Perfil: socialista, Sanders desafia establishment democrata
Senador por Vermont é o líder em arrecadações individuais e o favorito entre os eleitores democratas mais jovens
Nem mesmo um ataque cardíaco sofrido no fim de 2019 foi capaz de fazer Bernie Sanders desistir da disputa pela indicação do Partido Democrata para concorrer na eleição presidencial dos Estados Unidos no próximo mês de novembro.
Quatro anos depois de ser derrotado por Hillary Clinton nas primárias do partido, o senador por Vermont agora tem pela frente um adversário ainda mais difícil: o ex-vice-presidente Joe Biden.
“Peço que vocês se juntem a mim como parte de uma campanha, com foco nas bases, sem precedentes e histórica”, escreveu o senador em um e-mail enviado a apoiadores em fevereiro de 2019, quando lançou sua candidatura.
No texto, o senador também chamou o presidente americano, Donald Trump, de “mentiroso patológico, fraudador, racista, sexista e xenófobo” e descreveu o republicano como “alguém que está debilitando a democracia da América ao liderar o país em uma direção autoritária”.
Apesar de ser o candidato mais velho na disputa — se for escolhido e vencer a eleição presidencial em novembro, Sanders se tornará a pessoa mais velha a ser empossada presidente dos EUA, com 79 anos —, um de seus principais trunfos é o forte apelo entre os eleitores jovens.
Sanders também é líder entre os democratas em outra frente: as arrecadações para a campanha. Dos US$ 134 milhões que já gastou, US$ 120 milhões foram provenientes de doações individuais, segundo dados do Comitê Eleitoral Federal (FEC, em inglês). Esse valor é 73% maior do que arrecadou (e gastou) Biden: US$ 69 milhões.
Outros candidatos que já desistiram da disputa, como Michael Bloomberg e Tom Steyer, até gastaram mais que Sanders — US$ 464 milhões e 271 milhões, respectivamente —, mas quase a totalidade desses valores era provenientes da fortuna dos próprios políticos e não de doações individuais, de acordo com o último relatório do FEC.
Apoio à esquerda
Sanders também já conseguiu apoio de outros pré-candidatos que deixaram a disputa democrata, como Bill de Blasio e Marianne Williamson. Em março, um dos líderes da luta pelos direitos civis nos EUA, o reverendo Jesse Jackson, também anunciou seu apoio à campanha do senador.
Além disso, Sanders tem ao seu lado três figuras populares na ala mais à esquerda do partido no Congresso: as deputadas Alexandria Ocasio-Cortez, latina, e as muçulmanas Ilhan Omar e Rashida Tlaib.
Especialistas apontaram o anúncio das três como uma forma de a campanha de Sanders responder uma das principais críticas de quatro anos atrás: a falta de diversidade, um empecilho na hora de engajar eleitores que não sejam brancos.
Socialista autodeclarado
Bernie Sanders se define como um “socialista democrata”. Durante um discurso em 2019, deu a sua explicação do quis dizer: assim como a Declaração de Direitos dos EUA (nome pelo qual são conhecidas as 10 primeiras emendas à Constituição americana) garante direitos civis e liberdades individuais, o senador afirma que todas as pessoas também devem ter direitos econômicos básicos.
Em sua concepção, esses direitos são acompanhados de cuidados de saúde de boa qualidade, boa educação, um bom trabalho com um salário suficiente para viver de forma digna e um meio ambiente limpo.
Exemplos que se encaixam nessa definição de socialismo democrata de Sanders o sistema nacional de saúde do Canadá, o programa nacional de creches da França e o amplo estado de bem-estar social da Suécia.
“Precisamos reconhecer que no século 21, nos países mais ricos da história do mundo, direitos econômicos são direitos humanos”, disse Sanders. “É isso que eu quero dizer com socialismo democrata.” (Com informações de Reuters e CNN).