNN entrou em contato com os policiais de Uttar Pradesh para obter mais detalhes.
O incidente causou raiva e perturbação generalizadas na Índia, a maior democracia do mundo, com 1,4 bilhão de habitantes.
Professora disse ter seguido pedido do pai
A lei indiana não tem uma definição legal de castigo corporal contra crianças; no entanto, o castigo físico e o assédio mental são proibidos pela Lei do Direito das Crianças à Educação Gratuita e Obrigatória.
Segundo a CNN News-18, a professora alegou que o pai do aluno de 7 anos lhe pediu para punir a criança, acrescentando que ela não pôde fazê-lo porque é deficiente e, portanto, pediu aos outros alunos para discipliná-lo.
“O pai dele trouxe a criança e disse para endireitá-la. Agora, como não consigo me levantar, pensei em pedir a uma ou duas crianças que batessem nele”, disse ela.
BJP aumenta tensões na Índia
Por lá, as políticas nacionalistas hindus do Partido Bharatiya Janata (BJP), que está no poder, aprofundaram as tensões comunitárias do país e criaram o que grupos de direitos humanos e críticos do governo dizem ser uma atmosfera de medo e alienação entre grupos minoritários.
Rahul Gandhi, político da oposição, acusou a professora de “semear o veneno da discriminação nas mentes de crianças inocentes”. Escrevendo no Twitter, agora conhecido como X, ele disse: “Transformar um lugar sagrado como a escola num mercado de ódio — não há nada pior do que isto que um professor possa fazer pelo país”.
Gandhi também culpou o BJP por alimentar a intolerância religiosa.
“Este é o mesmo querosene espalhado pelo BJP que incendiou todos os cantos da Índia”, escreveu Gandhi. “As crianças são o futuro da Índia — não as odeie, todos temos que ensinar o amor juntos.”
Embora o BJP não tenha respondido aos comentários de Gandhi, afirma há muito que não discrimina as minorias e “trata todos os seus cidadãos com igualdade”. Durante uma viagem aos Estados Unidos em junho, o primeiro-ministro Narendra Modi disse aos repórteres que “não havia absolutamente nenhum espaço” para discriminação na Índia.
O incidente ocorre num momento de elevadas tensões comunitárias no país, à medida que as políticas populares, mas divisivas, do BJP ganham impulso na Índia.
Um estudo do economista Deepankar Basu observou um aumento de 786% nos crimes de ódio contra todas as minorias entre 2014 e 2018, após a vitória eleitoral do BJP.
Uttar Pradesh, onde ocorreu o incidente, é o maior estado da Índia, com cerca de 200 milhões de habitantes. Sua população é religiosamente diversa, com cerca de 20% dos seus residentes sendo muçulmanos.
É, no entanto, um dos estados mais polarizados da Índia.
Seu ministro-chefe, o monge hindu que se tornou político do BJP, Yogi Adityanath, foi criticado por sua retórica anti-muçulmana e políticas que priorizam o hinduísmo. O estado aprovou ainda uma legislação que os críticos dizem estar enraizada em “Hindutva” — a base ideológica do hinduísmo nacionalista.