Princesa de Dubai afirma em vídeos que está sendo mantida ‘refém’
Filha do primeiro-ministro foi vista publicamente pela última vez em março de 2018, quando tentava fugir do país pela segunda vez
A filha do bilionário governante de Dubai, que tentou fugir para o exterior em 2018, apareceu em gravações secretas alegando que está sendo mantida refém em uma “casa transformada em prisão” sem acesso a assistência médica, segundo um documentário da emissora britânica BBC.
A princesa Latifa bint Mohammed Al Maktoum, filha do primeiro-ministro dos Emirados Árabes Unidos, o xeique Mohammed bin Rashid Al Maktoum, foi vista publicamente pela última vez em março de 2018 a bordo de um iate na costa da Índia. Em seguida, uma ação das forças indianas e de agentes do governo de seu pai levarem-na de volta a Dubai. Os fatos foram relatados por duas pessoas que ajudaram a planejar sua fuga.
Foi a segunda fuga fracassada da princesa. Na primeira, em 2002, ela era adolescente e tentou deixar os Emirados Árabes Unidos.
Em um vídeo obtido pelo programa “Panorama”, da rede de televisão britânica BBC, parte do documentário “A Princesa Desaparecida” que seria transmitido na terça-feira (16) à noite no Reino Unido, a princesa Latifa diz: “Sou uma refém. Esta casa foi transformada em uma prisão. Todas as janelas estão lacradas, não posso abrir nenhuma delas… Estou sozinha, em confinamento solitário. Sem acesso a assistência médica, sem julgamento, sem acusação, sem nada”.
A CNN não verificou de forma independente os vídeos ou o paradeiro atual de Latifa, e entrou em contato com o governo de Dubai com um pedido de comentários.
De acordo com a BBC, a princesa Latifa gravou secretamente os vídeos com um celular escondida em um banheiro. O documentário informa que, cerca de um ano após Latifa ser levada de volta para Dubai, sua amiga Tiina Jauhiainen foi contatada por alguém que a ajudou a se reconectar secretamente com a princesa.
Jauhiainen conseguiu um telefone para Latifa, e desde então a princesa gravou muitas mensagens em vídeo “descrevendo seu cativeiro em uma casa transformada em uma prisão com janelas lacradas”, de acordo com a BBC.
“O programa ‘Panorama’ da BBC verificou de forma independente os detalhes de onde Latifa estava sendo mantida refém. Ela era vigiada por cerca de 30 policiais que trabalhavam em esquema de turnos, dentro e fora da residência. O local fica a poucos metros da praia. Não se sabe se ela ainda está lá”, informou a BBC.
Em outro vídeo a ser exibido no documentário, Latifa diz: “Estou aqui desde então, há mais de um ano em confinamento solitário. Sem acesso a assistência médica, sem julgamento, sem acusação, nada… Todos os dias me preocupo com minha segurança e a polícia me ameaça e diz que nunca mais verei o sol. Não estou segura aqui”.
Jauhiainen comenta no documentário que está muito preocupada com sua amiga: “Ela está tão pálida, não vê a luz do sol há meses. Ela praticamente só sai do quarto para a cozinha”.
Após a fuga fracassada em 2018, Latifa recebeu a visita da ex-comissária das Nações Unidas para Direitos Humanos, Mary Robinson, em dezembro do mesmo ano. Latifa foi vista em fotografias granuladas ao lado de Robinson (que também é ex-presidente da Irlanda), que comentou mais tarde que Latifa estava “perturbada” e “arrependida” de suas tentativas de fuga. O relato de Robinson foi criticado por ativistas de direitos humanos.
A ex-comissária fez a visita a pedido da família governante, de acordo com um comunicado que a missão dos Emirados Árabes Unidos em Genebra enviou ao Escritório de Procedimentos Especiais do Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos. “Os documentos respondem e refutam falsas alegações que foram feitas sobre Sua Alteza, fornecendo evidências de que ela está viva e vivendo com sua família em Dubai”, dizia o comunicado.
No entanto, no episódio do documentário da BBC, Robinson faz um relato diferente sobre seu controverso encontro com Latifa em 2018.
“Eu fui enganada, inicialmente pela minha amiga, a princesa Haya [madrasta de Latifa], porque ela tinha sido enganada. Haya começou a explicar que Latifa sofria seriamente de bipolaridade. E eles me disseram, de uma forma muito convincente: ‘não queremos que Latifa passe por mais nenhum trauma’. Eu não sabia como falar sobre trauma com alguém que era bipolar, e realmente não queria falar com ela e piorar o trauma durante um almoço”, diz Robinson em um clipe do programa.
A princesa da Jordânia, Haya bint al-Hussein, é a ex-esposa do xeique Mohammed bin Rashid Al Maktoum.
Em 2019, a princesa Haya fugiu com seus dois filhos de Dubai para Londres. Mais tarde, a princesa, que era a sexta esposa do xeique e que não é mãe de Latifa, entrou com um processo na alta corte de Londres para obter a guarda de seus dois filhos, de 9 e 13 anos, temendo que eles também fossem sequestrados.
No ano passado, um juiz da divisão familiar da alta corte de Londres determinou que Mohammed bin Rashid Al Maktoum conduziu uma “campanha de medo e intimidação” contra a princesa Haya.
O tribunal concluiu que o xeique organizou o sequestro de duas de suas filhas em três ocasiões, incluindo um caso ocorrido em Cambridge, Inglaterra, e o caso da princesa Latifa, em águas internacionais na costa da Índia.
Andrew McFarlane, o decano juiz de família do Reino Unido, comprovou que a princesa Shamsa, uma das filhas do xeique com outra esposa, fugiu da família no verão de 2000 enquanto visitava o Reino Unido. Mais tarde, ela foi sequestrada em Cambridge e forçada a entrar em um carro por homens que trabalhavam para seu pai, antes de ser levada para uma propriedade do xeique. De lá, ela entrou num helicóptero para Deauville, na França, e depois num jato de volta para Dubai.
A outra filha, Latifa, tentou por duas vezes escapar de sua família, mas foi forçada a voltar. A primeira vez em 2002, na fronteira de Dubai com Omã, e outra em 2018, “por conta de um ataque armado no mar”, em águas internacionais perto da costa da Índia, de acordo com o juiz.
“Tanto em relação a Shamsa quanto a Latifa, afirma-se que, após seu retorno à custódia da família do pai, elas foram privadas de sua liberdade”, disse o acórdão.
Na época, a CNN informou que o xeique Mohammed, vice-presidente e primeiro-ministro dos Emirados Árabes Unidos, considerou que avaliação do tribunal trazia uma visão unilateral.
“Este caso diz respeito a assuntos pessoais e particulares de nossas filhas. O apelo foi feito para proteger os interesses e o bem-estar das crianças. O resultado não protege minhas filhas da atenção da mídia da maneira como outras crianças em processos familiares no Reino Unido são protegidas”, disse o xeique em um comunicado divulgado por seus representantes.
“Como chefe de governo, não pude participar do processo de apuração dos fatos no tribunal. Isso resultou em um julgamento de ‘apuração de fatos’ que inevitavelmente mostra apenas um lado da história. Peço que a mídia respeite a privacidade de nossas filhas e não se intrometa em suas vidas no Reino Unido”.
(Texto traduzido, clique aqui para ler o original em inglês).