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    Por que Obama guardou as críticas mais duras a Trump para o final da campanha

    Obama vê seus anos de silêncio em relação a Trump como a chave para sua capacidade de atacá-lo com força em nome de Joe Biden

    Ex-presidente dos EUA Barack Obama em ato de campanha para Joe Biden
    Ex-presidente dos EUA Barack Obama em ato de campanha para Joe Biden Foto: REUTERS/Kevin Lamarque

    Dan Merica e Jeff Zeleny, da CNN

    Barack Obama conteve suas críticas mais mordazes ao presidente Donald Trump nos primeiros anos de atual presidência, esperando que a falta de ataques constantes tornasse sua voz ainda mais poderosa no momento mais necessário.

    O momento, acredita Obama, é agora.

    De acordo com pessoas próximas ao ex-presidente, Obama vê seus anos de silêncio em relação a Trump como a chave para sua capacidade de atacá-lo com força em nome de Joe Biden, seu ex-companheiro na Casa Branca. Biden é o homem que está concorrendo para destituir um presidente que faz dos ataques ao legado de Obama uma peça fundamental para sua ascensão política. 

    Agora, Obama está criticando Trump severamente – e com gosto – em nome de Biden, tanto expondo suas diferenças políticas com seu sucessor quanto fazendo acusações mordazes de algumas das obsessões pessoais do atual presidente. Obama está prestando muita atenção às ações do dia a dia de Trump e começou a trabalhar essas críticas em seus discursos, importunando o presidente por questões que os democratas sabem que o aborrecem.

    E é evidente para qualquer um que esteja assistindo que Obama está gostando dessa liberação catártica. 

    “Escutem, dá para imaginar como seria se eu tivesse uma conta secreta em um banco chinês quando estava concorrendo à reeleição?”, Obama perguntou brincando, citando uma reportagem do “New York Times” sobre uma conta bancária que Trump mantém na China. “Eles teriam me chamado de Barry de Pequim”.

    Essa estratégia vai continuar neste fim de semana, quando Obama se junta a Biden na campanha eleitoral no estado-chave de Michigan, no sábado (31). 

    O presidente dos EUA, Donald Trump
    O presidente dos EUA, Donald Trump, durante comício no estado da Pensilvânia
    Foto: Leah Millis/Reuters (26.out.2020)

    Uma entrevista entre o jogador de basquete Lebron James e Obama está programada para ir ao ar na sexta-feira (30). É o último exemplo de como o ex-presidente está tentando trazer mais eleitores jovens e negros para Biden.  

    Segundo um conselheiro próximo ao ex-presidente, a decisão de Obama de segurar seu fogo retórico sobre Trump até o final da campanha, foi “intencional”.

    “Ele foi seletivo ao ponderar para preservar sua capacidade de, na reta final, falar da forma mais direta possível sobre o atual ocupante da Casa Branca e fazer com que as pessoas prestem muita atenção”, disse o conselheiro, que reconheceu que Obama está gostando de seu papel no ataque a Trump.

    Para ele, o objetivo de Obama, era “deixar um pouco de combustível na reserva” durante os primeiros anos da presidência de Trump para que ele pudesse “chegar lá” depois de iniciada a corrida eleitoral. 

    Amigo de longa data e conselheiro de Obama, David Axelrod lembrou que Biden também precisava se firmar como o candidato do partido antes que Obama aumentasse sua visibilidade. Axelrod rejeitou qualquer crítica de que o ex-presidente não tenha sido ativo o suficiente nesta campanha, dizendo que teria sido muito mais arriscado surgir antes, dando a Trump mais tempo para tentar usar Obama contra Biden. 

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    “Em termos de valor, foi inteligente não expor demais [o presidente]”, contou Axelrod, que é colaborador da CNN. “O presidente aparece em apelos digitais direcionados a eleitorados que os democratas precisam despertar nesta eleição: jovens e pessoas não brancas, que não saíram para votar na quantidade que Hillary Clinton esperava quatro anos atrás”. 

    Na verdade, Obama não ficou inteiramente em silêncio durante a presidência de Trump: o ex-presidente alertou sobre os impactos dos esforços republicanos para revogar o Obamacare em 2017, aumentou seus ataques aos republicanos durante as eleições de meio de mandato de 2018 e fez um discurso sóbrio, mas mordaz, na Convenção Nacional Democrata meses atrás. Ele também participou de dezenas de esforços democratas para atrair eleitores em 2020, incluindo anúncios digitais para candidatos de todo o país.

    Joe Biden durante evento de campanha no estado da Pensilvânia, nos EUA
    Joe Biden durante evento de campanha no estado da Pensilvânia, nos Estados Unidos
    Foto: Kevin Lamarque/Reuters (24.out.2020)

    Mas todas essas incursões na política empalidecem em comparação com a natureza desenfreada das críticas de Obama nos dias finais da campanha presidencial.

    Na semana passada, na Filadélfia, Obama questionou a política tributária de Trump e sua gestão da pandemia, ao mesmo tempo em que proferia farpas pessoais, como pontadas contra a redução de público nos discursos e sabatinas do presidente. 

    “Sério?” Obama perguntou incrédulo quando lembrou que Trump havia dito que não havia muito que ele mudaria em sua resposta à pandemia. “Não muito? Você não pensa em nada que pudesse ter ajudado algumas pessoas a manter seus entes queridos vivos?”, questionou.

    Dias depois, Obama disse que as tentativas de Trump de parecer durão são todas uma fachada.

    “Ele gosta de agir duro e falar grosso. Ele acha que fazer cara feia e ser mau é ser duro”, disse Obama em um comício drive-in no sul da Flórida ao mencionar que Trump havia encerrado abruptamente uma entrevista importante para o programa de televisão “60 Minutes”. “Mas quando o ‘60 Minutes’ e [a apresentadora] Lesley Stahl são muito duros com você, você não o é”.

    E no último exemplo de Obama prestando muita atenção às notícias do cotidianas relacionadas a Trump, ele zombou do presidente por lamentar que os meios de comunicação cobrem demais o coronavírus.

    Mais de 225 mil pessoas morreram neste país. Mais de 100 mil pequenas empresas fecharam. Meio milhão de empregos desapareceram somente na Flórida. Pense nisso”, disse Obama. “E qual é a palavra final dele? Que as pessoas estão muito focadas na Covid-19. Ele disse isso em um de seus comícios. Covid, Covid, Covid, ele está reclamando. Ele está com ciúmes da cobertura da mídia da Covid”.

    Obama passou anos tentando seguir uma tradição de longa data de que ex-presidentes evitam atacar seus sucessores, dizendo às pessoas que apreciava a forma como George W. Bush havia se mantido afastado da política eleitoral durante sua presidência. Trump, entretanto, mudou essa estratégia.

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    Como disse um conselheiro, Trump tem sido um “presidente destruidor de normas”, incluindo aquela de que ex-presidentes que evitam atacar diretamente seus sucessores. 

    O ressurgimento de Obama encantou os democratas e claramente irritou Trump, que começou a tuitar sobre o ex-presidente enquanto veículos como a Fox News e outros divulgaram seus discursos. 

    “Obama está atraindo um número MUITO pequeno (minúsculo) de pessoas”, tuitou Trump sobre o discurso de Obama na terça-feira (27). “Biden está atraindo quase ninguém. Estamos atraindo dezenas de milhares de pessoas. Você verá isso novamente hoje. A Grande Onda Vermelha está chegando!!!” (Vermelho é a cor do Partido Republicano). 

    Há muito tempo existe um desequilíbrio no relacionamento de Obama e Trump: o atual presidente mencionou seu antecessor muito mais do que Obama falou de seu sucessor. 

    Mas este último esforço de Obama mudou o relacionamento. Depois de anos ignorando Trump incessantemente promovendo teorias da conspiração sobre ele, Obama usou seu antigo silêncio para elevar o que decide dizer quando é mais importante. 

    Por mais que Obama esteja gostando de criticar Trump, esta eleição será um teste central para o ex-presidente, que até o momento não conseguiu transferir sua popularidade para outros democratas. Tal fato foi evidente em 2016, quando suas frequentes incursões na campanha presidencial não ajudaram Hillary Clinton a ultrapassar a linha de chegada, levando à vitória inesperada de Trump. 

     

    (Texto traduzido, clique aqui para ler o original em inglês).