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    Por que as pessoas se apaixonam por assassinos?

    Sheila Isenberg, autora de 'Mulheres que amam homens que matam', conversou com dezenas de mulheres que se relacionaram com assassinos para tentar entender

    Ryan Bergeron, da CNN

    Ted Bundy. Richard Ramirez, o “Perseguidor da Noite”. Kenneth Bianchi e Angelo Buono, os “Estranguladores de Hillside”. Todos são assassinos famosos com outra coisa em comum: os quatro se casaram na prisão, bem depois de serem condenados por seus crimes notórios.

    Mas quem se casaria com um assassino em série – e por quê?

    Sheila Isenberg, autora de “Women Who Love Men Who Kill” (“Mulheres que amam homens que matam”, sem edição no Brasil) conversou com dezenas de mulheres que se relacionaram com assassinos. 

    A escritora descobriu dois grupos principais de pessoas que ficam com assassinos: aquelas que se apaixonam por “assassinos comuns”, acreditando que veem o “verdadeiro” lado bom do criminoso, e aquelas que começam relacionamentos com matadores famosos, que estão sempre nas manchetes dos jornais, porque são atraídas pelos holofotes.

    “Elas também querem ser famosas. Quando Scott Peterson foi condenado, ele recebeu inúmeras propostas de casamento antes mesmo de chegar à prisão. Elas sabem que, ao se envolverem com esses homens, vão sair nos jornais”, contou Isenberg.
    Charles Manson ficou noivo e iria se casar pouco antes de morrer (em 2017), já os dois irmãos Menendez se casaram enquanto presos, assim como a dupla de estranguladores de Hillside.

    E não são só mulheres que buscam os criminosos. Susan Atkins, membro da Família Manson que foi condenada à prisão perpétua por seu papel no caso Sharon Tate-LaBianca (em que a atriz e outras seis pessoas foram assassinadas em dois dias pelo bando de Charles Manson), casou-se com dois homens diferentes na prisão.

    Richard Ramirez
    Richard Ramirez também se casou depois de ser preso e condenado
    Foto: Netflix/Reprodução

    Cegas de amor

    Em sua pesquisa, Isenberg descobriu que muitas mulheres nos dois grupos acreditam que seus namorados e maridos condenados são, na verdade, inocentes.

    “Elas se iludem ao achar que os homens que amam não haviam cometido os crimes”, disse Isenberg.

    A escritora lembra o caso de Carol Ann Boone, que começou seu relacionamento com Ted Bundy quando ele estava sendo julgado por dois assassinatos e três agressões na Florida State University. Boone se casou com o criminoso e teve um filho com ele. Bundy mais tarde confessou 30 assassinatos.

    A esposa, que havia trabalhado com Bundy no Departamento de Serviços de Emergência do estado de Washington, disse que “gostou de Ted imediatamente” e testemunhou a seu favor porque sentiu que ele estava sendo “atropelado”. Só anos depois da condenação é que ela finalmente se convenceu da culpa de Bundy e encerrou o relacionamento.

    Doreen Lioy se casou com Richard Ramirez, o “Perseguidor da Noite”, que matou mais de uma dúzia de pessoas. Em 1997, ela disse à CNN que não se importava se as pessoas pensassem que ela era louca. “Eu acredito nele totalmente”, declarou Lioy. “Na minha opinião, havia muito mais evidências para condenar O. J. Simpson”, comparou.

    Nos casos em que a pessoa foi considerada culpada de apenas um assassinato, Isenberg disse que as mulheres muitas vezes recorrem a circunstâncias atenuantes – que a pessoa estava drogada, por exemplo, ou que foi um acidente que não representa o caráter real da pessoa.

    A dura realidade

    Como muitos estados não permitem visitas conjugais, para alguns desses casais nunca houve a chance de consumação física do casamento. As mulheres, em sua maioria, não se importam com isso, diz Isenberg, e a maioria está mais interessada no romance.

    Namorar alguém que está cumprindo uma sentença de prisão perpétua geralmente envolve uma conquista bastante intensa. A maioria desses prisioneiros não tem nada além de tempo, e então eles inundam as namoradas com afeto.

    “Eles pintam quadros para elas, escrevem poemas, cartas longas de 30, 40, 50 páginas. É um relacionamento extremamente romântico”, explicou Isenberg. Para muitos, “é como viver um romance de livro”.

    De sua pesquisa, Isenberg conclui que, para muitas dessas mulheres, um relacionamento como esse é um movimento de poder.

    “Muitas dessas mulheres vieram de infâncias abusivas ou foram espancadas. Algumas foram abusadas física, psicológica ou verbalmente, mas todos foram vítimas. Minha teoria é que o relacionamento com um homem que está atrás das grades pelo resto da vida ou no corredor da morte dá à mulher a segurança de que ele não pode machucá-la. Ela está na direção e no controle, talvez pela primeira vez na vida”, nota Isenberg.

    Apesar de toda a intensidade, muitos desses relacionamentos não duram.

    No entanto, como quase todos esses prisioneiros nunca serão libertados, não há chance de seguir em frente e viver juntos na vida cotidiana. Para as mulheres que se apaixonam por assassinos, isso pode parecer uma situação de “namorado perfeito”. 

    Como escreveu na revista “Psychology Today” Katherine Ramsland, professora de psicologia forense na Universidade DeSales, da Pensilvânia, “não há roupa para lavar, comida para cozinhar nem conta alguma para prestar a ele”.

    Sem as paredes da prisão, a fantasia desabaria.

    (Texto traduzido. Leia o original em inglês aqui.)