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    Por dentro do roubo de joias de US$ 128 milhões que chocou o mundo

    21 artefatos cravejados de diamantes foram roubados do museu Green Vault, na Alemanha, em 25 de novembro de 2019 e nunca foram encontrados

    Foto de abril de 2020 mostra vitrine onde ficavam expostas as joias que foram roubadas em 2019
    Foto de abril de 2020 mostra vitrine onde ficavam expostas as joias que foram roubadas em 2019 Sebastian Kahnert/picture alliance via Getty Images

    Ivana Kottasováda CNN

    Foram necessários pelo menos nove golpes fortes com um machado para quebrar a caixa de vidro no histórico Green Vault de Dresden, cidade na Alemanha. Após o vidro quebrar, dois ladrões mascarados pegaram 21 artefatos inestimáveis ​​cravejados de diamantes e desapareceram.

    Em 25 de novembro de 2019, em poucos minutos, algumas das joias históricas mais valiosas do mundo desapareceram.

    Um julgamento com os seis homens acusados ​​de realizar um dos maiores roubos de joias da história começou na sexta-feira, 28 de janeiro. Mas o mistério sobre o que aconteceu com os tesouros que supostamente roubaram permanece.

    Esta é a história de um assalto que surpreendeu o mundo – e o meticuloso trabalho policial que levou à captura de seis membros da gangue da família que a polícia acredita ser responsável por isso.

    Adornados com mais de 4.300 diamantes, os tesouros roubados do Green Vault valiam pelo menos US$ 128 milhões, de acordo com o Ministério Público. No entanto, a diretora da Coleção de Arte do Estado de Dresden, Marion Ackermann, disse que seu valor material nem começa a refletir sua “incalculável” importância histórica e cultural.

    Quase todos os artefatos roubados foram feitos durante o governo de Frederico Augusto III, o último Eleitor da Saxônia, que mais tarde ficou conhecido como Frederico Augusto I, o primeiro rei da Saxônia.

    Entre os objetos roubados, estava um fecho de chapéu de 1780 decorado com 15 diamantes grandes e mais de 100 pequenos, bem como uma espada de 96 centímetros e uma bainha, que, juntas, continham mais de 800 diamantes.

    Mas não foi apenas o imenso valor do saque que capturou a atenção do mundo, foi a ousadia com que o ataque foi supostamente realizado.

    Entre as joias roubadas do museu “Green Vault”, em Dresden, na Alemanha, estão uma estrela da Ordem Polonesa da Águia Branca (à esq.), um adorno de chapéu adornado com um diamante de 16 quilates e um punho de espada cravejado de diamantes / JÜRGEN KARPINSKI / GREEN VAUL, DRESDEN

    Roy Ramm, consultor de segurança e ex-comandante de operações especializadas da New Scotland Yard, em Londres, disse à CNN que crimes como esse são cada vez mais raros.

    “A segurança técnica melhorou ao longo dos anos com sistemas de alarme CCTV e todos os tipos de proteções de alta tecnologia, então há um alto grau de detecção precoce e chances de ser pego em flagrante… você precisa de algumas informações internas e um plano muito, muito detalhado”, disse.

    De acordo com os investigadores, quatro meses antes do assalto, um suspeito foi à cidade de Magdeburg, quase 290 quilômetros a noroeste de Dresden, para recolher um Audi S6 azul escuro usado: o futuro carro de fuga.

    O veículo já tinha o registro cancelado, mas a polícia disse que a quadrilha foi ainda mais longe em seus esforços para disfarçar sua origem, mudando a cor para prata e deixando apenas o teto escuro.

    “O que isso me diz é que essas pessoas planejaram meticulosamente; eles estavam pensando, em suas próprias mentes, como o roubo aconteceria e qual seria a reação da polícia, e o tempo todo pensavam em maneiras de interromper a atividade policial ou ganhar mais tempo”, disse Ramm.

    “Se o carro fosse visto por um transeunte saindo do local, e essa pessoa pudesse dar uma descrição do carro, uma vez que a polícia começasse a investigar aquele veículo, essas investigações se tornariam mais complicadas, mais difíceis e mais demoradas de se resolver.”

    E a polícia diz que os preparativos da quadrilha não pararam no carro de fuga.

    Poucos dias antes do assalto, as barras da janela por onde os ladrões entraram no cofre foram cortadas, segundo as autoridades. A remoção completa da grade de metal poderia levantar suspeita pelos transeuntes, então os ladrões cobriram seus rastros colocando temporariamente as barras de volta no lugar com cola, disse a polícia.

    A janela estava em um ponto cego, por isso não era visível pelas câmeras de segurança e toda a área estava em “completa escuridão”, disse o Ministério da Cultura e Turismo do Estado da Saxônia em resposta a um inquérito do parlamento saxão.

    Um sensor de movimento que deveria ter sido acionado pelo roubo não disparou. O ministério disse que o alarme disparou no dia anterior ao crime e os seguranças não conseguiram reativá-lo.

    Vista do exterior do castelo de Dresden, que abriga o Green Vault e onde novos sistemas de segurança estão sendo instalados. Nesta sexta, dia 28, se inicia o julgamento dos seis homens acusados de roubar joias do museu / Matthias Rietschel/Getty Images

    A CNN entrou em contato com o escritório do promotor estadual para obter mais detalhes sobre a falha do alarme, mas o escritório não quis comentar porque a investigação está em andamento.

    Por volta das 4h50 da manhã de segunda-feira, 25 de novembro de 2019, a gangue entrou em ação, segundo a polícia.

    Primeiro, disse a polícia, os ladrões ou seus cúmplices incendiaram uma caixa de distribuição de energia perto do Green Vault. Isso fez com que as luzes das ruas próximas se apagassem, mergulhando toda a área na escuridão.

    Em seguida, às 4h57, eles se dirigiram para o cofre.

    A polícia disse que o vídeo da câmera de segurança mostrou que os ladrões sabiam para onde estavam indo. Depois de entrar no prédio pela janela do espelhado Hall dos Tesouros, a polícia acredita que eles correram pela Sala de Heráldica do cofre direto para a Sala de Jóias, onde as peças mais valiosas do museu ficam em exibição.

    Imagens de câmeras de segurança mostram que os ladrões levaram apenas alguns minutos para entrar, quebrar a vitrine, pegar as joias e sair. Os assaltantes não conseguiram roubar todas as peças da vitrine, porque algumas foram costuradas nas caixas, disse Ackermann à emissora pública alemã ZDF.

    Mas, antes de fugir, os ladrões pulverizaram a sala com um extintor de pó para cobrir seus rastros, disse a polícia.

    “As pegadas são muitas vezes usadas para identificar os calçados usados ​​pelos criminosos”, disse Ramm. “Com bastante frequência, eles se livram das luvas e de todo tipo de coisas, mas esquecem de se livrar dos sapatos. Então, qualquer coisa que interrompa a trilha forense é – hesito em dizer – útil.”

    A polícia disse que os ladrões escaparam do local no Audi e que, apenas 13 minutos depois que a câmera do circuito de segurança capturou as primeiras imagens deles entrando no cofre, o carro da quadrilha foi abandonado e incendiado em uma garagem subterrânea a cerca de cinco quilômetros de distância.

    A polícia ligou o carro ao roubo quase que imediatamente.

    “É incrivelmente difícil usar um veículo e não deixar o DNA para trás”, disse Ramm. “Houve muitos casos em todo o mundo em que pequenas quantidades de DNA foram encontradas e foi o suficiente para relacionar a pessoa a um carro… então incendiar o veículo tinha tudo a ver com o DNA”.

    A operação policial, codinome Operação Epaulette, em homenagem a um dos artefatos roubados naquele dia, começou no momento em que a equipe de segurança do museu fez sua primeira ligação de emergência – enquanto os ladrões ainda estavam dentro do prédio.

    Foto de abril de 2020 mostra vitrine onde ficavam expostas as joias que foram roubadas em 2019 / Sebastian Kahnert/picture alliance via Getty Images

    Os dois seguranças do cofre viram o assalto acontecendo em monitores de segurança, mas não intervieram. Essa decisão foi posteriormente questionada pela polícia, mas Ackerman disse que a equipe seguiu os protocolos de segurança.

    Ramm disse que os detetives provavelmente começaram olhando atentamente para o próprio museu.

    “A única maneira dessas coisas acontecerem é se os ladrões tiverem informações privilegiadas realmente boas”, explicou ele. “Você precisa saber que não há, por exemplo, feixes de laser do outro lado da sala, você precisa saber que não há abas sensíveis à pressão ao redor do local. É extremamente arriscado fazer o que eles fizeram”.

    “É plausível que eles tenham feito uma extensa pesquisa sobre o edifício”, disse Ramm.

    A Procuradoria do Estado da Saxônia disse em março de 2020 que estava investigando quatro agentes de segurança do museu. Na semana passada, o gabinete do Procurador do Estado disse à CNN que a investigação está em andamento.

    Um porta-voz disse que uma queixa criminal foi apresentada contra dois guardas por um indivíduo, alegando que eles “não reagiram adequadamente e impediram o roubo”.

    Ele disse que outros dois seguranças foram investigados. Um deles era suspeito de entregar documentos sobre o Green Vault e seus sistemas de segurança aos criminosos e foi preso quatro dias após o assalto. O outro guarda foi liberado após uma investigação, informou.

    O porta-voz acrescentou que um quarto guarda está sendo investigado porque “há indícios de uma ação em relação ao sistema de alarme, o que poderia ter facilitado o roubo”.

    Em setembro de 2020, a polícia disse ter recebido centenas de denúncias e revistado várias propriedades de Berlim que acrediram estarem ligadas ao roubo.

    Eles também descobriram mais sobre o carro de fuga – incluindo onde ele foi repintado ou refilado – e divulgaram uma imagem composta de um dos suspeitos.

    Então, em 17 de novembro de 2020, quase um ano após o roubo dos valiosos tesouros do Green Vault, a polícia lançou uma enorme operação de segurança em Berlim, trazendo forças especiais e 1.638 policiais de toda a Alemanha.

    Eles tinham como alvo cinco membros do infame Clã Remmo, uma das famílias criminosas mais poderosas da Alemanha, que opera principalmente em Berlim.

    Ralph Ghadban, cientista político e especialista em clãs na Alemanha, disse que a forma como o assalto foi supostamente realizado e o número de suspeitos e seus possíveis cúmplices envolvidos mostra o poder que os clãs exercem.

    Peças em exposição no museu Green Vault, em Dresden
    Peças em exposição no museu Green Vault, em Dresden / Foto: Reprodução – 03.jun.2009 / Reuters

    “O clã protege e ajuda seus membros, podendo ter milhares de integrantes e dominar e aterrorizar bairros inteiros da cidade”, disse ele, acrescentando que a ação “forçada e rápida” exibida durante o assalto é uma das marcas dos clãs.

    A polícia anunciou a prisão de três dos cinco principais suspeitos durante a operação em Berlim e identificou os dois suspeitos ainda foragidos como os irmãos gêmeos Abdul Majed R. e Mohamed R.; uma busca massiva foi lançada para encontrá-los.

    A Interpol emitiu um aviso vermelho para os gêmeos, mas levou mais um mês para Mohammed ser pego em um carro no bairro de Neukölln, em Berlim – no território do clã Remmo.

    Abdul Majed permaneceu foragido por mais cinco meses antes de também ser detido, em 17 de maio de 2021.

    Um sexto e último suspeito no caso foi preso em agosto de 2021, disse a polícia.

    Um mês depois, os promotores do caso finalmente acusaram todos os seis homens de crimes, incluindo roubo de gangues e incêndio criminoso. Três dos suspeitos são irmãos e os outros três são seus primos.

    Dois dos acusados ​​foram anteriormente condenados por roubar uma moeda de ouro comemorativa de 100 quilos conhecida como “Big Maple Leaf” do Museu Bode de Berlim e agora estão cumprindo penas de prisão por isso.

    A CNN entrou em contato com os representantes dos acusados ​​para comentários.

    Os suspeitos podem estar presos, mas para a polícia a investigação está longe de terminar.

    “Algo dessa natureza, onde os itens em si são insubstituíveis, a maioria dos detetives com quem trabalhei ao longo dos anos pensaria que é um trabalho “meio feito”, não tendo recuperado os itens”, disse Ramm.

    Então, o que aconteceu com aquelas joias de valor inestimável roubadas?

    Ramm e outros especialistas acreditam que o cenário mais provável é o que os curadores do museu mais temiam: que os itens roubados tenham sido quebrados, as pedras vendidas e os metais preciosos derretidos.

    “Tudo isso requer organização”, disse Ramm. “É muito raro que as pessoas que realmente roubaram os itens sejam as pessoas que os descartaram. Haverá uma rede, e é por isso que a polícia estará muito, muito interessada em obter telefones celulares, computadores, qualquer coisa que mostre as ligações entre as seis pessoas que eles estão levando a julgamento em breve e quaisquer outros grupos criminosos”.

    Discos rígidos, computadores e telefones celulares foram apreendidos durante a gigantesca investigação policial, mas os próprios tesouros roubados desapareceram sem deixar vestígios.

    O Green Vault permaneceu fechado aos visitantes por meses, devido à investigação e, posteriormente, à pandemia do coronavírus. Quando reabriu, em maio de 2020, o gabinete arrombado foi consertado, mas deixado deliberadamente vazio.

    O julgamento está programado para durar pelo menos até o final de outubro. Se condenados, os suspeitos podem enfrentar penas de prisão de vários anos.

    Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.

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