OMS alerta para risco biológico no Sudão após tomada de laboratório nacional
Técnicos foram expulsos do Laboratório Nacional de Saúde Pública, que também contém suprimentos de sangue, porque o local foi apreendido por uma das partes em conflito
Os combates no Sudão diminuíram durante a noite desta segunda-feira (24) depois que o exército e uma força paramilitar rival concordaram com uma trégua de três dias, permitindo que mais sudaneses fugissem nesta terça-feira (25) e países estrangeiros retirassem seus cidadãos.
No entanto, a Organização Mundial da Saúde (OMS) disse que havia um “alto risco biológico” na capital Cartum depois que uma das partes em conflito tomou um laboratório nacional contendo agentes causadores de doenças como sarampo e cólera e expulsou os técnicos.
O conflito que eclodiu entre o exército e os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (RSF) em 15 de abril transformou áreas residenciais em zonas de guerra, matando pelo menos 459 pessoas, ferindo mais de 4.000 e cortando água, energia e alimentos em uma nação já dependente de ajuda.
Países estrangeiros retiraram funcionários de embaixadas de Cartum, a capital, após vários ataques a diplomatas, incluindo o assassinato de um adido egípcio baleado a caminho do trabalho. Alguns países também estão retirando seus cidadãos.
Na terça-feira, o Reino Unido lançou uma evacuação em larga escala de seus cidadãos em voos militares de um aeródromo ao Norte de Cartum. A França e a Alemanha disseram que retiraram cada uma mais de 500 pessoas de várias nacionalidades e que um comando francês foi atingido por fogo cruzado durante a operação.
Famílias sudanesas também aproveitaram a calmaria para sair de suas casas, depois de mais de uma semana de combates intensos, para procurar transporte para levá-los a um local seguro, temendo que o êxodo de estrangeiros deixasse os locais em maior risco.
“Talvez o momento mais difícil seja pensar em deixar o país”, disse Intisar Mohammed El Haj, moradora de Cartum, que disse que seus filhos se esconderam sob as camas do som das explosões antes de a família fugir para o Egito.
Dezenas de milhares partiram nos últimos dias para os vizinhos Chade, Egito, Etiópia e Sudão do Sul, apesar da incerteza das condições lá.
A situação dos que permanecem no terceiro maior país da África, onde um terço dos 46 milhões de pessoas precisava de ajuda antes mesmo da violência, está se deteriorando rapidamente. Alguns expressaram consternação com a partida de algumas agências de ajuda internacional e diplomatas.
O escritório humanitário das Nações Unidas (ONU) disse na terça-feira que cortou as atividades devido aos combates.
Corpos nas ruas
Um morador de Cartum, que não quis se identificar, disse temer que, com menos observadores internacionais, as forças combatentes mostrassem menos respeito pelos civis.
Falando a repórteres em Genebra via link de vídeo do Sudão, Nima Saeed Abid, da OMS, disse que técnicos foram expulsos do Laboratório Nacional de Saúde Pública, que também contém suprimentos de sangue, porque o local foi apreendido por uma das partes em conflito, que ele se recusou a nomear.
“Essa é a principal preocupação: não ter acessibilidade para os técnicos de laboratório irem ao laboratório e conterem com segurança o material biológico e as substâncias disponíveis”, afirmou.
Yassir Arman, uma figura importante na coalizão política civil Forças para a Liberdade e Mudança (FFC), pediu às organizações humanitárias e à comunidade internacional que ajudem a restaurar a água e a eletricidade e enviem geradores para hospitais.
“Há corpos espalhados pelas ruas e pessoas doentes que não conseguem encontrar remédios, nem água nem eletricidade. As pessoas deveriam poder enterrar seus mortos durante o cessar-fogo”, afirmou.
Alimentos, água potável, remédios e combustível são escassos, disseram agências da ONU, e as comunicações e a eletricidade são limitadas, com os preços subindo vertiginosamente. Moradores relataram que uma passagem de ônibus para o Egito aumentou seis vezes, para US$ 340.
(Com informações de Kylie MacLellan, em Londres, e Kiyoshi Takenaka, Kantaro Komiya, Nobuhiro Kubo, Mariko Katsumura e Elaine Lies, em Tóquio, e Emma Farge em Berna; roteiro de Michael Georgy e Frank Jack Daniel; edição de William Maclean)