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    Pesquisador vê relação entre deslizamento no Himalaia e aquecimento global

    'Aquecimento global faz derretimento do Himalaia dobrar desde os anos 2000', explica Carlos Ritt

    Operações de resgate continuam após uma geleira ter se soltado e provocado a ruptura de uma barragem na Índia . As autoridades estimam que até 150 pessoas tenham morrido; 7 corpos foram encontrados. Em entrevista para a CNN, o pesquisador ambientalista Carlos Ritt, visitante do Instituto de Estudos Avançados em Sustentabilidade, que fica em Potsdam, Alemanha, relacionou o caso ao aquecimento global. 

    “As pesquisas mostram que em função do aquecimento global, a velocidade de derretimento das geleiras na cadeia do Himalaia dobrou a partir do ano 2000, do início desse milênio, do início desse século. Então, existe um derretimento mais acelerado em regiões muito montanhosas. Na região do Rio Ganges, onde rompeu-se esta barragem, há muitos projetos hidrelétricos. Na bacia deste rio onde houve o rompimento, em função da descida das geleiras, você tem pelo menos outros treze projetos”, explica.

    Ritt diz que em função do aquecimento global, cientistas e ambientalistas têm alertado que os projetos de hidrelétricas necessitam ser repensados por questões de segurança. “Existe, inclusive, uma estimativa que em torno de 8 bilhões de toneladas de neve sejam perdidas a cada ano”, destaca.

    Queda de barragem na Índia (07 fev 2021)
    Equipe de resgate na Índia (07 fev. 2021)
    Foto: Reprodução / CNN

    Carlos Ritt explica que a área atingida é muito ampla e com relevo acidentado. Portanto, o trabalho de resgate e localização dos corpos será muito demorado. “A gente vê imagens de pessoas se descolando com cuidado, descendo cordas, mas é necessário muitas vezes um trator, uma retroescavadeira para remover grande quantidade de lama e resíduos porque a geleira derretou, mas levou abaixo parte da estrutura da barragem, muita lama, muitas pedras, então tudo isso precisa ser removido para que seja possível encontrar as vítimas. É um trabalho bastante delicado e muito difícil em uma regiã ode relevo muito acidentado”. 

    Efeito estufa

    O Diretor do Instituto de Biociência da USP, Marcos Buckeridge, relacionou a tragédia que aconteceu neste domingo (7) no Himalaia, na Índia, com o desastre em Brumadinho em 2019. Ambas foram provocadas por rupturas de barragem. 

    “O grande problema é que quando isso ocorre próximo a populações humanas, ele causa desastres. Neste caso, um desastre inclusive que lembra muito Brumadinho. Os efeitos são bastante parecidos, apesar da origem ser diferente”. 

    Buckeridge afirma que há anos os ambientalistas vêm se dedicando a estudar e alertas as autoridades sobre os riscos. Até mesmo em relação ao derretimento da Cordilheira dos Andes já existem pesquisas. 

    “No Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, nós já estamos avisando isso há bastante tempo. Em 2014, inclusive, nós escrevemos sobre estes problemas que poderiam ocorrer aqui na América do Sul, nos Andes”.

    Como solução, o pesquisador aponta a necessidade de diminuição da emissão de gás carbônico. “O caminho que nós indicamos no IPCC – Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas – é diminuir as emissões de carbono. Isso, infelizmente, governos diferentes dão valores diferentes”, disse.

    Ele, entretanto, diz que ainda é preciso ser estudado o real motivo do que provocou o deslizamento da geleira. “Existe um efeito que nós chamamos de inércia. A temperatura vai continuar aumentando. Mesmo que a gente pare agora de emitir gás carbônico, os efeitos vão demorar um pouco para acontecer. Nós estamos chegando em alguns pontos do planeta no limite, como provavelmente pode ter acontecido aí. Pode ser um outro evento, vai precisar ser avaliado, isso vai ser estudado, provavelmente, por vários especialistas em geleira. 

    Ele ressalta que o problema do derretimento ocasionado pelas mudanças climáticas é gradativo. “Chega num determinado ponto que estas geleiras podem partir e descer. Nesse caso específico do Himalaia, é uma queda que deve ter sido entre 3 mil e 3,5 mil metros. Então você imagina a força desse gelo descendo e forma de fato uma espécie de tsunami no caminho do rio”.

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