Presidente da Ucrânia diz que líderes mundiais exageram sobre chance de guerra
Volodymyr Zelensky afirmou que ucranianos aprenderam a viver com tensão sobre conflitos desde que a Rússia invadiu o país em 2014
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse nesta sexta-feira (28) que outros líderes mundiais estão exagerando na probabilidade de uma guerra entre seu país e a Rússia, causando “pânico” e desestabilizando a economia de Kiev.
Falando a repórteres estrangeiros, Zelensky disse que explicou em telefonemas para líderes mundiais, como o presidente dos Estados Unidos Joe Biden e o francês Emmanuel Macron, que, embora a ameaça do Kremlin seja “iminente e constante”, os ucranianos “aprenderam a viver” com ela desde que Moscou invadiu o país em 2014.
“Eles estão dizendo que amanhã é a guerra. Isso significa pânico”, disse Zelensky.
A Rússia acumulou dezenas de milhares de soldados em sua fronteira com a Ucrânia, provocando temores de que o presidente russo, Vladimir Putin, estaria planejando uma incursão. O governo russo negou repetidamente que planeja invadir seu vizinho ocidental.
A gravidade exata da ameaça representada pela Rússia permanece incerta e teria sido um ponto de discórdia entre Zelensky e Biden.
A conversa entre os dois chefes de Estado na última quinta (27) supostamente não correu bem, segundo relatos de um alto funcionário ucraniano à CNN. Na ligação, que a autoridade ucraniana descreveu como “longa e franca”, Biden teria alertado que uma invasão russa era agora virtualmente certa e iminente, enquanto Zelensky reafirmou sua posição de que a ameaça da Rússia continua “perigosa, mas ambígua”.
A Casa Branca contestou esse entendimento e disse que fontes anônimas estavam “vazando falsidades”. Um porta-voz disse que Biden alertou Zelensky que uma invasão em fevereiro era o que ela chamou de “possibilidade distinta”.
Quando perguntado sobre sua conversa com Biden, Zelensky agradeceu ao presidente dos EUA pelo apoio, mas disse que o acúmulo de tropas russas não foi muito mais significativo do que o que ele viu no passado.
“Sou o presidente da Ucrânia, vivo aqui e acho que conheço os detalhes mais profundamente do que qualquer outro presidente”, disse Zelensky. “Não temos nenhum mal-entendido com o presidente Biden. Apenas entendo profundamente o que está acontecendo em meu país, assim como ele entende perfeitamente o que está acontecendo nos Estados Unidos.”
“Não estou criticando o presidente Biden”, acrescentou Zelensky.
Todos os lados parecem estar esperando uma solução diplomática, apesar das divergências. Zelensky disse estar disposto a se encontrar com Putin para uma conversa séria e sugeriu que Biden criasse uma plataforma de diálogo entre Washington, Kiev e Moscou.
“As pessoas não entendem o valor da vida humana e é disso que se trata. Eu apoio um diálogo sério”, disse Zelensky.
A bola, agora, parece estar na quadra do Kremlin. Os EUA e a Otan enviaram respostas escritas separadas às preocupações da Rússia divulgadas publicamente na quarta-feira, uma abertura que Moscou havia solicitado.
Embora os EUA não tenham divulgado o que estava no documento, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, disse que ele continha “nossas próprias propostas para áreas onde podemos encontrar um terreno comum”.
Blinken também disse que “não haverá mudança” na “política de portas abertas” da Otan, deixando os EUA em desacordo com a exigência da Rússia de que a Otan se comprometa a nunca admitir a Ucrânia na aliança.
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, disse que o documento não aborda as principais preocupações da Rússia, embora tenha dito que há esperança de uma “conversa séria, mas em tópicos secundários”.
“A questão principal é a nossa posição clara sobre a inadmissibilidade de uma maior expansão da OTAN para o Leste e o envio de armas de ataque que podem ameaçar o território da Federação Russa”, disse Lavrov.