Opositor russo é condenado a 25 anos de prisão após criticar guerra na Ucrânia em entrevista à CNN
Vladimir Kara-Murza, um proeminente defensor dos direitos humanos na Rússia, foi detido há um ano horas após tecer críticas ao “regime de assassinos” do presidente russo, Vladimir Putin
Vladimir Kara-Murza, um proeminente defensor dos direitos humanos russo e crítico do Kremlin, foi condenado a 25 anos de prisão após condenar publicamente a guerra na Ucrânia, informou a agência de notícias estatal russa TASS, nesta segunda-feira (17).
Ele estava sendo julgado por crimes que incluíam traição, divulgação de notícias falsas sobre o exército russo e facilitação de atividades de uma organização indesejável.
A Rússia criminalizou as críticas aos militares após a invasão em grande escala da Ucrânia. O tribunal disse que ele cumpriria sua sentença “em uma colônia correcional de regime estrito”.
Kara-Murza vai apelar da sentença, disse seu advogado, Vadim Prokhorov, à CNN nesta segunda-feira.
A detenção do ativista foi denunciada por organizações internacionais de direitos humanos e provocou sanções do governo Biden no mês passado.
A sentença desta segunda-feira chama mais a atenção para a repressão brutal de Putin contra a liberdade de expressão, que se intensificou desde que ele invadiu a Ucrânia em fevereiro do ano passado.
Kara-Murza há muito tempo critica Putin e sobreviveu a dois envenenamentos.
Em março de 2022, ele falou contra a guerra perante a Câmara dos Deputados do estado americano do Arizona e, em entrevista à CNN em abril de 2022, o dissidente político condenou o regime de Putin por visar os críticos. Ele foi preso pouco depois por “não obedecer às ordens da polícia”, segundo sua esposa.
A sentença provavelmente atrairá mais condenações internacionais a Putin. Na semana passada, Hugh Williamson, diretor da Human Rights Watch para Europa e Ásia Central, disse em um comunicado que o dissidente estava enfrentando pena de prisão por “não mais do que levantar sua voz e elevar as vozes de outros na Rússia que discordam do Kremlin, sua guerra na Ucrânia e sua crescente repressão na Rússia”.
O governo britânico criticou o que chamou de sentença “politicamente motivada”.
“Vladimir Kara-Murza denunciou bravamente a invasão da Ucrânia pela Rússia pelo que era – uma flagrante violação do direito internacional e da Carta da ONU. A falta de compromisso da Rússia em proteger os direitos humanos fundamentais, incluindo a liberdade de expressão, é alarmante”, disse o secretário de Relações Exteriores britânico, James Cleverly, nesta segunda-feira.
A acusação de traição na Rússia foi ampliada em 2012 para incluir consultas ou qualquer outra assistência a um estado estrangeiro, ou organizações internacionais.
Em março, os Estados Unidos impuseram sanções a vários indivíduos russos ligados ao que o Departamento do Tesouro chamou de “detenção arbitrária” de Kara-Murza e pediu sua “libertação imediata e incondicional”.
Na audiência final de seu julgamento na semana passada, Kara-Murza disse estar “orgulhoso” de suas opiniões políticas.
“Estou preso por minhas opiniões políticas; por se manifestar contra a guerra na Ucrânia, por muitos anos de luta contra a ditadura de Putin, por facilitar a adoção de sanções internacionais pessoais sob a Lei Magnitsky contra os violadores dos direitos humanos. Não só não me arrependo de nada disso, como tenho orgulho disso”, disse Kara-Murza.
A Lei Magnitsky, promulgada em dezembro de 2012, bloqueia a entrada nos EUA e congela os bens de certos funcionários do governo russo e empresários acusados de violações dos direitos humanos. A lei foi posteriormente expandida para dar escopo global à legislação com foco na Rússia.
Kara-Murza disse que se culpava por não ter conseguido convencer o suficiente seus “compatriotas” e políticos de países democráticos do perigo que o atual regime do Kremlin representa para a Rússia e o mundo.
Ele também expressou que espera “que chegue o dia em que as trevas sobre nosso país se dissipem”.
“Ainda hoje, mesmo na escuridão que nos cerca, mesmo sentado nesta cela, amo meu país e acredito em nosso povo”, acrescentou. “Acredito que podemos trilhar esse caminho”, concluiu.
* Darya Tarasova, Radina Gigova e Uliana Pavlova, da CNN, contribuíram para esta reportagem.