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    Por ligação histórica, apoio do Irã ao Hamas não surpreende, dizem especialistas à CNN

    Apesar do apoio, a missão iraniana nas Nações Unidas negou nesta segunda-feira (9) envolvimento de Teerã nas ações do grupo islâmico

    Lucas Schroederda CNN , em São Paulo

    Após os ataques do grupo islâmico Hamas contra Israel no último final de semana, o presidente do Irã, Ebrahim Raisi, afirmou que o seu país “apoia a legítima defesa da nação palestina”, de acordo com a agência de notícias iraniana Mehr.

    “O regime sionista e os seus apoiadores são responsáveis por colocar em perigo a segurança das nações da região”, declarou Raisi. A guerra deixou centenas de israelenses e palestinos mortos até o momento, além de milhares de feridos.

    Ainda que o mandatário iraniano tenha sinalizado apoio aos ataques que surpreenderam Israel nas primeiras horas de sábado (7), a missão iraniana nas Nações Unidas negou nesta segunda-feira (9) envolvimento de Teerã nas ações do Hamas.

    “Apoiamos enfaticamente a Palestina; no entanto, não estamos envolvidos na resposta Palestina, uma vez que ela é tomada exclusivamente pela própria Palestina”, disse o país em nota.

    O Irã tem sido repetidamente acusado de tentar armar o Hamas e outros grupos no seu esforço para atacar por procuração.

    A CNN ouviu especialistas para compreender quais são os laços entre as autoridades em Teerã e o grupo palestino considerado terrorista pelos Estados Unidos e pela União Europeia (UE).

    Posição do Irã não surpreende, avalia especialista

    Na percepção de Reginaldo Nasser, professor de Relações Internacionais da PUC-SP, o posicionamento do presidente iraniano não surpreende. “Pelo jogo da articulação do Oriente Médio, o Irã sempre apoiou [o Hamas]”, diz ele.

    Para o professor, o que de fato chama a atenção é a postura da Arábia Saudita, que destacou em nota sobre o conflito a “depravação do povo da Palestina de seus direitos legítimos, além da repetição de provocações sistemáticas contra suas santidades”.

    Arábia Saudita e Israel vinham negociando nos últimos meses um acordo histórico de normalização das relações entre os países, intermediado pelos Estados Unidos. A ofensiva do Hamas, no entanto, pode colocar tudo a perder.

    “Até uma semana atrás, [os países] estavam em entendimento para um grande acordo. Agora, a princípio, ele está suspenso”, comenta o especialista.

    Questionado, o professor ponderou que, apesar da gravidade dos combates, “não há a mínima possibilidade” de outros países árabes se envolverem no conflito.

    A questão palestina ficou isolada dentro do Oriente Médio

    Reginaldo Nasser, professor livre docente de Relações Internacionais da PUC-SP

    Ligação entre Irã e Hamas é histórica, segundo pesquisador

    Para Felipe Vidal, pesquisador do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da UERJ, existem ligações históricas entre Irã e Hamas, que está ligada à narrativa antissionista (oposição à existência do Estado de Israel) compartilhada por ambos.

    “Existe uma ligação comprovadamente histórica de apoio, não só narrativamente, mas do ponto de vista prático entre as Forças Armadas iranianas e o Hamas”, aponta o especialista.

    Na avaliação do pesquisador, há indícios de que o grupo islâmico recebe armamentos vindos de Teerã. Com relação à postura do Irã, Neaape destaca que “fica uma posição um tanto quanto dúbia no sentido de que o país alega não ter participado, mas diz apoiar [os ataques]”.

    O pesquisador cita também manifestações pró-Hamas que ocorreram nas ruas do Irã após os dos últimos dias como uma prova da aliança entre o país e o grupo islâmico.

    Assim como Reginaldo Nasser, o pesquisador não acredita que outros Estados venham ao socorro do Hamas.

    O conflito pode escalar, mas não são tantos os países que estão dispostos a financiar o Hamas contra Israel

    Felipe Vidal, pesquisador do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da UERJ

    Novo ciclo de violência pode interessar ao Irã, destaca professor

    Conforme explica Sandro Teixeira Mota, professor de Pós-Graduação em Ciências Militares da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme), o apoio do Irã ao Hamas é cada vez maior e mais forte.

    “O Irã assumiu o vácuo de outros financiadores desse movimento e hoje ele é o principal sustentáculo externo do grupo em relação as suas atividades. O Irã vai negar [a relação], mas os sinais estão muito claros e ele seria o principal beneficiado de uma ação desse tipo”, afirma o professor.

    Para ele, as tensões entre Israel e Irã devem se manter no campo dos serviços de inteligência, no que classifica como “guerra nas sombras”.

    Segundo o especialista, um dos objetivos dos ataques do Hamas pode ser recuperar a centralidade da questão palestina no mundo árabe.

    Um novo ciclo de violência entre israelenses e palestinos é interessante para o Irã, inclusive ajuda a erodir parte da credibilidade do processo de normalização de Israel com os países da região

    Sandro Teixeira Mota, professor de Pós-Graduação em Ciências Militares da ECEME

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