Opinião: Jovens colombianos tinham esperanças para governo de Petro, mas expectativas não duraram
Pouco mais de um ano depois de a Colômbia ter eleito o seu primeiro presidente de esquerda, a promessa de Gustavo Petro de transformar um dos países mais desiguais da América Latina está próximo de falhar
Há alguns anos, o distrito internacional onde moro era um centro criativo de caos harmonioso. A música pulsava em cada esquina. A sofisticação da capital colombiana era evidente desde suas magistrais bibliotecas até seus abundantes museus. As ruas cintilantes eram regularmente lavadas.
Hoje, o grafite ofusca a beleza da arquitetura barroca colonial de Bogotá. Jovens se reúnem em ruas cobertas de lixo. Cartazes segurados por manifestantes expressam indignação e determinação em lutar pela democracia da Colômbia, uma das mais antigas da América Latina. O aumento da violência evoca memórias do passado conflituoso do país.
Pouco mais de um ano depois de a Colômbia ter eleito o seu primeiro presidente de esquerda, Gustavo Petro, a promessa do antigo rebelde e ex-senador de transformar um dos países mais desiguais da América Latina está próximo de falhar, e acredito que as falsas promessas populistas do presidente representam um claro perigo para a democracia colombiana.
Não sou a única que teme a direção que a Colômbia está tomando. Na semana passada, milhares de colombianos em várias cidades marcharam pela saída de Petro ou por uma ação judicial sobre os seus crimes e escândalos. Foi a segunda manifestação da “Marcha da Maioria” neste verão, aumentando a lista crescente de manifestações anti-Petro.
Entre as muitas preocupações dos jovens manifestantes com quem conversei, estão o aumento da violência e o escândalo político de alto perfil do filho mais velho de Petro, Nicolas Petro, recebendo de um traficante de drogas condenado grandes somas de dinheiro. Entre as diversas fontes de dinheiro ilícito, algumas foram para os bolsos de Nicolas e as restantes para a campanha política.
Contudo, o próprio presidente colombiano negou ter conhecimento de atividades ilegais.
Antes de Petro, a Colômbia foi governada por décadas por partidos liberais e conservadores, que faziam parte da direita política colombiana mais ampla.
Apesar dos últimos anos de progresso econômico e social, a desigualdade no país andino inspirou grupos guerrilheiros e de esquerda, apoiados pelo narcotráfico, a tolerar a violência como um meio para o que consideram um fim maior.
As mensagens da campanha de Petro sobre o apoio às populações pobres e marginalizadas tiveram grande apelo para muitos jovens colombianos e eleitores de primeira viagem, na esperança de que ele representasse um passo em direção à mudança.
No entanto, a realidade agora é sombria. As reformas de Petro estagnaram no Congresso e o seu índice de desaprovação subiu de 20% para 61% em um ano, de acordo com uma sondagem recente realizada em cinco grandes cidades, uma presidência continuamente sobrecarregada com manifestações de rua em massa.
Petro respondeu organizando suas próprias manifestações, insistindo que o povo colombiano é realmente a favor dele. Mas e os jovens colombianos, que, como eu, estão preocupados com o rumo que Petro está tomando no país?
Ivan Oros, de 28 anos, votou em Petro em 2022 porque “inicialmente gostei da ideia de mudança”, ele me disse. Um ano depois, ele está menos certo de que o presidente tenha cumprido as suas promessas de campanha.
De sua cidade natal, La Primavera, Ivan me mostrou por um vídeo do WhatsApp a paisagem densamente arborizada de sua região, Vichada, na fronteira leste com a Venezuela.
Uma área conhecida pelo intenso narcotráfico, os rebeldes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) historicamente controlavam a maior parte da economia, fronteira e selvas do local.
Até anos recentes – quando um período de relativa paz e estabilidade resultou de presidentes linha-dura que se recusavam a negociar com criminosos – o estado de direito era mera fantasia.
Ivan diz que a violência agora está ressurgindo, apesar da promessa de Petro de “paz total” entre as forças armadas colombianas e os guerrilheiros apoiados pelo narcotráfico.
O pai de Ivan era agricultor e sua mãe trabalha “em todos os empregos que consegue encontrar”.
Ele sabia desde muito jovem que queria frequentar a universidade, e teve que estudar muito para conseguir uma bolsa — por meio de um programa criado durante o governo de Juan Manuel Santos — para a Universidade de Pamplona, uma universidade pública de 30 mil alunos, a 34 horas de ônibus da casa de Ivan. Hoje, ele estuda comunicação social.
Ivan disse que se sentiu atraído por Petro porque “ele sempre teve uma mensagem sobre como gerar educação gratuita de qualidade para os jovens. Acredito que se você educar os jovens, você educa um país e então poderá fazer muitas coisas boas”.
Quando mencionei que a educação na Colômbia já era gratuita antes da chegada de Petro ao poder, ele admitiu: “É verdade, nos últimos dois anos começou o programa ‘Matricula Cero’ do ex-presidente Ivan Duque”.
Embora tais programas já existissem, Ivan esperava que o novo presidente de alguma forma encorajasse os jovens de áreas rurais como a sua a aproveitá-los.
No mês passado, Petro ratificou e assumiu o crédito pelo programa “Matricula Cero” de Duque, criado em 2021 e, que até 2022, fornecia educação gratuita irrestrita a todos os colombianos de classe baixa e média.
Um porta-voz da Organização Colombiana de Estudantes disse ao jornal “El Tiempo” que a nova versão da lei, na verdade, aumentará as barreiras de acesso, limitando-o aos alunos registrados no SISBEN, um sistema de classificação que exige registro antes de receber benefícios sociais.
Agora Ivan diz que está indeciso sobre Petro após o escândalo de lavagem de dinheiro envolvendo o filho dele, Nicolas, que ele chamou de “extremamente ruim”.
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De volta a Bogotá, conheci Ariel Ricardo Armel, de 29 anos, no pátio de uma cafeteria Juan Valdez. Ele teme que as reformas do Petro “transformem a Colômbia na Venezuela”.
Ariel acredita que Petro está seguindo um manual autocrático semelhante ao de Hugo Chávez. O falecido presidente venezuelano assumiu o poder em 1998, fez promessas aos pobres, nacionalizou os programas de saúde e pensões e mudou a Constituição para expandir os poderes presidenciais. Seu sucessor, o presidente Nicolás Maduro, continuou as políticas chavistas que destruíram a economia venezuelana.
“A reforma sanitária de Petro destruiria anos de progresso”, me disse Ariel. A reforma proposta nacionalizaria o sistema de saúde da Colômbia, desmantelando o sistema público/privado existente e colocando-o sob controlo presidencial. O sistema de saúde da Colômbia já está entre os melhores e mais equitativos do mundo. A OMS classificou-o em 22º entre 191 países desenvolvidos.
Em junho, Ariel e quatro amigos criaram o grupo “Marcha da Maioria” no WhatsApp. Fui incluído no grupo e testemunhei como ele explodiu em um grande movimento em poucas semanas, no WhatsApp, Twitter, Instagram e, eventualmente, nos meios de comunicação.
Em 19 de junho, segundo estimativas da polícia, 92 mil colombianos foram às ruas em 20 cidades do país e oito cidades estrangeiras para marchar contra as reformas do presidente.
Para Ariel, os sinais de que Petro é um aspirante a ditador são claros. “O tema da intimidação da imprensa é muito forte”, disse ele, apontando para relatórios que ligam a campanha de Petro a “bots em veículos como o Twitter, para ameaçar e deslegitimar a imprensa colombiana, que Petro afirma pertencer a elites corruptas e narcotraficantes”.
Armando Duarte Galan, um dos cinco membros originais da Marcha pela Maioria, me disse: “Acho que a narrativa deveria mudar em torno da governabilidade de Petro e da legitimidade de sua Presidência. As acusações que deveriam ser feitas contra este presidente são bastante graves. As pessoas querem responsabilidade.”
Se a democracia de um país depende de seu povo, o coração da Colômbia ainda pulsa vigorosamente. A oposição no Congresso e as vozes apaixonadas da juventude colombiana indicam a sua esperança num futuro melhor. Espero que prevaleça antes que seja tarde demais.