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    Partido Comunista Chinês abre congresso que deve garantir terceiro mandato de Xi Jinping

    Na assembleia de 2018, os congressistas aprovaram uma mudança na constituição de derrubou o limite de dois mandatos para o chefe de Estado da China

    Marcelo Favallida CNN

    Neste domingo, no horário de Pequim, começa o congresso do partido comunista chinês. A reunião de dois mil representantes do povo é uma das maiores assembleias políticas do mundo. O evento acontece a cada cinco anos, e dita os rumos do país que pretende ultrapassar os Estados Unidos na corrida pela hegemonia econômica do planeta.

    O principal anúncio deve acontecer mais perto do encerramento do encontro, no próximo fim de semana: a reeleição do atual presidente Xi Jinping. Não se trata de nenhuma surpresa. Na assembleia de 2018, os congressistas aprovaram uma mudança na constituição de derrubou o limite de dois mandatos para o chefe de Estado. Mais tempo no poder permite que Xi avance com seu projeto mais ambicioso: a “Nova Rota da Seda”.

    Formalmente apresentado em 2013 como “One Belt One Road” – algo como “Um Cinturão e uma Estrada”, em tradução livre – o programa integra 145 países em todos os cinco continentes. O plano remonta à antiga “Rota da Seda”, que não apenas conectou civilizações por meio de rotas comerciais entre a China e a Itália, como ajudou no florescimento de grandes cidades, tanto no Oriente quanto no Ocidente, por causa do fluxo de mercadorias.

    “Trata-se do mais ambicioso projeto de política externa do século XXI. Por trás disso há um projeto comercial, mas também há uma ideia de intercâmbio cultural. Claramente isso tem a ver a disputa hegemônica entre China e Estados Unidos, nas próximas décadas”. A explicação é do professor em Relações Internacionais da FACAMP e pesquisador da USP Pedro Donizete da Costa Júnior.

    Marcos Caramuru, que foi cônsul-geral do Brasil em Xangai, a capital financeira da China, corrobora as afirmações e explica que a economia é o que vai garantir o poder e a presença de Pequim no mundo. O diplomata destaca três aspectos importantes na chamada “Iniciativa Um Cinturão e uma Estrada”: os recursos financeiros, a capacidade das empresas chinesas em realizar investimentos estrangeiros e o desenvolvimento tecnológico.

    Caramuru lembra, ainda, que na gestão de Xi Jinping foi criado o Banco Asiático de Infraestrutura para – justamente – garantir financiamento aos países emergentes que precisam ampliar os recursos de transporte a fim de integrar a tal “Nova Rota da Seda”. O efeito secundário desta parceria proposta pela China é o endividamento que recairá aos governos mais pobre na África e no Sudeste Asiático. “Acho que esse processo passará por várias revisões ao longo do tempo. Mas ele (o projeto) é o grande indutor da integração chinesa com os vizinhos, sobretudo àqueles menos desenvolvidos”, conclui Caramuru.

    O que também vai pautar o terceiro mandato consecutivo de Xi Jinping são as relações com Hong Kong e Taiwan. Uma parte expressiva dos moradores dos dois territórios – especialmente os de Taiwan – exigem mais autonomia e menos interferência do partido comunista, em Pequim. Por outro lado, o presidente Xi disse repetidas vezes que vai respeitar o princípio de um país e dois sistemas, em referência ao fato de que ambos os territórios têm seus respectivos parlamentos e códigos próprios de leis. A frase do líder é uma declaração indireta à ideia de manter todas as províncias unidas sob o mesmo governo.

    O domínio sobre Hong Kong e Taiwan está diretamente ligado ao projeto de expansão econômica da China. Hong Kong, por exemplo, se tornou em uma importante praça bancária, sem falar na posição litorânea estratégica para a exportação e importação. Não à toa, é ali que fica um dos portos mais movimentados do mundo. Por sua vez, Taiwan – que tem aspirações de independência ainda mais fortes – hoje é o principal fornecedor mundial de supercondutores. Os componentes são essenciais para a indústria, principalmente a de tecnologia.

    “A China diz que a forma mais razoável para resolver a questão de Taiwan é uma decisão deliberada de Taiwan de incorporar a China. Eu não acredito que a China venha a fazer algo mais agressivo, neste momento, por duas razões: primeiro porque ela precisa passar ao mundo uma ideia de responsabilidade internacional. A China está tentando se promover como um líder internacional. E segundo, pela questão dos supercondutores, que a China tanto precisa”, resume o diplomata Marcos Caramuru, minimizando o risco de uma eventual invasão militar de Taiwan por parte dos chineses.

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