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    Parlamento tailandês bloqueia candidatura de vencedor das eleições parlamentares

    Pita Limjaroenrat, do partido oposicionista Move Forward, venceu as eleições com largar margem e assumiria o cargo de primeiro ministro, após quase uma década de governos apoiados pelos militares

    Kocha OlarnDuarte Mendonca

    O parlamento tailandês bloqueou a nomeação para primeiro-ministro do vencedor das eleições nacionais de maio, Pita Limjaroenrat, na quarta-feira (19), um golpe para seu partido de oposição progressista após quase uma década de governo apoiado pelos militares.

    Dos 715 parlamentares presentes, 394 votaram pelo bloqueio da segunda indicação, 312 votaram a favor, oito se abstiveram e um – o próprio Pita – não votou, segundo o presidente da Câmara.

    Ele foi suspenso temporariamente como legislador pelo tribunal constitucional do país após uma denúncia apresentada pela Comissão Eleitoral contra o líder do Partido Move Forward (Siga em Frente, em tradução livre), acusando-o de violar as leis eleitorais por supostamente deter ações de uma empresa de mídia.

    Pita negou ter infringido as regras eleitorais e anteriormente acusou a Comissão Eleitoral de levar o caso à Justiça.

    O partido Move Forward prometeu profundas reformas estruturais na forma como o país do Sudeste Asiático de mais de 70 milhões de pessoas é administrado: mudanças nas forças armadas, na economia, na descentralização do poder e até mesmo reformas na monarquia anteriormente intocável.

    A eleição de maio, que teve um comparecimento recorde, foi uma repreensão poderosa ao establishment apoiado pelos militares que governa a Tailândia desde 2014, quando o então chefe do exército Prayut Chan-o-cha tomou o poder em um golpe.

    A decisão do tribunal e do parlamento provavelmente colocará lenha na fogueira da jovem base de apoio do Move Forward, com potencial para protestos de rua em massa.

    A plataforma de mudança do partido provou ser extremamente popular, com o partido ganhando de longe a maior parcela de assentos. Um grupo de partidos da oposição formou então uma coalizão com o objetivo de formar um governo de maioria e apresentou Pita como candidato a primeiro-ministro.

    Pita, ex-aluno de Harvard de 42 anos, chamou a coalizão de “a voz da esperança e a voz da mudança” e disse que todos os partidos concordaram em apoiá-lo como o próximo primeiro-ministro da Tailândia.

    Vantagem do establishment

    Na semana passada, Pita falhou em garantir votos parlamentares suficientes para se tornar primeiro-ministro em um sistema político que foi criado pela junta anterior e favorece fortemente o establishment monarquista e conservador que há muito detém as alavancas do poder.

    Na Tailândia, um partido ou coalizão precisa conquistar a maioria de 375 assentos nas câmaras baixa e alta do parlamento – atualmente 749 assentos – para eleger um primeiro-ministro e formar um governo.

    Mas o establishment conservador tem uma vantagem inicial. O Senado não eleito de 250 membros foi nomeado pelos militares sob uma constituição pós-golpe e já votou em candidatos pró-militares.

    O primeiro-ministro tailandês e candidato derrotado do Partido das Nações Unidas da Tailândia, Prayut Chan-o-Cha / Lillian Suwanrumpha/AFP/Getty Images

    Pita recebeu apenas 324 votos dos 376 necessários para obter a maioria e o reino continua sem primeiro-ministro enquanto a disputa política continua.

    Ele se dirigiu ao parlamento na quarta-feira para se despedir, enquanto a investigação está em andamento.

    “Em virtude de o Tribunal Constitucional me ter ordenado a suspensão temporária do meu mandato, aproveito esta oportunidade para me despedir do Sr. Presidente, até nos voltarmos a encontrar”, disse Pita no parlamento.

    “Gostaria de pedir aos meus colegas que continuem usando o sistema parlamentar para cuidar do povo. Acho que a Tailândia já mudou e não vai voltar atrás desde 14 de maio”. A decisão do tribunal agora ameaça seu status de legislador.

    O poderoso establishment conservador da Tailândia – um mix de militares, monarquia e elites influentes – tem um histórico de bloquear mudanças fundamentais no status quo.

    Nas últimas duas décadas, o Tribunal Constitucional da Tailândia decidiu repetidamente a favor do establishment, dissolvendo vários partidos que desafiavam a elite política. Os militares também têm um longo histórico de derrubar governos democraticamente eleitos e tomar o poder em momentos de instabilidade. A Tailândia testemunhou uma dúzia de golpes bem-sucedidos desde 1932, incluindo dois nos últimos 17 anos.

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