O que se sabe sobre o caso de piloto acusado de tentar desligar motores durante voo nos EUA
Suspeito enfrenta dezenas de ações criminais, incluindo tentativa de homicídio e ato imprudente
Um piloto fora de serviço foi detido após supostamente tentar interromper o fluxo de combustível para os motores de um avião da Alaska Airlines em pleno voo nos Estados Unidos. Agora, ele enfrenta dezenas de ações criminais, incluindo tentativa de homicídio e ato imprudente.
Identificado pelas autoridades como Joseph D. Emerson, de 44 anos, ele também trabalha na companhia aérea em que aconteceu o incidente. Segundo a empresa, a rápida ação do capitão e de um integrante da tripulação evitou que os motores parassem de funcionar completamente. Além disso, o suspeito foi contido pela tripulação.
Segundo a companhia, ele estava em um “assento auxiliar” na cabine, no qual pilotos viajam quando há capacidade máxima ou se deslocam entre aeroportos.
Com o incidente, a aeronave, que iria para São Francisco, teve que desviar a rota para a cidade de Portland, no Oregon, também nos Estados Unidos, onde o suspeito foi levado sob custódia pela polícia.
Possível causa e ações criminais
No estado do Oregon, Emerson enfrenta 83 ações criminais de tentativa de homicídio, 83 ações de perigo imprudente e uma ação sobre colocar uma aeronave em perigo, segundo registros. Ele também enfrenta uma ação federal de interferir com tripulantes e comissários de voo, de acordo com o gabinete do procurador dos EUA.
Ele é esperado para comparecer em tribunal na tarde desta terça-feira (24) por causa dessas acusações. Os registros online não listam um advogado de Emerson.
Os investigadores não acreditam que o incidente tenha sido um ato de terrorismo ou violência com motivação ideológica, disse Josh Campbell, uma fonte policial a par da apuração do caso.
Assim, autoridades trabalham com a possibilidade que ele tenha tido um “episódio de saúde mental” e estão se preparando para que a Justiça ordene uma avaliação do estado psicológico do suspeito como parte do processo judicial, disse a fonte.
Ele também pode enfrentar mais ações em âmbito federal
O que aconteceu?
Após decolar da cidade norte-americana de Everett, em Washington, com destino a São Francisco, no domingo (22), o voo 2059 da Alaska Airlines, operado pela companhia regional Horizon Air, relatou uma “ameaça à segurança relacionada a um piloto da Alaska Airlines fora de serviço, identificado como Capitão Joseph Emerson, que estava viajando no voo assento rebatível no convés”.
Os pilotos às vezes viajam em um “assento auxiliar” na cabine quando viajam em capacidade máxima ou se deslocam entre aeroportos.
Enquanto estava na cabine, Emerson tentou desligar os dois motores do Embraer 175 puxando as alavancas do extintor de incêndio, disse a companhia aérea.
“O sistema de supressão de incêndio consiste em uma alça em formato de “T” para cada motor, e, quando puxada, uma válvula na asa se fecha para desligar o fluxo de combustível para o motor”, explicou a Alaska Airlines em comunicado.
“Depois de serem puxados, um pouco de combustível residual permanece na linha de transmissão”, adicionou a nota.
A empresa destacou que a rápida reação da tripulação ao reajustar ambas as alavancas ajudou a restaurar o fluxo de combustível e evitar o corte dos motores.
“Nossa tripulação respondeu sem hesitação a uma situação difícil e altamente incomum, e estamos extremamente orgulhosos e gratos por suas ações habilidosas”, afirmou o comunicado.
O avião estava em altitude de cruzeiro, que geralmente ocorre quando a aeronave atinge entre 9.100 e 12.400 metros no ar, quando o incidente ocorreu, informou o capitão Mike Karn, gerente de segurança de voo da American Airlines.
Em seguida, a tripulação deteve o suspeito e o avião foi desviado para o Aeroporto Internacional de Portland, em Oregon, também nos Estados Unidos.
Ele ainda tentou agarrar a alavanca de uma saída de emergência durante a descida do avião, de acordo com um comunicado do gabinete do procurador dos EUA no Oregon. Entretanto, um comissário de bordo o deteve.
“Acho que ele foi contido”, disse um dos pilotos do avião no áudio do controle de tráfego aéreo gravado pelo LiveATC.net. “Fora isso, queremos a aplicação da lei assim que pousarmos”, acrescentou.
Assim que o voo chegou em Portland, por volta das 18h30, no horário local, o suspeito foi levado sob custódia por policiais de Portland. Nenhum ferimento foi relatado no voo, segundo o FBI, o serviço de inteligência e segurança dos EUA.
Posteriormente, todos os passageiros puderam voar para São Francisco, o destino original da aeronave, com uma nova tripulação e avião, ressaltou a companhia aérea, observando que está “entrando em contato com cada um deles individualmente para discutir sua experiência e verificar seu bem-estar”.
Investigação do FBI
Joseph D. Emerson está no Centro de Detenção do Condado de Multnomah, detido sem fiança, enquanto o FBI e a polícia de Portland investigam o incidente, informaram as autoridades.
O escritório de campo do FBI em Portland confirmou que realiza uma apuração do caso em um comunicado na segunda-feira (23) e garantiu aos viajantes que “não há ameaça contínua relacionada a este incidente”.
A Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos (FAA, na sigla em inglês) pontuou que está apoiando as autoridades locais na investigação.
A FAA também confirmou que outras companhias aéreas estão a par dos detalhes preliminares do incidente e que o o caso não está relacionado com “os acontecimentos mundiais atuais”, aparentemente referindo-se à guerra entre Israel e o Hamas.
Passageiros fazem relato à CNN
Dois passageiros do voo disseram à CNN que a tripulação da companhia aérea manteve um ambiente calmo no avião durante o incidente.
Aubrey Gavello, uma das pessoas que estavam no avião, ressaltou que não percebeu que algo estava errado até que um comissário anunciou pelo alto-falante que o avião precisava pousar imediatamente.
“Não sabíamos onde estávamos pousando e não sabíamos o que havia de errado. Mas a comissária de bordo nos garantiu que estávamos seguros”, relatou Gavello à CNN.
Mais tarde, o piloto informou aos passageiros por meio do alto-falante que tinha ocorrido uma “perturbação no cockpit”, comentou Alex Wood, que estava sentado na parte da frente no avião.
Wood disse que estava usando fones de ouvido e dormiu durante o incidente. “Eu estava perto da cabine, mas nada me acordou. O barulho não era alto o suficiente para me acordar”, explicou. “Tudo foi muito bem conduzido”, adicionou o passageiro.
Cerca de cinco policiais embarcaram no avião após o pouso e escoltaram o suspeito para fora da aeronave, lembrou Gavello. Ela notou que ele estava calmo e cooperativo e tinha as mãos presas por braçadeiras.
Depois que Emerson foi retirado do avião, um comissário anunciou no alto-falante que “ele teve um colapso mental”, segundo Gavello.
Ambos afirmaram que não perceberam a gravidade da situação, vendo apenas depois as manchetes sobre o suspeito tentando desligar os motores do avião.
“Sinceramente, estou grato por não sabermos de nada quando eles nos colocaram em um segundo avião. Não sei se me sentiria confortável fazendo isso se estivéssemos a par do ocorrido, destacou Gavello.
“Foi muito chocante”, diz vizinho do suspeito à CNN
Ed Yee, vizinho do piloto Joseph D. Emerson, disse à CNN que foi “muito chocante” saber do que ele foi acusado. “Ele parece ser um cara muito legal. Nada de anormal nele”, adicionou.
Emerson trabalha na aviação há pelo menos duas décadas, segundo informações compartilhadas pela Alaska Airlines. Ele ingressou na companhia em 2001, como primeiro oficial da Horizon. Em 2012, deixou a Horizon e ingressou na Virgin America como piloto.
Depois que a Alaska Airlines adquiriu a Virgin America, em 2016, Emerson tornou-se o primeiro oficial da Alaska e trabalhou mais de três anos para se tornar piloto da companhia aérea, de acordo com o comunicado da empresa.
“Ao longo de sua carreira, Emerson completou suas certificações médicas obrigatórias da FAA, de acordo com os requisitos regulatórios, e em nenhum momento suas certificações foram negadas, suspensas ou revogadas”, ponderou a Alaska Airlines.
O suspeito fez seu exame médico mais recente pela FAA no mês passado, segundo os registros. Ele possui atestado médico de primeira classe, o mais alto nível concedido pela agência, que exige exames semestrais para pilotos com 40 anos ou mais.
Os registros da Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos mostram que Emerson possuía certificação de piloto de linha aérea com qualificação para voar no Airbus A320, Boeing 737, Canadair Regional Jet e De Havilland Dash 8.
Ele não possuía certificação para voar no ERJ 175, o avião em que aconteceu o incidente, ainda de acordo com os registros.
*publicado por Tiago Tortella, da CNN