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    Órgão da ONU diz que retomada de atividade nuclear na Coreia do Norte causa preocupação

    Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea) relata sinais de atividade no reator nuclear de 5 megawatts no Centro de Pesquisa Científica Nuclear de Yongbyon

    Líder da Coreia do Norte, Kim Jong Un
    Líder da Coreia do Norte, Kim Jong Un Foto: KCNA via Reuters (7.mar.2021)

    François MurphyJosh Smithda Reuters

    A Coreia do Norte parece ter reiniciado um reator nuclear que se acredita ter produzido plutônio para armas nucleares, disse a Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea), um órgão da Organização das Nações Unidas (ONU), em um relatório anual. O documento destaca os esforços do país isolado para expandir seu arsenal.

    Os sinais de operação do reator de 5 megawatts (MW), capaz de produzir plutônio para armas, foram os primeiros a serem detectados desde o final de 2018, disse a agência na última sexta-feira (27).

    “Desde o início de julho de 2021, há indícios, incluindo descarga de água de resfriamento, consistente com a operação”, diz o documento. Segundo o relatório, estas atividades foram identificadas no reator em Yongbyon, um complexo nuclear no coração do programa nuclear da Coreia do Norte.

    A produção de mais plutônio poderia ajudar a Coreia do Norte a fabricar armas nucleares menores para caber em seus mísseis balísticos, disse David Albright, presidente do Instituto de Ciência e Segurança Internacional. “O resultado final é que a Coreia do Norte deseja melhorar o número e a qualidade de suas armas nucleares”, disse.

    Embora dados sobre as armas nucleares norte-coreanas sejam limitados, tornando impossível saber seu número, Albright estimou que o país tem capacidade para produzir material para quatro a seis bombas por ano.

    A agência não tem acesso à Coreia do Norte desde que Pyongyang expulsou seus inspetores em 2009. Na sequência, o país avançou com seu programa de armas nucleares e logo retomou os testes nucleares. O último teste nuclear foi em 2017.

    A Aiea agora monitora a Coreia do Norte de longe, principalmente por meio de imagens de satélite. São estas imagens que mostram descarga de água, apoiando a conclusão de que o reator está funcionando novamente, disse Jenny Town, diretora do projeto 38 North, com sede nos Estados Unidos, que monitora a Coreia do Norte.

    “Não há como saber por que o reator não estava operando anteriormente – embora o trabalho esteja em andamento no reservatório de água durante o ano passado para garantir água suficiente para os sistemas de resfriamento”, disse ela.

    Segundo Jenny, o momento da ativação do reator soa “estranho” já que chuvas podem provocar enchentes nas próximas semanas e a água pode chegar ao local. “O momento parece um pouco estranho para mim, dada a tendência de enchentes nas próximas semanas ou meses que podem afetar as operações do reator.”

    No ano passado, o projeto 38 North disse que as enchentes de agosto podem ter danificado casas de bombas ligadas a Yongbyon, destacando o quão vulneráveis os sistemas de resfriamento do reator nuclear são diante de eventos climáticos extremos.

    As chuvas sazonais trouxeram inundações em algumas áreas este ano, segundo a mídia estatal, mas ainda não houve relatos de ameaças ao Centro de Pesquisa Científica Nuclear de Yongbyon.

    Yongbyon é peça-chave para Coreia do Norte

    Em uma cúpula de 2019 no Vietnã com o então presidente dos EUA Donald Trump, o líder norte-coreano Kim Jong Un se ofereceu para desmantelar Yongbyon em troca de alívio de uma série de sanções internacionais sobre armas nucleares e programas de mísseis balísticos.

    Na época, Trump disse que rejeitou o acordo porque Yongbyon era apenas uma parte do programa nuclear do Norte e não era uma concessão suficiente para justificar o afrouxamento de tantas sanções.

    O governo do presidente dos EUA, Joe Biden, disse que estendeu a mão aos norte-coreanos para oferecer negociações, mas Pyongyang disse que não tem interesse em negociar sem uma mudança na política dos Estados Unidos.

    “Há muito tempo não existe um acordo governando essas instalações”, disse Joshua Pollack, pesquisador do Centro James Martin para Estudos de Não Proliferação (CNS).

    Em junho, a Aiea sinalizou indícios de possível trabalho de reprocessamento em Yongbyon para separar o plutônio do combustível usado do reator.

    No relatório da última sexta-feira, a agência disse que a duração de cinco meses desse aparente trabalho, de meados de fevereiro ao início de julho, sugere que um lote completo de combustível usado foi manuseado, em contraste com o menor tempo necessário para tratamento ou manutenção de resíduos.

    “As novas indicações do funcionamento do reator 5MW e do laboratório radioquímico [reprocessamento] são profundamente preocupantes”, disse o relatório. Os dados presentes no documento foram divulgados sem aviso prévio.

    O relatório também aponta que houve indícios de atividades de mineração e concentração em uma mina de urânio em Pyongsan, e atividades em uma suspeita instalação de enriquecimento secreto em Kangson.

    “É uma aposta segura que a Coreia do Norte pretende usar qualquer plutônio recém-separado para armas”, disse Pollack, acrescentando que em um discurso neste ano Kim deu uma longa lista de armas avançadas em desenvolvimento, incluindo mais bombas nucleares. “Parece que o apetite da Coreia do Norte por ogivas ainda não foi saciado.”