Órgão eleitoral britânico investiga reforma em apartamento de Boris Johnson
Comissão diz que há motivos razoáveis para suspeitar sobre a forma como a renovação de £ 200 mil (R$ 1,5 milhão) foi custeada; premiê nega irregularidades
A Comissão Eleitoral do Reino Unido disse nesta quarta-feira (28) estar convencida da existência de motivos para suspeitar que um delito possa ter ocorrido durante a reforma do apartamento em Downing Street pelo primeiro-ministro Boris Johnson.
Oito dias antes das eleições locais em toda a Inglaterra, bem como da eleição das assembleias regionais de Gales e da Escócia, Johnson enfrenta uma série de críticas que vão desde sua confusa gestão inicial da crise da Covid-19 a perguntas sobre quem vazou informações de seu escritório.
“Estamos agora convencidos de que há motivos razoáveis para suspeitar que um delito ou delitos possam ter ocorrido”, disse a comissão, órgão independente que supervisiona as eleições e regula as finanças políticas. “Vamos, portanto, continuar este trabalho como uma investigação formal para estabelecer se este é o caso.”
A comissão disse que está em contato com o Partido Conservador de Johnson sobre o assunto desde o final de março. E que não faria mais comentários sobre o caso até que a investigação fosse concluída.
A investigação determinará se quaisquer transações relacionadas às obras no número 11 de Downing Street se enquadram no regime regulado pela comissão e se tal financiamento foi relatado conforme necessário.
Questionada no mês passado sobre a reforma, a porta-voz de Johnson disse que todas as doações, presentes e benefícios foram devidamente declarados e que nenhum dinheiro do Partido Conservador estava sendo usado para pagar a reforma.
Johnson tem um subsídio de £ 30 mil (R$ 226 mil) financiado pelos contribuintes a cada ano para manter e mobiliar sua residência oficial, mas qualquer valor acima disso deve sair do bolso do próprio primeiro-ministro.
Os ministros disseram que Johnson pagou pessoalmente pela obra, mas não está claro quando ele pagou e se a reforma, que custou cerca de £ 200 mil (R$ 1,5 milhão), foi inicialmente financiada por algum tipo de empréstimo.
Oposição elogia investigação
Em nota divulgada nesta quarta-feira (28), o Partido Trabalhista afirmou que a investigação sobre a reforma do apartamento do premiê é bem-vinda.
“Não devem ser deixadas pedras sobre pedras para descobrir quem está financiando o estilo de vida luxuoso do primeiro-ministro e o que eles podem esperar em troca”, disse a opositora Cat Smith.
Ela cobrou também que o governo britânico publique documentos e notas fiscais relacionadas a este assunto.
“O governo deve aproveitar esta oportunidade para publicar imediatamente o Registo dos Interesses Financeiros dos Ministros.”
Entenda o caso
Em comparação com a Casa Branca, residência presidencial dos EUA, ou com os vários palácios presidenciais espalhados pelas capitais do mundo, os aposentos do primeiro-ministro britânico em Londres são relativamente humildes.
Os líderes tradicionalmente vivem em um apartamento acima do número 10 de Downing Street – seu gabinete de governo –, mas os recentes primeiros-ministros mudaram-se para o apartamento maior ao lado, no número 11 – acima do escritório do secretário do Tesouro.
Mesmo assim, o apartamento está longe de ser espaçoso. Os prédios em Downing Street consistem em escritórios apertados e corredores estreitos, e os primeiros-ministros não têm luxo em suas residências oficiais.
Johnson está sob pressão há semanas para explicar como pagou pela reforma de seu apartamento, que os meios de comunicação britânicos informaram ter custado cerca de £ 200 mil (R$ 1.5 milhão).
Essas reformas foram supostamente supervisionadas pela noiva de Johnson, Carrie Symonds. Mas seu ex-conselheiro, Dominic Cummings, que deixou o cargo em 2020, alegou em um post em um blog que Johnson planejava fazer com que os doadores do Partido Conservador pagassem a obra.
Nesse caso, o empréstimo teria de ser declarado à Comissão Eleitoral. Doações e empréstimos políticos são rigidamente controlados no Reino Unido, com empréstimos de mais de £ 7.500 (R$ 56 mil) registrados e divulgados publicamente pela comissão quatro vezes por ano.
(Com informações da Reuters e da CNN)