Países seguem com retirada de pessoas do Sudão em meio a conflitos
Mais de 420 pessoas morreram e 3.700 ficaram feridas nos combates que começaram na semana passada, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS)
Potências estrangeiras resgataram funcionários de embaixadas e cidadãos durante os combates do Sudão, mesmo quando muitos sudaneses estão presos em condições de deterioração.
O Reino Unido disse que conseguiu retirar sua equipe diplomática do país neste domingo (23), com vários outros países europeus tentando fazer o mesmo.
As forças especiais dos Estados Unidos ajudaram a trazer quase 100 pessoas – a maioria funcionários da embaixada, bem como um pequeno número de profissionais diplomáticos de outros países – para um local seguro no sábado, disseram autoridades.
As evacuações foram complicadas pelos confrontos em andamento. Os dois lados no centro de mais de uma semana de combates – o exército do Sudão e um grupo paramilitar chamado Rapid Support Forces (RSF) – culparam um ao outro depois que um comboio de evacuação francês foi atacado tentando deixar o Sudão. Um cidadão francês ficou ferido.
O Ministério das Relações Exteriores do Egtio disse que um membro da equipe da embaixada egípcia no Sudão foi baleado durante uma operação de evacuação.
A enxurrada de operações de resgate aconteceu no nono dia de confrontos em Cartum.
O líder militar do Sudão, general Abdul Fattah al-Burhan, e o comandante da RSF, tenente-general Mohamed Hamdan, assumiram o controle do país em um golpe militar em 2021 e deveriam entregar o poder a um governo civil, mas se voltaram contra um ao outro em vez disso.
Mais de 420 pessoas morreram e 3.700 ficaram feridas nos combates, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). A situação humanitária está se deteriorando, com pouco acesso a serviços médicos e com muitas pessoas com falta de comida e água.
Com o principal aeroporto internacional ainda fechado, muitos civis sudaneses estão presos em suas casas ou lutando para encontrar rotas de saída do país através de fronteiras terrestres. Um cessar-fogo convocado para o feriado muçulmano Eid al-Fitr foi quebrado.
Moradores de Cartum disseram à CNN na manhã de domingo que não havia sinais de que a cessação das hostilidades estava sendo cumprida, após acordarem com ataques aéreos, explosões e tiros. Eles relataram que os confrontos ocorreram em torno do quartel-general militar e do palácio presidencial, no centro da cidade.
Operações “complexas e rápidas”
Apesar do aumento dos combates e dos riscos acentuados, os governos estrangeiros continuam a anunciar missões de resgate e planos para retirar seus cidadãos.
O Reino Unido concluiu uma evacuação “complexa e rápida” de diplomatas britânicos e suas famílias em meio a “ameaças aos funcionários da embaixada”, disse o primeiro-ministro Rishi Sunak.
O Ministério das Relações Exteriores da França disse que uma “operação de evacuação rápida” de pessoal diplomático e cidadãos franceses do Sudão estava sendo coordenada com seus parceiros europeus e aliados. Holanda, Bélgica, Noruega e Alemanha disseram estar em meio a várias operações.
Enquanto isso, o parlamento da Suécia, o Riksdag, autorizou até 400 soldados para ajudar na evacuação de cidadãos suecos e estrangeiros. A Espanha estava trabalhando “intensamente” para conseguir uma pista de pouso para aviões, para evacuar com segurança os cidadãos espanhóis, disse uma fonte do governo à CNN.
O Egito alertou seus cidadãos nacionais fora de Cartum “a irem ao ponto mais próximo deles em preparação para sua evacuação pelas autoridades egípcias competentes”, de acordo com um comunicado do Ministério de Relações Exteriores.
A Turquia atrasou seus esforços no domingo, alertando os cidadãos a não se reunirem em pontos de reunião designados que planejavam usar, devido a “explosões violentas” que ocorreram nas proximidades.
Cidadãos americanos no Sudão foram avisados de que poderiam se juntar aos comboios de evacuação organizados pelos Emirados Árabes Unidos e pela Turquia na manhã de domingo, desde que trouxessem seus próprios veículos, de acordo com um e-mail do Departamento de Estado.
A mensagem deixou claro que os americanos se juntariam aos comboios por sua própria conta e risco. Há cerca de 16 mil americanos no Sudão – a maioria dos quais com dupla nacionalidade.
Situação dos sudaneses é delicada
Enquanto os governos estrangeiros correm para retirar seus cidadãos e funcionários, milhões de sudaneses foram deixados à própria sorte – presos por dias em suas casas e sem saber como sair em segurança.
Isma’il Kushkush, um jornalista sudanês-americano em Cartum, ficou preso por dias com 29 moradores, incluindo crianças e estrangeiros, em um prédio no centro perto do palácio presidencial.
“Sem energia ou água por cinco dias, usando pouca água restante no tanque, ficando sem comida. Impossível sair do prédio que fica a duas quadras do palácio presidencial, epicentro da luta desde o início do conflito”, disse ele em uma série de mensagens de texto à CNN. Ele saiu posteriormente do prédio com segurança.
Em grupos de bate-papo do WhatsApp e nas redes sociais, outros deliberavam sobre aonde obter água, carregar telefones, encontrar médicos e passagens seguras para sair de Cartum.
Uma mulher de 30 anos, que pediu para não ser identificada por motivos de segurança, disse à CNN que conseguiu fugir para o Egito de ônibus. Ela disse que foi levada a fazê-lo pela piora das condições na capital.
Embora sua família tivesse um gerador e eles fossem capazes de fornecer água para as casas em sua vizinhança, não estava claro por quanto tempo seriam capazes de continuar, ou quando a onda de confrontos poderia trazer os combatentes à sua porta.
“Foi um caso de ficarmos e corrermos o risco de morrer de fome. Ou ser morto por uma bala perdida? Decidimos arriscar”, disse ela, acrescentando que ouviu falar de pessoas sem comida e água morrendo em suas casas. “Achamos que éramos alvos fáceis, abrigados em nossas casas”.
Um grupo de parentes dela, incluindo dois bebês e uma senhora idosa com uma condição médica grave, encontrou um motorista de ônibus disposto a levá-los ao Egito. Eles partiram na sexta-feira pela manhã e chegaram à fronteira no sábado à noite.