Por que 2022 vai entrar para a história do Reino Unido como o pior ano do século
O país deu adeus à Rainha Elizabeth II, bateu recorde com três primeiros-ministros em três meses e enfrentou sua maior inflação dos últimos 41 anos. Isso sem falar da Copa
O ano de 2022 foi, de longe, o mais turbulento da história recente do Reino Unido – um país reconhecido por sua democracia madura e por suas instituições sólidas.
O segundo semestre, em particular, foi cercado de drama do início ao fim.
Neste curto espaço de tempo, o reino teve dois monarcas, três primeiros-ministros e quatro ministros das finanças diferentes –além de bater recordes de inflação alta e enfrentar uma crise de energia.
Foram mudanças demais para um povo acostumado com uma boa dose de estabilidade.
A morte da Rainha Elizabeth II
A mais dolorosa de todas as mudanças foi a morte da Rainha Elizabeth II, aos 96 anos, no dia 9 de setembro.
A monarca mais longeva de toda a história do país, reinando por 70 anos, era um símbolo de continuidade no Reino Unido.
Ela foi sucedida pelo filho, o Rei Charles III, que não é nem remotamente tão popular como a mãe. Pelo contrário, muitos defenderam que ele nem deveria assumir o trono, deixando o posto para o filho, o Príncipe William.
Por coincidência, o adeus da rainha aconteceu em meio ao período de maior turbulência política dos últimos anos.
Escândalos e renúncia
Em julho, o então primeiro-ministro Boris Johnson renunciou ao cargo depois de uma sucessão de escândalos que levaram o seu próprio Partido Conservador a exigir o fim de seu governo.
Muito carismático, Johnson sempre esteve envolvido em polêmicas. Ele foi acusado de mentir várias vezes, violou regras e chegou a participar de festas na residência oficial durante os momentos mais duros dos lockdowns adotados pelo país na pandemia.
O golpe final veio após Johnson promover um político acusado de assédio sexual contra dois homens ao posto de vice-líder da legenda.
O partido, farto de suas condutas erráticas, decidiu que ele tinha ido longe demais. Vários ministros renunciaram no mesmo dia, em protesto contra o seu líder, e a queda foi inevitável.
Primeira-ministra relâmpago
A sucessora de Johnson deixou as coisas ainda piores: Liz Truss foi a primeira ministra que ficou menos tempo no cargo na história da longa democracia britânica.
Lia, a Breve, durou apenas 50 dias no posto, mas foi o suficiente para criar uma crise econômica que derrubou a libra a patamares históricos e aumentou os juros das dívidas do país.
Tudo porque seu governo anunciou fortes cortes de impostos para empresas e contribuintes sem levar em conta o risco fiscal e a inflação alta.
A sua política, no fim, ajudou a aumentar a inflação no país, que bateu em 11.1% ao ano, a mais alta taxa em 41 anos. O custo de vida, de repente, passou a ser o principal tópico nas conversas no país –superando até o tradicional apelo dos britânicos de reclamar insistentemente do clima.
A Guerra na Ucrânia também ajudou a elevar preços, claro, como aconteceu em toda a Europa, especialmente depois das sanções econômicas que levaram a Rússia a retaliar com a diminuição na oferta de gás para o continente. Mas a incompetência de Truss e seu time econômico foram marcantes e apenas agravaram a situação.
Rishi Sunak, que a sucedeu, já conseguiu pelo menos passar a marca da antecessora e está no cargo há mais de seis semanas. Não é um recorde, mas indica uma tentativa de estabilização econômica e política.
E mais uma vez a Inglaterra perde nos pênaltis
Para adicionar injúria ao insulto, como diz o ditado popular britânico (“to add injury to insult”), o país ainda viu a mais forte seleção da Inglaterra dos últimos anos ser eliminada da Copa do Mundo do Catar pela França, uma eterna rival.
Pior, com requintes de crueldade, já que seu maior goleador, Harry Kane, isolou um pênalti batido no segundo tempo.
Os britânicos certamente estão torcendo para 2023 ser mais feliz