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    Posições de Lula sobre Ucrânia e China desafiam envio de recursos dos EUA para Amazônia

    CNN apurou que a paciência de funcionários do governo norte-americano com as posições brasileiras em relação à Ucrânia já estava chegando ao limite antes mesmo da viagem de Celso Amorim a Moscou e de Lula a Pequim

    Lourival Sant'Anna

    As posições do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre a Ucrânia e a China podem prejudicar a aprovação no Congresso americano de recursos para a Amazônia.

    A reputação de Lula está em queda livre nos Estados Unidos. Os republicanos já têm zero boa vontade em aprovar verbas para a Amazônia. Com Lula como destinatário desse dinheiro, a disposição pode ser ainda menor. E, sem eles, nenhum projeto passa na Câmara dos Deputados.

    A Casa Branca anunciou nessa quinta-feira (20) a proposta de destinação de US$ 500 milhões para o Fundo Amazônia, além dos US$ 50 milhões já prometidos. Além disso, o projeto de lei Amazon Act prevê US$ 4,5 bilhões para toda a Bacia Amazônica ao longo de vários anos. Mas tudo isso depende de aprovação no Congresso.

    Em um fórum sobre energia e clima promovido pelo presidente dos EUA, Joe Biden, nesta quinta-feira, Lula reiterou seu compromisso de zerar o desmatamento ilegal e pressionou os países desenvolvidos a cumprir suas promessas de destinar recursos aos países em desenvolvimento para a conservação ambiental.

    “Se a reputação de Lula fosse uma ação na Bolsa de Valores, estaria vivendo o crash de 1929”, definiu à CNN um ex-funcionário republicano do governo americano. “Estaria na Grande Depressão.”

    Ele avalia que as atitudes do presidente brasileiro colocam o governo de Joe Biden numa situação delicada para defender a parceria com o Brasil, no contexto dos embates políticos com os republicanos, e da corrida presidencial, que começou prematuramente nos Estados Unidos, embora a eleição seja só em novembro do ano que vem.

    A análise é semelhante à de Nicholas Zimmerman, da consultoria WestExec Advisors, que trabalhou no governo de Barack Obama (2009-2017), cujas equipes de relações exteriores, defesa e segurança nacional são quase as mesmas da administração Biden.

    “Os democratas têm que negociar o dinheiro com o Congresso, e partir para o ataque não está ajudando”, disse Zimmerman, referindo-se às acusações de Lula de que os EUA e a Europa estão incentivando a guerra.

    Os movimentos de Lula para intensificar a parceria com a China também não ajudam.

    “Os republicanos estão muito incomodados com a China”, acrescentou Zimmerman, pesquisador de assuntos brasileiros no Wilson Center, em Washington.

    “Obviamente dificulta a negociação. Claro que não é responsabilidade do governo brasileiro a negociação com o Congresso, e os fundos para o meio ambiente são devidos. Mas torna mais complicado para Biden.”

    A CNN apurou que a paciência de funcionários do governo norte-americano com as posições brasileiras em relação à Ucrânia já estava chegando ao limite antes mesmo da viagem do assessor especial Celso Amorim a Moscou, de Lula a Pequim e do chanceler russo Sergey Lavrov a Brasília.

    Depois desses gestos, e das declarações de Lula em Pequim e Abu Dhabi, criticando o apoio militar do Ocidente à Ucrânia, a situação se tornou ainda mais crítica.

    O conselheiro de Segurança Nacional americano, Jake Sullivan, reforçou na conversa na quarta-feira com Amorim que a declaração de Lula de que os EUA e a Europa estão incentivando a guerra é “errada”, como haviam dito antes dois porta-vozes da Casa Branca.

    Por outro lado, o governo Biden deseja levar adiante a parceria com o Brasil, apesar dessas limitações, sobretudo por causa do potencial na área ambiental. Mas o presidente americano depende do Congresso e, portanto, da maioria republicana na Câmara.

    Em princípio, o Amazon Act depende também do apoio de 10 dos 49 senadores republicanos, para atingir a maioria qualificada de 60 dos 100 votos da Casa. Mas em tese os recursos poderiam ser incluídos numa lei orçamentária, para a qual 50 votos democratas seriam suficientes.

    “Os americanos não esperam alinhamento automático”, analisa Zimmerman. O consultor avalia que Lula “está certo” quando diz que não pensa em Pequim quando está em Washington e vice-versa.

    “O governo Biden tem maturidade para entender isso, e quer investir no meio ambiente.”

    Os planos de destinação de recursos para o meio ambiente são bastante anteriores à ida de Lula a Pequim: remontam ao início do governo Biden e até a suas promessas de campanha em 2020.

    O Brasil também não deve interpretar que são uma reação a seus movimentos em direção à China, e que, portanto, sua estratégia de extrair vantagens dos dois lados está rendendo frutos. Pelo contrário: é apesar deles.

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